Alô, Gragoatá!

Ciclistas tomam as ruas: o impacto das Nitbikes e das pedaladas em Niterói

Por Kerolin Ketany de Souza Pereira

Foto por Kerolin Ketany

É uma cena cada vez mais comum nas ruas da cidade Sorriso: trabalhadores, estudantes e moradores dividem as ciclovias, pedalando lado a lado. Uma parte deles, utiliza as bicicletas do sistema NitBike, enquanto outros seguem com suas próprias bicicletas. A escolha por uma vida mais leve e sustentável é habitual, atualmente muitas pessoas estão preferindo as duas rodas ao invés do engarrafamento e buzinas barulhentas. Essa decisão impacta a mobilidade urbana da cidade, que vem se reinventando todos os dias com iniciativas que colocam o cidadão Niteroiense no centro do planejamento urbano.

De onde surgiu o Nitbike?

O sistema de bicicletas públicas, NitBike, foi idealizado e lançado pela Prefeitura de Niterói, por meio da Coordenadoria Niterói de Bicicleta e Secretaria Municipal de Mobilidade e Infraestrutura em parceria com a empresa Serttel, que é responsável pela operação e manutenção do serviço. De acordo com Felipe Simões, coordenador do programa Niterói de Bicicleta, há aproximadamente 600 bicicletas em circulação e 60 estações ativas. Ele relata que a manutenção se tornou um dos maiores focos da gestão: “É como se 14 pessoas diferentes usassem a mesma bicicleta em um só dia. Naturalmente, o desgaste é maior e exige um cuidado intensivo”.

Felipe conta que há uma rotina diária de verificação das bikes, e que falhas, como o não destravamento ao tentar iniciar a viagem, têm sido enfrentadas com ações diretas junto à empresa operadora. “Nos últimos meses tivemos um pico nas chamadas viagens canceladas, que acontecem quando a pessoa tenta pegar a bicicleta e ela não sai da estação. Estamos trabalhando com a Serttel para resolver isso o mais rápido possível”, afirma.

Outro ponto destacado por Felipe é o impacto direto do programa na mobilidade urbana de Niterói. Ele afirma que, embora o número de ciclistas tenha aumentado consideravelmente, os acidentes envolvendo bicicletas se tornaram sete vezes menos prováveis. “Isso mostra que a cidade está se adaptando, que os motoristas estão mais atentos e que o próprio ciclista está mais habituado a ocupar a via com segurança. É uma mudança cultural em curso”, ele ressalta.

Foto por Kerolin Ketany

NitBike na prática: a experiência de Joyce

Joyce Karine Avelino, moradora de Niterói e estudante universitária, utiliza o sistema NitBike semanalmente para se deslocar até a faculdade, no campus do Gragoatá, após voltar do trabalho no Rio de Janeiro. Para ela, a bicicleta compartilhada se tornou uma alternativa prática, rápida e acessível. “Por ser gratuito e fácil de usar, não preciso esperar nada. É só pegar e ir. Isso facilita muito, especialmente depois de um dia cansativo no trabalho”, conta.                               

Segundo Joyce, o sistema tem um grande potencial, mas precisa de ajustes para acompanhar a demanda. “Sinto que, no início, eles foram ativos e eficientes, mas não adianta aumentar o número de bicicletas se elas não funcionam como deveriam.” Como sugestão, Joyce propõe a ampliação dos pontos de retirada e a criação de um sistema mais inteligente, que consiga detectar e sinalizar falhas rapidamente, desativando automaticamente as estações problemáticas. “É um projeto que funciona, mas que precisa funcionar melhor.”

Já Júlia Linhares, ao contrário de quem utiliza o sistema NitBike, pedala todos os dias com sua própria bicicleta, integrando os trajetos de casa até o trabalho, a faculdade e até a academia. “Uso para tudo o que eu preciso fazer ao longo do dia. A bike já faz parte da minha rotina”, conta. Para ela, pedalar é sinônimo de economia, liberdade e saúde. “Evito gastar com passagem, fujo do trânsito, chego mais rápido nos lugares e ainda me exercito. Adoro pedalar.”

Os desafios sobre duas rodas

Mas como nem tudo são flores, a segurança é um fator que pesa na rotina da ciclista, especialmente por ser mulher. Júlia costuma pedalar em horários de pico, como às 7h da manhã ou no fim da tarde, quando há mais fluxo de bicicletas. No entanto, ao sair da faculdade à noite, entre 21h e 22h, sente-se exposta. “As ruas ficam vazias. Às vezes vejo uma viatura, o que dá uma certa sensação de proteção, mas segura de verdade eu não me sinto. É difícil, principalmente pra gente que é mulher.”

Apesar das dificuldades, ela reconhece que há um esforço por parte da prefeitura e dos responsáveis pelo programa Niterói de Bicicleta em ouvir os ciclistas, mas critica a demora na resposta: “Sinto que até escutam, mas levam muito tempo pra agir. E Niterói tem muitos ciclistas”.

O que se vê nas ruas do município é um movimento coletivo, feito de trajetos curtos ou longos e batalhas diárias. Ainda não é fácil, ainda não é perfeito, mas é real. É sobre ter voz, ocupar espaço e mostrar que dá, sim, pra viver a cidade de outro jeito. Sobre duas rodas, muita gente já está construindo uma Niterói mais livre, mais rápida, mais consciente. O futuro já pedala pelas ruas de Niterói e cabe à cidade acompanhar esse ritmo.

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