Mesmo com grande impacto na economia da cidade, comerciantes niteroienses enfrentam pouca atenção e valorização da prefeitura.
Por: João Vítor Matheus
Museu de Arte Contemporânea de Niterói; Foto: Jerson de Mello.
A alta temporada movimenta a economia de Niterói a partir de gastos com hospedagens, atrativos turísticos, comércio e alimentação, que ajudam diretamente os cofres públicos, além de ajudar trabalhadores do setor e na geração de empregos. No entanto, moradores, visitantes e trabalhadores do setor dizem que o cenário poderia ser melhor se a prefeitura incentivasse mais a prática, especialmente em regiões mais afastadas.
O período de alta temporada chegou nas principais cidades brasileiras, o verão – somado as férias escolares e as festas como réveillon e carnaval – fazem o número de visitantes aumentar em vários lugares, e, em Niterói, a situação não é diferente. Belezas naturais e culturais atraem visitantes de diversas partes do Brasil e do mundo. Mesmo com a cidade mais cheia, moradores aprovam a vinda de turistas. O representante comercial Cristian Brasil, morador de Niterói, comenta que considera válido esse movimento, pois ajuda na divulgação dos pontos turísticos e traz mais dinheiro para o município. Uma das principais formas de arrecadação por parte da prefeitura é por meio do ISS,um imposto municipal sobre serviços prestados em uma cidade, que é utilizado pelo governo municipal niteroiense sobre notas fiscais emitidas em hospedagens e em atividades turísticas. O imposto cobrado é de 2% no valor total do serviço.
Em 2023, de acordo com um relatório do observatório de turismo de Niterói,162.112 hospedagens fizeram o município arrecadar R$ 1.979.889,29 por meio do ISS. Em relação às atividades turísticas vendidas, a arrecadação foi de R$386.055,68, oriundos da venda de 20.230 atividades. Além desta influência direta aos cofres públicos, o turismo também ajuda comerciantes e trabalhadores informais que atendem diretamente os visitantes. Um relatório do observatório do turismo da UFF de março de 2022 apresenta uma média de gasto entre os turistas de R$298.71, sendo de R$271.14 de brasileiros e de R$326.27 entre estrangeiros. Esse consumo também ajuda a geração de emprego nestes setores: um relatório do Caged de 2023 mostra um saldo de 22 empregos no setor de serviços, 13 empregos no setor de alimentação e 9 empregos no setor de alojamentos. Esses dados mostram um potencial no turismo de Niterói, no entanto a reportagem apurou que algumas regiões de Niterói com potencial turístico ainda sofrem com falta de incentivo a esta prática.
Um dos principais atrativos turísticos é o MAC (Museu de Arte Contemporânea),localizado no Mirante da Boa Viagem, na beira da Baía de Guanabara. Desenhado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, faz parte de um complexo arquitetônico com outras construções assinadas pelo profissional e é de grande importância para atrair turistas interessados por arquitetura, visto que Niterói é a segunda cidade com mais obras deste arquiteto brasileiro. A estudante Júlia Faria, que estuda arquitetura na Alemanha, visitou com familiares do Rio de Janeiro o MAC justamente pelo formato arquitetônico único. Além disso, estar em um mirante também atrai visitantes interessados na vista. O turista Edson Mtsuo conta que já saiu de Campinas – São Paulo – onde mora, para o Rio de Janeiro diversas vezes, e decidiu atravessar a Baía de Guanabara para conhecer o MAC atraído pela vista que ouvia dizer ser a mais bonita do Rio de Janeiro. Além destes atrativos, o museu também oferece um amplo acervo cultural e artístico com exposições de variados âmbitos. Em Janeiro de 2024, destacou-se uma exposição sobre o campeonato da Viradouro, escola de samba de Niterói, no último carnaval do estado. Além do MAC, Niterói oferece outros instrumentos culturais, como o Museu Janete Costa de Arte Popular, que valoriza obras de artistas locais de diferentes regiões, e o Museu do Ingá.
Atrativos naturais fazem parte do sucesso da cidade, seja em lugares de contato com a natureza, ou trilhas com as belezas do litoral. Banhadas pelo oceano atlântico, as praias da Região Oceânica oferecem opções com águas mais tranquilas para quem busca ambientes sossegados para aproveitar com a família opções com água para prática de esportes, como o surfe. Um dos principais destaques da região oceânica de Niterói é o ambiente mais tranquilo para quem quer fugir da agitação do Rio de Janeiro, pois oferece uma segurança melhor ao turista em comparação com a capital Fluminense. A turista de São Paulo, Maria Carolina Rossi, relata que só tomou conhecimento desta praia devido à presença de familiares que moram na região, pois nunca viu nenhum tipo de divulgação do local na cidade onde mora. Segundo ela, Piratininga, assim como outras praias da região, mereciam uma maior atenção, pois oferecem belas paisagens com uma tranquilidade que não é vista em praias da capital fluminense, que são mais conhecidas mundialmente.
Opinião semelhante é vista pelos próprios moradores de Niterói que frequentam a praia. O marinheiro de Convés, Rafael Vieira, relata que vê uma maior divulgação por parte da prefeitura das praias banhadas pela Baía de Guanabara do que das praias da Região Oceânica. Destaca, ainda, que sente falta de uma maior recepção ao turista por parte dos comércios da região.
Praia de Piratininga, localizada na região oceânica de Niterói | Foto: Jerson de Mello
O comércio da região sofre com dificuldades de explorar o turismo devido a impasses com o governo municipal. O proprietário de um restaurante da orla da Praia de Piratininga, Anderson de Moura, relata que a prefeitura de Niterói atrapalha diretamente no exercício de suas atividades, especialmente na realização de eventos. Ele denuncia que em eventos de fins de semana que a prefeitura promove no bairro, como o Orla Gourmet, por exemplo, agentes de órgãos municipais impedem a realização de eventos próprios sem alguma justificativa. Segundo o proprietário, essa medida seria para impedir que algum evento se sobressaia em relação ao promovido pela prefeitura, que também acabam impedindo que os frequentadores cheguem até os comércios locais. Anderson diz que os eventos promovidos em seu estabelecimento atingem constantemente lotação máxima do espaço, de 425 pessoas. Grande parte deste público é composto de turistas que buscam um ambiente com músicas e alimentação para aproveitar uma noite. “Ontem (2 de janeiro de 2025), de 40 jogos de mesa, 29 mesas continham gringos e apenas 4 turistas brasileiros”, relata. Estes eventos ajudam financeiramente no empreendimento, que, como muitos comerciantes locais, dependem exclusivamente desta fonte de renda, além de seus funcionários. O espaço procura variar a temática dos atos sempre apresentado por artistas de Niterói, o que promove mais o município e ajuda artistas que dependem do seu trabalho a lucrar com o turismo. Anderson também comenta que a prefeitura de Niterói dificilmente chama estes artistas locais para eventos da prefeitura, o que prejudica este setor da sociedade a sobreviver de seu trabalho. “Os melhores músicos do Brasil são niteroienses e a prefeitura os esconde, só deixam a panelinha deles”, argumenta.