No dia 10 de outubro, Dia Nacional da Luta Contra a Violência à Mulher, as alunas da UFF não tiveram motivos para comemorar
Por: Maria Eduarda Goulart
Foto: Maria Eduarda Goulart.
No último dia 10 de outubro, um aluno da Universidade Federal Fluminense foi detido pela polícia no campus do Gragoatá, em Niterói (RJ). O homem, acusado de assédio por estudantes da universidade, teve fotos suas circulando nos grupos de whatsapp dos alunos dias antes, com alertas a respeito de sua presença e supostas atitudes de importunação sexual.
Maria Clara Victorino, aluna de Produção Cultural na UFF, foi à delegacia testemunhar contra o estudante por conta de uma situação de um suposto desacato com uma funcionária do Restaurante Universitário, que teria ocorrido no mesmo dia. “Eu estava de costas, as meninas estavam à minha frente. Falaram, ‘Acho que é ele’. […] Ele sentou com uma garota que estava almoçando sozinha. As únicas coisas que eu vi, foi ele puxando o assunto sobre comida. Ela meio desconfortável, só acenando com a cabeça. […] Uma das servidoras foi falar com a menina. Depois disso, uma outra funcionária sentou na mesa ao lado, eu acho que tentando impedir que alguma coisa acontecesse. […] Elas disseram que viram ele alisando o braço da garota, disseram na delegacia, no depoimento também. […] E aí ele foi pra cima da funcionária, que falou com ela [a garota] no ouvido. Disse que ela estava sendo preconceituosa, que ela estava acusando ele de uma coisa que ele não fez. […] Só que ele foi numa postura muito agressiva pra cima dela. Ele também proferiu ofensas.”.
Maria Clara afirmou, ainda, que nenhuma vítima de assédio foi à delegacia naquele dia, o que culminou em nenhum boletim de ocorrência sendo aberto até então. “[…] Porque a denúncia de assédio não foi aberta. Porque não foram as vítimas que foram, eu fui como testemunha do suposto desacato, mas não foi considerado[pela polícia] desacato.”.
Desde então, os alunos têm divulgado diversas informações, entre elas a afirmação de que na mochila do acusado de assédio teria uma bomba peniana e uma caixa de remédios com sedativo de cavalo. Além disso, divulgaram também que ele teria sido detido pela polícia no dia anterior, por um motivo similar ao do ocorrido no dia 10. Maria Clara, no entanto, afirma que, de fato, ele tinha uma bomba peniana e uma caixa de remédios, mas que não haveria nenhum sedativo na bolsa. Dentro da caixa de remédios seria apenas um conjunto de alfinetes. Quanto a ele ter sido detido no dia anterior, a estudante de produção cultural alega que, na delegacia, os policiais falaram que tal ocorrência não estaria relacionada ao aluno da UFF.
Mais tarde naquele mesmo dia, o estudante retornou ao Restaurante Universitário, no período noturno, o que alavancou os debates sobre a segurança da universidade.
Em nota divulgada no dia 11 de outubro, a UFF repudiou o ocorrido e confirmou que o acusado era aluno da instituição. Afirmou, ainda, que o estudante seria afastado da universidade por 60 dias para apuração dos fatos. Ao final, a UFF alegou que estaria desenvolvendo uma seção na Ouvidoria da universidade dedicada a casos de violência de gênero .
Apesar disso, acusações de importunação sexual não são raras entre os grupos de alunos da UFF. Algumas semanas antes, denúncias informais de um homem que estaria seguindo alunas em seu carro e chamando elas para entrar no veículo circularam pelos grupos, por exemplo. O que surgiu inicialmente como maneira de alertar sobre possíveis casos de assédio, sobretudo a outras mulheres, se tornou uma espécie de rede de apoio e proteção dentro da universidade.
Marcella Reis, de 18 anos e aluna de Enfermagem na UFF, afirmou que, após os casos da semana do dia 10 de outubro, não se sente mais segura em andar sozinha pelos diversos campi em que tem aula na universidade. “[…] Depois desse caso do [suposto]assediador, eu comecei a ficar realmente assustada, com medo de andar sozinha em ambientes mais escuros. […] Eu e as meninas da minha faculdade, a gente se manda mensagem para não deixar nenhuma menina sozinha, em nenhum momento.”.
Já Bruna Azeredo, de 19 anos e aluna de Publicidade e Propaganda, relatou não se sentir segura em vestir determinadas roupas nos dias que frequenta a universidade. “Tem dia que eu não me sinto segura em vir com certas roupas, dependendo do lugar. […] Hoje é um dia que eu não venho de vestido ou de, tipo, short, porque eu não me sinto segura.”. Bruna disse, ainda, que um dos principais motivos para não se sentir segura é a falta de iluminação na universidade, destacando que, em sua opinião, faltam vigilantes espalhados pelos campi.
Segundo Luiz Ramos, Chefe da Divisão de Segurança da Superintendência de Operações e Manutenção da UFF(SOMA), a UFF tem um serviço de rondas programadas através de geolocalização nas áreas de maior vulnerabilidade e vigilantes motociclistas para dar velocidade em casos de ocorrências. Além disso, Luiz ainda ressaltou a presença de vigilantes femininas nos campi, que, de acordo com o Chefe da Divisão de Segurança, são importantes em situações de conflito que envolvam mulheres. Ademais, na mesma nota emitida pela UFF no dia 11 de outubro, a instituição ressaltou que foram implantados serviços de videomonitoramento nos campi, com o objetivo de melhorar a segurança local.
Desde o ocorrido no dia 10, organizações estudantis têm promovido debates e manifestações que objetivam combater os casos de assédio na UFF e cobrar atitudes da Reitoria. É válido lembrar que, de acordo com o Código Penal (art. 216-A), o assédio é considerado crime no Brasil. A universidade precisa de ações que não apenas remediem, mas que também evitem que situações do tipo continuem ocorrendo para garantir a segurança das estudantes mulheres.