Alô, Gragoatá!

Cultura de mão em mão: a importância dos sebos de Niterói

Como esse tipo de comércio impacta na realidade universitária e promove a democratização do acesso ao conhecimento

Por Lívia Doutel de Andrade Bártholo

Sebo O Livreiro de Icaraí – Foto: Lívia Bártholo

Você já visitou um sebo? Esses ambientes, que trabalham com a compra e a troca de livros usados, são essenciais para a preservação da cultura local. Por apresentarem um acervo variado, que conta inclusive com exemplares que não estão mais em circulação, essas livrarias conseguem atrair um público diversificado. Dentre seus principais frequentadores, um grupo se destaca: os universitários. 

Rebeca Amaral, estudante de Relações Internacionais da UFF, comenta sobre a relevância que tais ambientes têm na sua formação: “Em sebos se consegue garimpar leituras menos óbvias e em formatos diversos com a mesma riqueza para consulta. Principalmente no entorno da UFF, as estantes são muito direcionadas a áreas das ciências, então é tão fácil encontrar qualquer teórico clássico quanto pesquisadores mais recentes de algum assunto.”

O relato de Rebeca não é isolado. Segundo Marcella Diniz, proprietária da Livraria Sebo Republicana, localizada no centro de Niterói, os universitários representam a maior parte de seus clientes. Para Marcella, a proximidade de seu estabelecimento com algumas faculdades promove esse maior contato com os estudantes.

Fachada Livraria Sebo RepublicanaFoto: Lívia Bártholo

Porém, não é apenas a questão locacional que atrai esse público. Conforme apontado por Fátima Valença, uma das administradoras do sebo O Livreiro de Icaraí, o preço dos livros, que é muito mais acessível quando comparado ao de uma livraria convencional, representa o principal atrativo. “Muita gente que não estava conseguindo comprar livro passou a comprar. Nós conseguimos livros em bom estado, praticamente novos, e com um preço muito bom.”

Somada a proximidade à faculdade e ao valor mais convidativo, a dinâmica de atendimento nos sebos, que possui uma certa informalidade e conta com a realização de eventos próprios, também contribui para a sua manutenção. “Além da falta de burocracia e código, os sebos ainda têm o recurso de consulta aos livreiros, cultura quase em extinção junto às livrarias tradicionais” pontua Rebeca. “Em Niterói, marcada pela população estudantil, os sebos acabam como extensão da universidade, como espaço firmado de circulação de assuntos científicos, acadêmicos e sociais”.

Fachada do sebo O livreiro de Icaraí Reprodução – Foto: Lívia Bártholo

Além da universidade : sebos como símbolos da cultura niteroiense

Não só os universitários são beneficiados pela presença dos sebos. Para Carlos Henrique Juvêncio, professor do Departamento de Ciência da Informação da UFF, esses ambientes preservaram a história da cidade e promovem uma rede de circulação de experiências :  “No sebo você consegue se relacionar não só com pessoas, mas com os livros que trazem restos, rastros, vestígios de leitura.”

Ademais, a reutilização do livro evita o consumo de novos exemplares, o que favorece a preservação do ambiente e fortalece uma lógica de sustentabilidade. Conforme o relato de Marcella, “os sebos representam para os moradores de Niterói uma possibilidade de adquirir mais cultura”. O papel desses espaços para a democratização do acesso ao conhecimento é enorme e por isso sua existência deve ser sempre valorizada – não apenas pelos estudantes.  

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