Professores e alunos da Universidade Federal Fluminense desenvolvem iniciativas para aumentar a aderência e a produtividade de maneiras nada convencionais
João Pedro Tomzhinski

Imagem aérea do Campus Gragoatá – Foto: https://www.maraey.com/pt/a-universidade-federal-fluminense-uff-assina-um-acordo-de-cooperacao-tecnica-com-a-idb-brasil/
Em um país onde mais da metade dos universitários desistem dos estudos antes de completar o curso, os métodos tradicionais de lecionar mostram-se ineficazes. Com base nisso, o professor Alexandre Farbiarz, do departamento de Comunicação Social da UFF, desenvolveu o projeto Commercium et Cognitionis(CetC). A ideia consiste num tipo de jogo, inspirado no sistema de RPG (role-playing game), que engloba o conteúdo programático da matéria Linguagens Visuais e Gráficas, obrigatória do primeiro período de jornalismo.
A proposta surgiu em 2017, começando com a gamificação e o sistema de regras, mas foi na pandemia que o professor se utilizou pela primeira vez de narrativas para aumentar o engajamento no EAD. Desta forma, surgiu a história de Magisterium, um reino medieval que é atacado por um dragão, Silentium. Os estudantes, chamados de especialistas da comunicação, têm o objetivo de derrotar a fera até o fim do período.
Toda semana são distribuídas aos alunos duas cartas, cada uma contendo um QR code que permite o acesso ao conteúdo da disciplina que está sendo trabalhado no período. O objetivo é desvendar um mistério utilizando destes conhecimentos. Após isso, os alunos devem preparar uma pequena apresentação sobre como realizaram a tarefa, trazendo conhecimentos adquiridos através de pesquisas feitas por eles. Se a atividade da semana for bem cumprida pela turma, mais um passo é dado na batalha contra o dragão.
“A ideia da gamificação é utilizar das mecânicas de jogo para conseguir mais motivação, mais engajamento e, especialmente, mais foco na disciplina para trabalhar as competências. O meu objetivo principal é desenvolver competências nos alunos.” – Farbiarz, quando perguntado sobre os pontos positivos do ensino gamificado.

Reprodução: Arquivo da disciplina de Linguagens Visuais e Gráficas. Um dos “feitiços” semanais a serem resolvidos pelos alunos.
A maioria dos alunos relatam que nunca tiveram nenhuma experiência parecida no ambiente de ensino, encontrando dificuldades iniciais para entender a proposta da disciplina. Porém mesmo com as turbulências, o resultado costuma ser positivo.
“Eu estou pegando essa matéria após 6 períodos de faculdade e é a primeira vez que eu me deparo com uma disciplina igual à do Farbiarz. Eu achei interessante e desafiador. Eu não sou uma pessoa que gosta de jogos, mas é interessante porque é aplicar a teoria e os conhecimentos dados na aula em algo que eu nunca havia experimentado.” – Gabriella Gomes, aluna de Farbiarz em 2023.2
O projeto de Farbiarz transcende os limites das suas disciplinas. Além dos diversos graduandos e alunos de pós-graduação que se juntaram ao professor para desenvolver outros meios de ensino gamificado, outros professores do departamento se inspiraram para criar seus próprios games educativos.
“O professor Pedro me procurou há dois semestres. Ficou encantado com o meu jogo e resolveu fazer um jogo de tabuleiro online. Tinha um mapa do Brasil e os alunos eram repórteres e tinham que cobrir matérias. O resultado foi bastante legal” – Farbiarz, sobre o professor de jornalismo internacional da UFF, Pedro Aguiar.

Cartas utilizadas no projeto Commercium et Cognitionis – Reprodução: Mídias sociais de estudantes
Saindo da bolha da comunicação social, um dos maiores ramos estudantis da Universidade, o IEEE-UFF, também têm buscado maneiras criativas de aumentar a aderência e engajamento de novos integrantes. A ideia é utilizar de temáticas da cultura pop nos processos seletivos.
As duas últimas aberturas de vagas tiveram temas bem interessantes: as sagas de Jogos Vorazes e Percy Jackson. A estudante de publicidade e integrante da equipe de marketing do projeto, Daniela Samadori, contou um pouco da importância dessas ações:
“A instituição IEEE é internacional, está presente nos Estados Unidos, Ásia, Paraguai e diversos outros locais. É uma instituição muito séria que a gente não consegue fugir muito dos padrões. Então nós aproveitamos das temáticas do processo de seleção para obter uma forma de comunicação muito mais descontraída entre os docentes e discentes. Além disso, tem pessoas que só procuraram saber mais da gente por causa da temática de Percy Jackson, o número de fãs é muito grande.”

Início do processo seletivo com a temática de Percy Jackson – Reprodução: Redes sociais do IEEE-UFF
A tarefa de inovar em projetos acadêmicos é extremamente desgastante, porém ao mesmo tempo recompensadora quando bem executada. As ações apresentadas representam uma pequena fração dos projetos criativos e inovadores desenvolvidos na UFF nos últimos anos, basta ver os cartazes espalhados pela universidade. O importante é evoluir academicamente!