Por: Matheus Netto
Foto: LAC-UFF
O que é/o que faz o LAC?
O Laboratório de Radiocarbono da Universidade Federal Fluminense (LAC-UFF) fica localizado no prédio de Física da universidade, no campus da Praia Vermelha, em Niterói. O LAC utiliza-se da técnica de datação por carbono-14 por AMS (espectrometria de massa com aceleradores) para datar amostras. A técnica consiste em, a partir do acoplamento de um acelerador de partículas, contabilizar cada átomo de carbono-14 presente no objeto estudado. Através do decaimento radioativo, é possível determinar a idade de amostras, como conchas, carvões, cerâmicas, madeiras, ossos, sedimentos, entre outros.
Apesar de ter se originado na área da Física Nuclear Aplicada, o laboratório é voltado para a realização de trabalhos multidisciplinares que vão além da Física e abrangem diversas outras áreas da ciência, um desejo de Kita Macario, coordenadora do LAC e uma das idealizadores do laboratório.
“Dentro da Física, na minha formação, eu sempre gostei de coisas variadas, sempre gostei muito da questão multidisciplinar, não só da Física. Eu sempre gostei muito de Física, mas sempre gostei muito de Química. […] Eu queria muito aplicar a Física em outras áreas e eu descobri no carbono-14 uma possibilidade muito ampla, muito abrangente de colaborar com outras áreas.”
A coordenadora ressaltou, ainda, a importância de se ter um laboratório que opere muito bem, com certificados, que atenda às regras de segurança e funcionamento, e que tenha protocolos bem definidos, além da busca por mais colaborações internacionais para que o local alcance um padrão de qualidade ainda maior.
Área do laboratório de preparação de amostras; Foto: Matheus Netto
Reconhecimento e projetos do laboratório
O LAC é provido de grande reconhecimento na área da ciência – sobretudo no âmbito latinoamericano -, pois foi o primeiro laboratório da região a ser equipado por um acelerador de partículas, o qual o possibilitou a especializar-se na técnica que utiliza o carbono-14. Dessa forma, o LAC tornou-se totalmente operacional e funcional, impulsionando pesquisas e estudos sobre cronologia na UFF. Além disso, o laboratório marca presença em diversos eventos regionais, nacionais e até mesmo internacionais dentro da área científica.
A pós-doutoranda Bruna Netto, que ingressou no laboratório em 2014, relata alguns dos eventos dos quais se orgulha de ter participado e ajudado na organização. Dentre eles, estão conferências e congressos organizados pelo próprio LAC pelo país e a sua primeira participação em um evento internacional no exterior: a 4ª Conferência Internacional de Radiocarbono e Meio Ambiente, que ocorreu neste ano em Lecce, na Itália.
“Foi muito importante para minha formação porque pude estar com pessoas que são importantes nessa comunidade de radiocarbono […]. Pude levar meu trabalho de doutorado para essas pessoas e trazer esse trabalho para discussão na comunidade.”, disse Bruna.
Também questionada, a professora Fabiana Oliveira falou sobre um de seus projetos.
“Foram bastantes [projetos], mas o que eu mais dou destaque foi a datação do pergaminho da Torá do Museu Nacional, da UFRJ. Tive que aprender como fazer o protocolo antes para fazer as análises desse tipo de material”.
Essa datação foi uma das mais importantes realizadas pelo laboratório. A Torá é o conjunto dos 5 primeiros livros da Bíblia hebraica. Havia registros de que Dom Pedro II adquiriu os pergaminhos e acreditava-se que eles fossem referentes ao século X. Porém, com sua datação, foi descoberto que eles não eram mais antigos que o século XVI.
A presença feminina dentro do LAC
O LAC conta com uma forte presença feminina, algo um pouco incomum dentro de uma sociedade tão marcada por preconceitos e fortes estereótipos contra as mulheres dentro da ciência.
O laboratório tem dentro de sua equipe três professoras que o coordenam: Kita Macario, coordenadora geral do LAC, Carla Carvalho, coordenadora do Laboratório de AMS, e Fabiana Oliveira, coordenadora do Laboratório de Preparação. Além delas, o laboratório possui, praticamente desde seus primórdios, uma gama de alunas que fazem parte de sua equipe. A presença das mulheres no meio faz-se tão evidente que foi criada a Liga das Amazonas do Carbono (que, juntando as iniciais, forma a mesma sigla do laboratório), enaltecendo essa participação feminina dentro do LAC e da ciência no geral. A professora Kita comentou sobre essa representatividade feminina no laboratório.
“Dentro da Física, acho que com certeza a gente chama a atenção por ser um laboratório que tem grande representatividade feminina. Primeiro que pros alunos, eu acho que quando você tá buscando o que você vai fazer, primeiro você busca alguém que te representa. Claro, não é dizer que vai ter um professor homem, então você só vai ter alunos homens e vice-versa, não é isso. Mas existe uma falta de representatividade feminina dentro da Física porque a maior parte dos professores é homem […]. Então uma aluna que quer ser experimental, muitas vezes ela vai se sentir mais confortável e mais representada num laboratório onde tem mulheres.”
Banner que mostra a Liga das Amazonas do Carbono (LAC); Foto: Matheus Netto.
Ela diz, ainda, que tudo aconteceu de forma natural, nada foi de propósito ou escolhido por alguém, e ressaltou a importância de se ter respeito dentro do ambiente.
“Eu acho que você vai preferir ir, se tiver a oportunidade, para um lugar onde você vai ser tratada normalmente, e não de uma forma diferente ou pior só porque você é mulher. Eu realmente acho que é isso que acontece. É um ambiente onde existe um respeito. A gente faz muita questão que haja respeito […]”.
Bruna e Fabiana também falaram sobre essa questão.
“A presença feminina é algo que me deixa muito satisfeita por ver o quanto a gente está conquistando espaço na ciência e porque isso torna o lugar confortável. Eu me sinto confortável de estar num meio que é reconhecido como sendo um meio feminino.” – disse Bruna
“No laboratório nós temos muitas mulheres, não sei se pela questão de ter 3 coordenadoras, já tem essa presença feminina, e eu não sei se isso já chama a atenção de ir mais mulheres para ciência, mais mulheres fazendo aquele tipo de análise, ou que trabalha naquele laboratório, mas é um dos laboratórios que mais tem mulher dentro da Física [na UFF].” – relatou Fabiana
Diante disso, o LAC se apresenta como um expoente dentro da ciência na UFF e como um lugar que enfrenta preconceitos e desconstrói estereótipos, proporcionando um ambiente agradável e respeitoso para todas as pessoas que dele fazem parte.
Mídias Sociais
Se você se interessou pelo conteúdo e quer saber mais detalhes sobre o laboratório, pode acessar o site: lac.uff.br e seguir o perfil no Instagram: @lac_uff como forma de divulgação da ciência.