Alô, Gragoatá!

Niterói celebra a força das empreendedoras de moda no ID:RIO Festival

Por Felipe Azevedo

As modelos vestindo a coleção “CORPO-PODER” de Loren Stainff. Foto: Thaís Mesquita

Aos 9 anos, uma criança, sentada no chão do quarto, começou a desenhar seus sonhos em folhas de papel. Aos 16, deu os primeiros passos como empreendedora de artes e, mais tarde, formou-se em dança. Seus sonhos, antes desenhados somente no papel, foram ganhando espaço e forma, nos âmbitos da moda, da arte, no conhecimento e no impacto. Atualmente, Loren Stainff, 38, mãe solo, atípica, estilista e artesã racializada, apresentou a sua coleção “CORPO-PODER” na última edição do ID:Rio Festival, realizado no final do mês de abril na Praia de Icaraí, em Niterói.

O evento ID:Rio Festival, apresentado pela Enel Brasil, promove o empreendedorismo no polo da moda no Rio de Janeiro, destacando o empoderamento econômico e social das mulheres. Para Loren, “CORPO-PODER” é sobre a ressignificação da existência dos corpos femininos e de todos os corpos, além de usar upcycling, técnica de reaproveitamento de peças que seriam descartadas.

No começo, como empreendedora no ramo da moda, a estilista expressou o quanto o mercado de trabalho da moda é voraz, principalmente sem investimento e somente com a sua força de trabalho. “Quem está lá [no topo] tem cor, tem gênero. É sempre um homem cis, até mesmo na moda feminina.” Com os tecidos caros, Loren enxergou a sustentabilidade como uma possibilidade no pilar econômico, ecológico e social, tornando-se uma das vertentes presentes em sua marca que abriga microempreendedores do Rio de Janeiro, o Bolha Project.

Empreendedoras no ID:RIO

Com referências das autoras negras Bell Hooks e Lélia González, Stainff transforma suas ideias representadas em volume, transparência e camadas, entregando outro significado para quem as veste ou quem as olha. “Enquanto mulher, ressignificamos o tempo todo. O foco para mim é a força feminina. Meu foco como designer é essa questão de volume, como o próprio nome da Bolha.”, afirmou Loren.

Apoiado pela Secretaria Municipal da Mulher, o ID:Rio é um espaço de acolhimento para empreendedoras locais. No evento, além da Loren Stainff, diversas empreendedoras apresentaram seu trabalho, artes e produções para o público. “Nossas mulheres empreendem por diversas razões, incluindo a busca por autonomia financeira, para romper ou não ciclos de violências, flexibilidade (especialmente após a maternidade), a identificação de oportunidades de mercado e o desejo de gerar impacto e transformação social positiva.”, destacou a Secretaria.

Ao lado de seu filho, a niteroiense Luciana Braga, 50, salientou a importância de eventos gratuitos como esse, na região onde nasceu: “É uma experiência além da gente participar, assistir, contribuir, incentivando, comprando o que está sendo vendido. Está sendo bom não somente para quem está apresentando seu trabalho.”

Ressignificando espaços de mulheres negras

Para muitos, a moda é vista como algo frívolo, onde a define somente em roupas. Na visão de Loren, a moda é um canal que deve ser usado para falar sobre questões sociais, ambientais e econômicas. “A moda é um canal para todos os sentidos, para tratar essas feridas sociais, a questão de repensar no que estamos fazendo com o planeta e pensar ‘Quem deveria estar no poder? Onde estão as mulheres pretas dentro dessa esfera? Isso passa pelas mulheres pretas. Não tem para onde correr. Então, por que não estão lá? Por que não estão na passarela como modelos? Por que não estão costurando? Tem costureiras que recebem 1,50 por peça e custam 2500 na loja”, reflete.

As programações de eventos e projetos, como ID:Rio, revelam um cenário que vai mais além do que os aspectos econômicos ou culturais, evidenciam também o protagonismo de mulheres negras na transformação dos espaços. Segundo a Secretária Municipal da Mulher, o compromisso com as mulheres empreendedoras, especialmente com as pretas, é a criação de espaços seguros e de acolhimento. Historicamente, as mulheres negras enfrentam múltiplas formas de opressão, de raça, gênero e classe. Assim, como o conceito de “CORPO-PODER” de Loren Stainff, as mulheres estão sempre ressignificando a sua própria autonomia.

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