Torcedores da Viradouro estão confiantes para o próximo desfile na Sapucaí com novo apoio financeiro garantido pela prefeitura de Niterói
Por Eduarda Suzano

Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira Julinho Nascimento e Ruth Alves – Foto: divulgação Viradouro
O carnaval do Brasil é conhecido no mundo todo como a maior festa popular que existe. No Rio de Janeiro, além dos blocos de rua e festas que acontecem nesse período, os desfiles das escolas de samba são a grande atração dos 5 dias de folia. Para que tal celebração ocorra, as agremiações carnavalescas também contam com o apoio financeiro de seus municípios. Atualmente, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos do Viradouro é a representante de Niterói no Grupo Especial do Rio e receberá R$5 milhões da prefeitura niteroiense.
Prefeitura incentivará financeiramente Carnaval
Visando o crescimento da festa, a prefeitura de Niterói sancionou a lei 192/23 que prevê investimento financeiro no Carnaval – com calendário para pagamento pré-definido – e que será dividido em três parcelas mensais no período antes do Carnaval. A lei ainda estipula que o pagamento sofrerá reajuste anual de acordo com o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Assim, o total disponibilizado para a realização da folia em 2024 é de R$13 milhões, sendo que as escolas de samba que desfilam pelas séries especial, ouro e prata receberão R$8 milhões e os blocos de rua, cerca de R$2,3 milhões.

Vice-prefeito Paulo Bagueira sanciona Lei de Incentivo Financeiro ao Carnaval – Foto: Luciana Carneiro
Essa não é a primeira vez que a prefeitura niteroiense demonstra o apoio e o reconhecimento da importância dessa festa. Durante o mandato do ex-prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Crivella, as escolas de samba do Rio de Janeiro sofreram com a redução do investimento e chegaram a ficar sem subsídio no ano de 2020. Na contramão dessa medida, nesse mesmo ano, a prefeitura de Niterói disponibilizou R$2,5 milhões para a Viradouro, que foi consagrada campeã do Carnaval do Rio de Janeiro. Na ocasião, o então prefeito da cidade Rodrigo Neves destacou também a importância econômica do evento, pois além do seu cunho histórico e cultural, ele é responsável pela geração de emprego e renda e a atração de turistas para todo o estado.
Cobrindo o Carnaval carioca há mais de 30 anos, o jornalista Aydano André Motta ressalta a importância desse investimento que, agora, passará a ser garantido por lei. “Niterói larga na frente, porque ela transforma em obrigação do Estado – no sentido do ente público – fomentar a cultura das escolas de samba. No Rio de Janeiro, é uma velha demanda dos sambistas que o Carnaval passe a ser uma questão de Estado e não uma questão de governo. Qual é a diferença disso? O dinheiro já sai carimbado do orçamento, como é com a saúde, com a educação, com a segurança. Ter um dinheiro que o governante, qualquer que seja, é obrigado a investir naquele setor – no caso o Carnaval.”
Aydano também relembra que, segundo a Constituição, o Estado é responsável por viabilizar as diversas manifestações culturais: “Sem dinheiro público fica mais difícil mesmo, é verdade. Como fica mais difícil abrir museu, fica mais difícil fazer várias coisas, realizar eventos de outros gêneros musicais e artísticos… O estado tem obrigação de fomentar a cultura. Não é uma regalia do estado, um presente do Estado, é uma obrigação. Está na Constituição que a Cultura tem que ser fomentada pelo poder público. Então, não é uma regalia que o Estado está dando em dar dinheiro para escola de samba.”

Desfile da Viradouro, campeã do Carnaval de 2020 – Foto: Leandro Lucas e Renata Xavier
Além do título, em 2020, a escola se destacou nos últimos desfiles e acabou ficando com o vice-campeonato em 2023. ”A Viradouro é uma escola exemplar em vários aspectos. Hoje em dia ela é a mais organizada, das grandes escolas do Rio, é a mais profissionalizada. Ela também é a mais rica, porque ela tem uma subvenção muito generosa da prefeitura de Niterói – que é maior que a da prefeitura do Rio – e ela ainda tem a subvenção da prefeitura do Rio. Ela merece esses recursos, ela faz por merecer, mas as outras também fazem. Independe. Não é porque uma escola eventualmente não é bem administrada que ela não deve receber esses recursos. O que o poder público deve fazer é investir, cobrar, fiscalizar e monitorar o uso desse dinheiro – como em qualquer outra área, aliás.”
Carnaval: trabalho de um ano inteiro
É nesse sentido que a Viradouro tem se destacado nos últimos anos. Aliado à uma diretoria organizada, os torcedores da vermelho e branco de Barreto estão animados para o Carnaval de 2024. A organização para o próximo Carnaval começa poucos meses após o desfile. Não é atoa que os sambistas costumam dizer que Carnaval se faz o ano inteiro.
“Pra gente, que é sambista, o Carnaval não termina. A gente já tá em 2024! A expectativa é de um desfile muito bacana, um tema que traz a questão da nossa ancestralidade, das nossas raízes africanas. A gente já começou a trabalhar pra poder apresentar um espetáculo na Sapucaí.”
Cristiane de Lourenço, torcedora da Viradouro há mais de 10 anos

