Por Sofia Tarré
“Tenho visto mudanças nas ciclovias, mas não sinto que realmente fizeram um grande efeito na segurança e na facilidade de deslocamento pela cidade.” afirma a estudante e moradora da cidade niteroiense, Clara Araújo, quando questionada sobre as obras realizadas pela prefeitura nas malhas cicloviárias.
Em dois diferentes vídeos divulgados pela prefeitura em suas redes sociais, o prefeito Axel Grael aparece afirmando que “Niterói tem sido reconhecida como uma cidade amigas das bicicletas”, e que “Niterói tem feito um grande investimento no movimento de bicicletas, estando cada vez mais preparada para dar proteção aos ciclistas”. Apesar disso, no mesmo vídeo, o prefeito e vários outros civis que o acompanham aparecem andando de bicicleta nas vias destinadas a automóveis, devido à inexistência de ciclovias na região. A fala da ciclista Clara Araújo corrobora para o entendimento dessa problemática ao afirmar: “não me sinto segura na ciclovia, inclusive já quase sofri acidentes sérios por causa da falta de infraestrutura adequada e do desrespeitos dos carros em relação a ciclovia”.

Em julho de 2022, a prefeitura divulgou, através de seu site oficial um investimento que totalizaria o valor de R$10.128.078,80 para a realização de dois projetos, o primeiro a implantação da Ciclovia Parque da Lagoa de Itaipu. Já o segundo, teria como objetivo a construção de novas ciclovias nos bairros de Camboinhas, Itaipu, Itacoatiara, Serra Grande, Santo Antônio e Piratininga. Ambos os projetos com a intenção de ampliar o Sistema Cicloviário da Região Oceânica.
A promessa feita pela prefeitura foi de que no mês de outubro de 2023 as obras seriam finalizadas, mas no dia do lançamento dessa matéria, as obras não parecem nem perto de ter começado. E a pergunta que surge é: Para onde foi o dinheiro que seria investido nas ciclovias?
É importante frisar que a definição de ciclovia pela Companhia de Engenharia de Tráfego, CET, configura “pista de uso exclusivo de bicicletas e outros ciclos, com segregação física do tráfego comum”, e ciclofaixa tem como sua definição oficial “parte da pista de rolamento, calçada ou canteiro destinada à circulação exclusiva de ciclos, delimitada por sinalização específica”. No local das prometidas ciclovias nos bairros de Itaipu, por exemplo, não se pode encontrar vias que se encaixam nessa definição, mas se pode encontrar, ao invés, ciclofaixas. Para além disso, a ideia de uma Ciclovia Parque da Lagoa de Itaipu que ficaria localizada na Rua Osman Corrêa da Silva – Itaipu, Niterói, perto do número 399, nunca saiu do papel, visto que, na data desta matéria, nesta localidade se encontra uma horta comunitária.

A ideia inicial do projeto era de aumentar a malha cicloviária em Niterói para mais de 120 km. A prefeitura já afirmava que as ciclovias na cidade ocupavam uma malha de 63 km de extensão. Mas agora, após o, teórico, fim das obras, a prefeitura divulgou um novo projeto que visa aumentar a malha em 2,75 km, chegando a 83,75 km. Ou seja, após as obras que prometiam 100% de aumento na malha cicloviária, se teve um aumento de apenas 19 km, sendo esse, apenas 30% do valor prometido.
Apesar de ter sido um aumento considerável, esse não é ideal. Segundo dados da Pesquisa Nacional sobre o Perfil do Ciclista Brasileiro realizada em 2021, que entrevistou 10.767 pessoas, na cidade de Niterói 67,5% dos entrevistados afirmaram usar a bicicleta como principal meio de transporte na cidade e 55,4% dos entrevistados afirmaram que mais e melhores infraestruturas adequadas (ciclovias, bicicletários, sinalizações etc) faria utilizar a bicicleta com mais frequência.O mesmo é afirmado pelo ciclista e morador da cidade, Bernardo Azevedo, ao dizer que “As ciclovias atendem em baixo grau as minhas necessidades. Muitas vezes me vejo tendo que usar da calçada ou das ruas, tanto pelo estado precário dessas ciclofaixas quanto pela sua ausência”.
O mesmo foi dito por Wallace Moreira, professor de educação física e psicomotricista, que trabalha com o ciclismo e treina nas ciclofaixas da cidade. “As ciclovias não estão completamente interligadas, e possui um descaso grande do poder público, mal estado de conservação. Como por exemplo a ciclovia da lagoa de Piratininga tomada pelo mato”.
Como citado por Wallace, a falta de manutenção das infraestruturas voltadas para bicicletas, já existentes nas cidades, é uma das principais questões que aflige seus usuários. Muitas das ciclovias estão quebradas ou com buracos, o que pode afetar tanto a estrutura da bicicleta, como a segurança de quem as utiliza. Em outros casos, como mostrado nas fotos abaixo, as ciclofaixas, simplesmente acabam, deixando aos ciclistas a decisão de continuar o trajeto pela calçada, atrapalhando o fluxo de pedestres ou, pelo canto da via, se colocando em risco frente aos carros.



Segundo as leis de trânsito “Quando não houver ciclovia, ciclofaixa ou acostamento, a circulação de bicicletas deverá ocorrer nos bordos da pista de rolamento, no mesmo sentido de circulação regulamentado para a via, com preferência sobre os veículos automotores”. Apesar disso, a lei não garante segurança na hora da pedalada, visto que muitos motoristas dirigem em alta velocidade não respeitando a segurança do ciclista. Segundo dados da NiteroiCycling, em 2023 foram registrados 1.095 acidentes envolvendo ciclistas em Niterói, uma média de três acidentes por dia.
Como resultado dessa problemática muitos ciclistas acabam por realizar seu trajeto pela via exclusiva de circulação do BRT, o que garante maior fluidez no trajeto, mas coloca o ciclista sob muitos riscos.
“A implantação de ciclovias em uma cidade com trânsito intenso como Niterói é um processo complicado que leva tempo . A prefeitura de Niterói, através da coordenadoria Niterói de Bicicleta vem conseguindo avançar nessa implantação, mas ainda faltam muitas conexões para as ciclovias” afirma Marcelo Scancetti, profissional de educação física e ciclista de alta performance amador.
Houveram diversas tentativas de contato com a prefeitura, a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura e a Secretaria Municipal de Urbanismo e Mobilidade para entender sobre os projetos, e para onde foi o dinheiro investido se os resultados não foram observados completamente. Mas até a data de publicação desta matéria não houve nenhum retorno.