Referência em qualidade de vida, Niterói apresenta contrastes marcantes entre áreas centrais e bairros periféricos.
Por Gabriel Guimarães
Niterói, conhecida pelo alto índice de qualidade de vida e infraestrutura robusta, frequentemente figura como destaque nos rankings estaduais e nacionais. A cidade lidera o estado do Rio de Janeiro em diversos aspectos como limpeza urbana, governança, geração de emprego e Qualidade de Vida, fatores que contribuem para a satisfação dos moradores. Contudo, para usufruir dessa qualidade, os niteroienses enfrentam um custo de vida que exige planejamento e adaptações.
Em julho deste ano, a cidade foi avaliada com o melhor desempenho do estado do Rio de Janeiro no Índice de Progresso Social Brasil 2024 (IPS Brasil). A pesquisa considera três áreas: necessidades humanas básicas, fundamentos do bem-estar e oportunidades. “Este índice leva em conta dados sociais e ambientais. Trabalhamos para que a cidade cresça economicamente, mas sempre priorizando a distribuição de renda e a justiça social. Temos essa preocupação quando elaboramos nossas políticas públicas. É fundamental que toda a população de Niterói se beneficie com o desenvolvimento da cidade”, repercutiu o prefeito de Niterói, Axel Grael.
Vista do Museu de Arte Moderna (MAC) — Foto: Evelyn Clen
A queridinha das cidades
Conforme o levantamento, Niterói ultrapassa a média nacional em indicadores de qualidade de vida, o que é refletido na satisfação dos moradores, mas também nos valores elevados de aluguel, alimentação e transporte. Em áreas centrais como Icaraí e São Francisco, onde se concentram serviços de alta qualidade e infraestrutura completa, o preço do metro quadrado é significativamente maior do que o de bairros como Barreto ou Fonseca. Esse custo, contudo, é compensado para muitos pela segurança e a boa rede de serviços públicos que a cidade oferece, além de um ambiente de valorização cultural e lazer.
A segurança, frequentemente elogiada pelos moradores e destacada nos índices, torna-se um ponto atrativo para quem busca tranquilidade e estabilidade, principalmente famílias e idosos. Em termos de mobilidade, a cidade apresenta desafios, como trânsito intenso e frequente que afeta quase toda a totalidade do município.
Natural de Niterói, Samantha Sydow, de 34 anos, nasceu e viveu até o início da vida adulta entre os bairros do Fonseca e Santa Rosa, em Niterói. Ao começar a trabalhar, atravessou a Baía de Guanabara e se mudou para a cidade do Rio de Janeiro. Por lá, ao longo de mais de dez anos, passou por bairros como Lapa, Glória, São Cristóvão e Centro do Rio, até retornar para sua cidade natal no início deste ano. “Niterói me passa uma sensação de segurança… aqui parece menor em relação ao Rio, onde tudo é muito movimentado e violento, o que me deixava em constante estado de alerta. Os ônibus, ainda que caros, são refrigerados e têm a todo momento, diferente de lá. O aluguel e o mercado são caros, mas ainda assim mais baratos do que por onde morei no Rio”.
MAC — Foto: Evelyn Clen
Um levantamento de 2019 da Spin Inovações Imobiliárias, pode revelar um dos motivos que explicam a popularidade de Niterói. Em 2016, a cidade registrou o maior investimento per capita entre as 400 principais cidades do Brasil. Naquele ano, o valor investido por habitante em Niterói foi de R$ 776,59. Para efeito de comparação, no Rio de Janeiro, o investimento per capita no mesmo período foi de R$ 642,52, enquanto nas demais cidades do Sudeste a média ficou em R$ 241,00.
Praia de Icaraí — Foto: Lucas Chaves
Infraestrutura e segurança: contrastes entre o centro e a periferia
Contudo, esse investimento é sentido mais por uns do que por outros. Enquanto alguns bairros em regiões centrais ou litorâneas se destacam por sua infraestrutura, os mais periféricos, como Barreto, Fonseca e Engenhoca sofrem com a falta de visibilidade política. Nessas áreas, moradores frequentemente relatam deficiências em serviços essenciais, incluindo transporte público precário e menor cobertura de segurança.
A diferença na qualidade dos serviços reflete-se na sensação de segurança e bem-estar. Moradores dessas regiões lidam com desafios adicionais como a falta de manutenção urbana e a presença de áreas de risco, que ampliam as dificuldades do dia a dia e comprometem a percepção de qualidade de vida. Além disso, a limitação de espaços culturais e opções de lazer, muito concentrados nas áreas centrais, deixa esses bairros com poucas alternativas para atividades de convivência e recreação.
Terminal rodoviário intermunicipal de Niterói — Foto: Gabriel Guimarães
Custo alto, retorno desigual
Para muitos, essa desigualdade representa um desafio ao que significa morar em Niterói. Enquanto a cidade como um todo é considerada referência em qualidade de vida, a concentração de recursos e melhorias nas áreas privilegiadas faz com que essa realidade seja inalcançável para uma parte expressiva da população, como destaca Dona Josinete Amália, aposentada de 71 anos. “Morar aqui no Fonseca tem suas vantagens, mas o custo está bem puxado, viu? As coisas estão cada vez mais caras, desde o mercado até os remédios, e olha que a gente faz malabarismo para dar conta de tudo. Até tem ônibus com ar-condicionado, mas ainda assim a passagem não é barata, não. Toda hora aumenta sem melhorar, né? Um abuso! E o trânsito? Ah, é uma loucura! Nas horas de pico, então, a gente mal se mexe. A cidade cresceu demais, e parece que as ruas não acompanham o tanto de carro que tem agora”.
Para aqueles que avaliam a qualidade de vida em Niterói, a cidade oferece acesso a serviços de saúde, educação e lazer, elementos que fazem os moradores sentirem que o custo mais alto tem seu retorno em bem-estar e segurança. No entanto, as despesas elevadas podem ser um limitador para famílias de baixa renda, que frequentemente precisam buscar alternativas mais acessíveis em municípios vizinhos. Enquanto Niterói se consolida como referência de qualidade de vida, o desafio continua sendo tornar esse padrão acessível a todos os seus habitantes.