“Arroboboi, Dangbé” enredo para o carnaval de 2024 – Foto: Divulgação Viradouro
A divulgação do enredo do próximo ano, de autoria do carnavalesco Tarcísio Zanon, foi feita em maio. A agremiação irá retratar as crenças dos povos da região da Costa das Mina destacando o culto à serpente -Dangbé. Já as clássicas disputas de samba de enredo começaram no mês de agosto e a grande final aconteceu no dia 30 de setembro. Os ensaios na quadra são realizados religiosamente às terças-feiras e, a partir do dia 05 de novembro, os chamados “ensaios de rua” ocorrerão todo domingo na Av. Ernani do Amaral Peixoto, no centro de Niterói.
Para ouvir o hino de 2024, clique no link a seguir:
Para saber mais informações sobre os ensaios, acesse o Instagram @unidosdoviradouro ou visite o endereço da quadra da escola na Avenida do Contorno, nº 16 – Barreto.
Viradouro Patrimônio Cultural Imaterial de Niterói
Fundada em 1946, o reconhecimento oficial da sua importância cultural para a cidade veio apenas em 2022. A lei nº 3.706/2022 declara que a escola é patrimônio cultural imaterial de Niterói. Apesar disso, para quem frequenta uma escola de samba potência cultural existente é algo claro.
Cristiane também destaca a diversidade existente nesse espaço: “Então, a Viradouro, pra comunidade de Niterói, assim como as outras escolas, nas suas comunidades, nos seus bairros… [ela] é um equipamento de cultura, de sociabilidade, de confraternização, de respeito a essa ancestralidade. As escolas de samba são fundamentais nesse aspecto de abarcar crianças, jovens, adultos, pessoas idosas, pessoas com deficiência… é um grande espaço de sociabilidade e isso é muito importante!”
Outro caráter fundamental das agremiações são as oportunidades que nelas são oferecidas. Oficinas de percussão, dança, costura e canto fazem parte do programa do Instituto Viradouro, por exemplo. Os diretores de bateria Marcos Couto e Guilherme Vasconcelos são certeiros ao afirmarem que a função maior de uma escola de samba é a social. “Dentro de uma comunidade, muitos não tiveram acesso a livros, muita gente ainda não tem acesso à internet, então, quando a escola vem contando uma história, ela demonstra em arte certas formas de cultura, danças e roupas”, realça Guilherme. Uma escola de samba é feita pela comunidade para comunidade.
Para conhecer o Instituto Viradouro clique no link a seguir:
Carnaval & economia
Segundo o presidente da Niterói Empresa de Lazer e Turismo (Neltur), o Carnaval de Niterói é o 2º maior do estado. O período da folia movimenta a economia do município, que recebe turistas e vê os postos de trabalho aumentarem. Atualmente, os desfiles das escolas de samba de Niterói acontecem no Caminho Niemeyer que, no ano de 2023, recebeu mais de 60 mil pessoas.

Desfile da G.R.E.S. Magnólia Brasil, campeã do Grupo A do Carnaval de Niterói – Reprodução: @caminhoniemeyer
Além disso, a torcedora Cristiane relembra a questão da economia criativa: “Eu acho que é uma questão de que o grande público … não chega ao grande público a questão da economia criativa do carnaval. É uma cadeia de produção, são vários profissionais, de várias áreas. Temos engenheiros,jornalistas, fotógrafos, operadores de som, eletricistas… Para além da questão da educação, da cultura, do turismo, do lazer, também tem a economia criativa do carnaval. É a economia da cidade girando! Na verdade, isso não é gasto, é investimento, porque o retorno que a Viradouro traz pra Niterói e pra São Gonçalo – a gente brinca que a Viradouro é uma escola que tem dois municípios – levando o nome dessas duas cidades pro mundo, é impagável! Isso não tem preço!”
A Viradouro encerrará os desfiles do ano que vem, sendo a sexta escola a desfilar na Marquês de Sapucaí no dia 12 de fevereiro. Já no Caminho Niemeyer, a expectativa é de que as mais de vinte escolas da Cidade Sorriso façam o seu desfile!