Alô, Gragoatá!

Movimento dos alunos da UFF transforma o comércio local: A universidade como motor de desenvolvimento econômico

Funcionários de estabelecimentos na Praça da Cantareira relatam o impacto da proximidade com a instituição no comércio.

Por: Isis Siqueira

Foto: Isis Siqueira

Com uma boa diversidade de restaurantes, lojas, livrarias, camelôs e comércios em geral, os entornos da UFF tornam-se muito movimentados e populares. Devido à sua abundância de estudantes e localização privilegiada em Niterói, muitos comerciantes e empreendedores investem em locais perto da universidade para abrir seu negócio. Afinal, a UFF é uma das maiores universidades do Brasil, com campi em Niterói e em outras cidades do estado do Rio de Janeiro. 

Um bom exemplo de propulsor de vendas no entorno da universidade é a Praça Leoni Ramos, popularmente conhecida como Cantareira. Principalmente às quintas-feiras, o espaço é responsável pelo lazer dos estudantes e trabalhadores, tornando-se ponto de encontro para comer, beber ou apenas socializar, sendo localizado em frente ao campus do Gragoatá. Há alguns anos, esse era um espaço quase desativado, mas passou por um processo de revitalização devido à demanda criada pela proximidade da universidade. Funcionários desses estabelecimentos localizados na praça reconhecem a importância dos estudantes e servidores da instituição de ensino para seus comércios, destacando o grande fluxo de clientes à noite após o horário das aulas, o que transformou a Cantareira em um ponto de referência para a vida acadêmica e social de Niterói. 

Jessie, mais conhecida pelos estudantes como “Net, a garçonete”, que trabalha no Estúdio Onze, diz que a localização do bar é muito privilegiada e o público alvo é o corpo estudantil da UFF. “Acho que o que traz os jovens universitários para o Estúdio Onze, é que temos música, boa bebida e comida”, afirma a funcionária. A acessibilidade, tanto em questão de localização, quanto de dinheiro, e um ambiente descontraído, são fatores convidativos para os uffianos e moradores. Nesse sentido, camelôs e bares presentes na Cantareira fornecem o que os discentes buscam para confraternizar com os amigos e colegas, com boa variedade de alimentação e bebidas mais “em conta”.

Imagem registrada em frente ao campus Gragoatá; Foto: Isis Siqueira

O reflexo desse crescimento não é apenas percebido em bares e restaurantes. Livrarias, papelarias, serviços de fotocópias, clínicas médicas e até academias também se beneficiam da movimentação em torno da universidade. Além disso, pequenos empreendedores, como vendedores ambulantes, encontraram na Cantareira um espaço para desenvolver suas atividades comerciais. Um exemplo é a Juliana, funcionária do carrinho de  petiscos Sabor dos Lanches, localizado na famosa praça, que afirmou: “Escolheria a Cantareira para abrir um negócio devido à grande quantidade de uffianos que compram os nossos produtos.”

No entanto, apesar de serem muito frequentados atualmente pelos jovens, Renato, dono da livraria e bar Yorubar, considera a presença de camelôs na famosa praça como um agravador da poluição visual desse antigo espaço que, por volta dos anos 1800, era destinado ao repouso da família real e, posteriormente, se tornou um espaço cultural com artistas e maior presença do corpo docente, que até então era o público-alvo dos restaurantes locais. Atualmente, no entanto, o proprietário destaca a limitação desse lugar apenas para jovens, deixando afastado um público mais adulto. A falta de atenção governamental também foi mencionada pelo empreendedor. 

Luis Felipe Brown, estudante de história na UFF, defende a presença das lanchonetes, restaurantes e gráficas como um atrativo para a escolha da universidade. “Eu frequento muito as lanchonetes da Cantareira, principalmente a Hungara [Lanches], e sempre que posso, fico na praça conversando com os meus colegas e comendo algum petisco. É um momento que gosto muito após as aulas e me ajuda a relaxar em meio aos trabalhos e provas”, disse ele. 

Mais do que um centro comercial, a Cantareira se tornou um ponto de encontro de ideias e culturas, resultado da mistura entre estudantes vindos de diferentes regiões do Brasil e do mundo, além de moradores locais, sendo um local importante de integração e trocas culturais. A famosa “happy hour” na Cantareira é um exemplo disso: estudantes se reúnem no final do dia para confraternizar, discutir assuntos acadêmicos e relaxar após as aulas. Essa movimentação contribuiu para a criação de um ambiente vibrante, mas também trouxe desafios: o aumento no fluxo de pessoas na Cantareira gerou um debate sobre a necessidade de maior investimento em infraestrutura, segurança e limpeza. 

Embora a relação entre a UFF e o comércio local seja amplamente positiva, Ronaldo, dono da banca Cantareira, mencionou que há períodos de sazonalidade que impactam o faturamento, como os meses de férias acadêmicas. “Também tenho uma banca no centro, mas a da Cantareira tem mais movimento, o problema são as férias e eventuais greves, que reduzem bastante as vendas”. Durante esses períodos, muitos estabelecimentos veem a clientela diminuir drasticamente, o que afeta diretamente suas receitas. Um exemplo atual dessa situação foi a greve desse ano, deflagrada no dia 29 de abril de 2024 e encerrada no dia 1 de julho de 2024, como um fator de impacto nas vendas, reduzindo-as drasticamente. No entanto, para lidar com essa variação, alguns comerciantes desenvolveram estratégias criativas, como promoções especiais e eventos voltados para a comunidade local. 

Diante do exposto, apesar desses desafios, a Cantareira permanece como um símbolo da integração entre a universidade e o comércio local, promovendo não apenas o desenvolvimento econômico, mas também o fortalecimento da identidade cultural e social de Niterói. 

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