Por Eloá Silva
Em tempos de emergências climáticas, é urgente repensar nossos hábitos e formas de convivência com o planeta. A arte, neste cenário, emerge como uma poderosa ferramenta transformadora, capaz de estimular reflexões críticas e mobilizar a sociedade para o engajamento de questões ambientais e sociais.
A exposição coletiva “Se Tudo Fosse Cinza”, idealizada pelo grupo “Vozes do Mundo” e realizada no Espaço Cultural Correios de Niterói, reforça o papel fundamental da cultura na conscientização e na construção de um futuro sustentável. Esta amostra é um desdobramento da “Cor Rubro Céu”, que ocorreu durante o G20, e ganhou uma nova dimensão, como explicado pela curadora Beatriz Roza sobre o contexto da exposição:
“A proposta nasceu a partir do cenário da COP30, conferência que será sediada em Belém, e que vem mobilizando debates sobre meio ambiente e justiça climática. A mensagem principal que a exposição transmite é que as artes visuais e a produção dos artistas são também muito influenciadas e impactadas pelas problemáticas ambientais, e isso perpassa por diversos âmbitos da produção; isso significa dizer que as artes visuais são vivas e conectadas com o presente e, portanto, elas são políticas. Para além de discussões rasas e soluções simples, a exposição tem a expectativa de levantar debates.”

Com a participação de 30 artistas, a amostra propõe um diálogo sensível sobre as crises ambientais e o aquecimento global, abordando essas questões por meio de dois eixos temáticos: o “micro” e o “macro”.
No eixo “micro”, o foco é íntimo, abordando memórias, sentimentos e ações cotidianas que revelam a conexão profunda entre o corpo, a terra e o ambiente. Já no eixo “macro”, o olhar se expande, explorando a geopolítica das questões ambientais, denunciando realidades silenciadas e os processos de exploração e degradação.
Assim, a exposição constrói uma narrativa visual sobre os impactos dessas escolhas humanas no meio ambiente e chama a atenção para os riscos de um futuro monocromático e estéril, caso o descuido ambiental persista. Como destaca o texto curatorial na entrada da exposição:
“Aqui, pensamos essas questões fora da lente translúcida e reducionista dos problemas climáticos, mas transitamos entre aquilo que é sentido, elaborado e transbordado em pigmentos, argilas, telas. Sem aceitar a ideia de fim do mundo e evitando extremidades limitadas, “Se Tudo Fosse Cinza” investe na potência da opacidade como lugar de imaginação e resistência. Assim, penetrando as possibilidades do ser humano e das complexidades da crise que vivemos. Em vez de aceitar o cinza da destruição, a mostra vislumbra a potência de um futuro reinventado, no qual a arte demanda mudança e convoca à ação.”

A amostra é um diálogo profundo sobre nossa responsabilidade coletiva, reafirmando que somos parte de um organismo interdependente. Como a artista visual e fotógrafa Isabella Koscheck buscou demonstrar em suas obras expostas, a sobrevivência deste organismo depende do nosso compromisso com a preservação dos ecossistemas:
“Eu espero causar uma reflexão, não exatamente sobre o meu trabalho, mas que de alguma forma o espectador se identifique e olhe para dentro de si, que ele se questione sobre como tem vivido o tempo dele, estimulá-lo a conviver de forma mais apreciativa com a natureza. Se nada daquilo existisse, a falta que faria — e, consequentemente, como fazer a diferença perante uma sociedade para melhorar, proteger e cultivar o meio ambiente, e assim viver grandes momentos com a simplicidade que a natureza tem a nos oferecer. […] Todas as obras da exposição têm um diálogo em comum, tanto na temática como no propósito de conscientizar os visitantes sobre as consequências e a importância da preservação do meio ambiente.”

“Se Tudo Fosse Cinza” é um convite para repensarmos nossas ações e imaginarmos novas possibilidades de futuro — antes que tudo se torne, de fato, cinza.