Por Ana Clara Cavalcante
Inaugurado em 1938 por Getúlio Vargas, o Mercado Municipal de Niterói viveu anos de glória, mas ao final dos anos 60 começou a se tornar obsoleto culminando no seu fechamento em 1976. Após quase 50 anos fechado, teve uma reabertura milionária em 2023 e hoje em dia enfrenta novos problemas: lojas fechadas, corredores vazios e questionamentos sobre seu futuro.
O início das obras para a construção do mercado se deu no ano de 1934, perto da inauguração dos portos de Niterói. O Mercado Municipal foi construído com o principal objetivo de abastecimento e autonomia econômica para a região e o estabelecimento contava com uma arquitetura alinhada às correntes internacionais do Art Déco, combinada com elementos do neoclassicismo. Ele integra o conjunto arquitetônico da área portuária de Niterói, desenvolvido durante o período conhecido como renascença fluminense.
O mercado funcionou de forma eficaz durante anos, mas com a fusão de modais de transporte no final dos anos 60 porto de Niterói foi desativado, o que impactou diretamente a atividade do mercado, que dependia do fluxo de mercadorias que chegavam e saíam pelo porto. Além disso, a transferência da capital do estado do Rio de Niterói para o Rio de Janeiro contribui mais ainda para o declínio do mercado. Sendo assim, ele acabou se tornando obsoleto e foi desativado, e a partir da década de 1980 passou a abrigar o Depósito Público Estadual. O local também serviu de base para a Ceasa – Centrais de Abastecimento – e um centro de assistência social.
No dia 27 de julho de 2023 o Mercado Municipal de Niterói teve sua reabertura, após quase 50 anos fechado, e contou com um investimento milionário. A decisão de reabrir foi motivada por uma ambição de revitalizar um importante polo no centro da cidade, recuperando um patrimônio cultural reconhecido como imaterial do Estado do Rio de Janeiro. O projeto foi estruturado como Parceria Público-Privada entre a Prefeitura de Niterói e o Consórcio Novo Mercado Municipal, liderado pelo empresário Marcelo Viana, com concessão de 25 anos, e contou também com a participação do Grupo Vértice, do empresário Alexandre Accioly. O consórcio investiu cerca de R$ 69 milhões na restauração, sendo R$ 30 milhões focados na preservação dos traços neoclássicos e art. déco da era Vargas, enquanto a prefeitura aplicou aproximadamente R$ 20 milhões em intervenções urbanas como acessibilidade, paisagismo e requalificação do entorno. Integrado ao amplo programa de requalificação urbana pelo prefeito Axel Grael, que envolve mais de R$ 420 milhões de investimentos no centro.
Desde o início as expectativas para a construção e abertura do mercado sempre foram muito altas, mas somente atendeu as expectativas de algumas pessoas. Por um lado, funcionários das lojas tiveram suas esperanças atendidas e acreditam que o movimento está bom.
Por outro lado, quem sofre são os donos das lojas que apesar de todo o investimento tanto da Parceria Público-Privada quanto dos próprios lojistas, o mercado enfrenta sérios problemas: lojas fechadas, pouco movimento, baixa divulgação, dívidas, avisos de despejo além dos prejuízos ao invés dos lucros. Mesmo com a esperança de que o espaço se tornasse um polo turístico promissor e um ponto de melhoria para os lojistas, isso não se concretizou.
A maioria dos lojistas estão inadimplentes e muitos evitam romper o contrato por medo das multas previstas. Ainda que existam reuniões com a administração, os lojistas não têm voz ativa e que, muitas vezes, os encontros são encerrados antes que possam se manifestar. A movimentação no local é baixa e depende quase exclusivamente de eventos externos, como ocorreu em maio, quando as vendas aumentaram; no entanto, em junho, sem eventos, o movimento voltou a ser fraco. Há um apelo por ações mais efetivas de marketing para atrair o público. O clima entre os comerciantes é de insegurança, com relatos de ameaças de despejo e de lojistas que já fecharam suas portas — só no início de junho, quatro lojas encerraram suas atividades, e outras já anunciaram o mesmo caminho. Segundo os relatos, cerca de 80% dos comerciantes estão operando no prejuízo, sem conseguir atingir metas mínimas para arcar com seus compromissos.
Apesar das dificuldades, ainda há uma expectativa positiva em relação ao futuro do Mercado Municipal de Niterói. Muitos lojistas e consumidores acreditam que o espaço pode alcançar o potencial imaginado no início, tornando-se um ponto de referência turística, cultural e comercial na cidade. A esperança é de que, com mais divulgação, eventos frequentes e um diálogo mais aberto com a administração, o público volte a frequentar o mercado com regularidade. A visão de um ambiente vibrante, com lojas funcionando plenamente e integração com a população, ainda permanece como objetivo entre aqueles que decidiram apostar no projeto e continuam acreditando em sua recuperação.