UFF se torna palco para expressão da cena ballroom niteroiense.
Por Matheus Lins

Na década de 1970, nos salões de baile do Harlem, Nova York, nasceu um movimento que desafiou as normas sociais e culturais da época: A cultura Ballroom. Criada por comunidades LGBTQIAPN+ e negras, foi a responsável por oferecer um espaço seguro para expressão, celebração e inclusão. Hoje, na Universidade Federal Fluminense, essa tradição de resistência e empoderamento continua viva, encontrando raízes profundas entre os estudantes que desafiam as normas e buscam promover uma cultura de aceitação e diversidade.
Crystal LaBeija desafiou normas racistas ao criar o primeiro baile exclusivo para drag queens negras em 1972, marcando o início das Houses, comunidades que ofereciam apoio e pertencimento para jovens LGBTQIAPN+ marginalizados.
As balls se tornaram espaços de segurança e expressão, permitindo que pessoas marginalizadas mostrassem sua elegância e habilidades sem medo de julgamento, tornando-se políticas em sua essência ao desafiar as normas sociais dominantes. O voguing, inspirado nas poses da revista Vogue, tornou-se uma parte central da cultura Ballroom, celebrando a diversidade e individualidade.
Além do voguing, as balls apresentam uma variedade de categorias, permitindo que os participantes expressem suas aspirações e identidades de maneiras criativas e autênticas. A cultura Ballroom continua a evoluir, acolhendo novas formas de expressão e corpos diversos, enquanto oferece um espaço de acolhimento, expressão e liberdade.
Anos se passaram e a cena ballroom continua viva e resistindo, inclusive na vida universitária, onde entram em destaque a Ballroom SGN e seus participantes.
João Lucas Laurindo (22), conhecido como Jota Laurindo, estuda Publicidade e Propaganda na UFF e faz parte da cena ballroom. Ele compartilha como a presença da cultura ballroom desafia as normas sociais e de gênero dentro da universidade, oferecendo um espaço de acolhimento e celebração para pessoas de todas as identidades.
Descoberta e Origens na Cena Ballroom
Jota foi introduzido à cena Ballroom por meio das atividades organizadas por Rothyer Kalil, uma figura pioneira e influente na comunidade Ballroom do Rio de Janeiro. Rothyer, que identifica-se como pessoa não-binária, lidera treinos semanais e aulas de Vogue Fem e Vogue Performance no campus da UFF, proporcionando um espaço para a expressão e integração.
Essa iniciativa, que resultou na Ballroom SGN, nasceu da necessidade de criar mais oportunidades para os membros da comunidade Ballroom de São Gonçalo e Niterói, proporcionando treinamentos e aulas acessíveis que promovem a diversidade e a inclusão.

Inclusão e Desafios na UFF
A presença da cultura Ballroom na UFF contesta os padrões sociais de várias maneiras. Em um país onde as identidades LGBTQIAPN+ ainda enfrentam muitos obstáculos, a comunidade Ballroom oferece um espaço seguro e acolhedor para pessoas de todas as origens.
No entanto, essa presença não se dá de maneira fácil. Jota destaca a necessidade de mais visibilidade e suporte dentro da universidade para promover a inclusão e o entendimento da cultura Ballroom. Ele menciona incidentes de apropriação cultural, como quando a organização de uma festa universitária usou elementos da cultura Ballroom sem compreender sua história e significado. Mais tarde, com a mobilização da comunidade, conseguiram reverter a situação e organizar uma festa com integrantes da cena ballroom na produção.
Promovendo a Diversidade e a Aceitação
A presença da cultura Ballroom na UFF contribui significativamente para promover a diversidade e a aceitação. Jota acredita que essa cultura é essencial para criar um ambiente universitário mais inclusivo, onde todos os alunos se sintam valorizados e respeitados independentemente de sua identidade de gênero ou orientação sexual.
Ele aspira a organizar eventos e atividades que aumentem a visibilidade da cultura Ballroom e promovam uma compreensão mais profunda na universidade. “A nossa presença é algo forte, porque a gente existe mas acaba sendo um pouco invisibilizado por não ter tanta estrutura, eu mesmo sou doido para conseguir produzir uma ball ali no novo IACS (Instituto de Artes e Comunicação Social), só que é aquilo, precisa de estrutura, precisa de dinheiro para contratar e chamar a galera, porque é um negócio que a gente quer fazer com excelência”. Jota acredita que, com mais visibilidade, a cultura Ballroom pode continuar a expandir e a inspirar uma mudança positiva na UFF e além!

Já Paula Cristina (21), estudante de Arquivologia na UFF, encontrou em uma expressão cultural vibrante uma fonte de paixão e inclusão: a cultura Ballroom. Para Paula, essa cena vai muito além de uma coreografia; é sobre carinho, amor e a celebração da diversidade individual, onde a história e as experiências de vida são compartilhadas tão livremente quanto os movimentos de dança. Ela destaca a importância de entender a origem dessa cultura, os fundadores das casas e os diferentes papéis desempenhados por seus membros. “…porque apesar de ser uma cultura que atualmente tá entrando em ascensão as pessoas estão conhecendo só a parte que veem na mídia. Acho importante as pessoas conhecerem a história disso tudo, quem fundou, as casas importantes, as pessoas e seus cargos, é tudo muito incrível, muito gostoso de estudar para aprender e a cena do Rio de Janeiro é muito importante pra isso acontecer”.
Paula descobriu as aulas de Vogue na UFF através de seu envolvimento com as aulas de Wallandra no Circo Voador, uma influente figura na cena da Ballroom do Rio de Janeiro. Ela foi apresentada ao programa por Rothyer, e rapidamente se viu imersa em um ambiente de integração e aprendizado.
O que atrai a estudante para essas aulas vai além da dança. É a oportunidade de conhecer pessoas de diferentes origens e integrar-se a uma comunidade que abraça a diversidade. “Além de conseguir aprender técnicas e formas diferentes de pensar, conseguir integrar com essas pessoas, eu acho a integração uma coisa importantíssima na ballroom, porque é muito sobre acolhimento, muito sobre conversar, conseguir ver pessoas, entender e compartilhar suas vivências, eu acho tudo isso base para todo esse ar de acolhimento funcionar.”
Promovendo a Diversidade e a Aceitação na UFF
Para além das já citadas questões sociais e de gênero, as aulas de Vogue na UFF promovem ativamente a diversidade e a aceitação. Ao oferecer um espaço seguro e inclusivo para pessoas de todas as identidades, essas aulas criam uma comunidade onde cada indivíduo é celebrado por quem é.
Paula acredita que essas formas de expressão ajudam a ampliar a aceitação na UFF, oferecendo um exemplo poderoso de como a diversidade enriquece o ambiente acadêmico. Ela espera que, com mais visibilidade e apoio, a cena Ballroom na UFF possa continuar a crescer e inspirar uma mudança positiva dentro e fora do campus.
Para Paula e outros membros da comunidade Ballroom, essa cultura vai muito além do vogue. É um movimento de inclusão e empoderamento que continua impactando vidas e desafiando as normas sociais em todo o mundo!