Alô, Gragoatá!

O grito pelo direito de filosofar

Ocupação de um dos blocos da UFF é o estopim de reclamações não solucionadas de alunos da universidade 

Por Jepherson Rodrigues

Bloco P no momento da paralisação – Foto: Ana Clara Sant’ana

Ouça a reportagem circulada na Rádio Nas Ondas do IACS:

No dia 25 de outubro, uma paralisação das atividades do bloco P no campus Gragoatá da Universidade Federal Fluminense pegou de surpresa alunos, professores e funcionários. Numa ação conjunta de alunos de Filosofia, Sociologia e Psicologia que foi responsável pelo cancelamento de todas as aulas durante as cerca de trinta e seis horas que durou a ocupação. 

Os estudantes reclamavam da alta taxa de evasão principalmente do curso de Filosofia da instituição e da falta de oferta de grade noturna do curso, o que impediria os alunos de trabalhar e estudar ao mesmo tempo, além da abertura do curso de licenciatura na pasta de Sociologia. A falta de comunicação e de criação de espaços de negociação com a universidade vinha deixando os alunos preocupados com os rumos da graduação e a ocupação foi a única saída encontrada para solucionar esse problema. 

O dia da ocupação e o dia seguinte foi preenchido com diversas atividades, desde confecção de cartazes até Cine Debate no auditório do bloco interditado, passando por janta coletiva e aula pública de filosofia do Renascimento com a professora Fabrina Magalhães do departamento de Filosofia.

Prints do perfil do Centro Acadêmico de Filosofia na semana da ocupação – Fotos: Reprodução Instagram

Ainda faltam dados oficiais, mas estimativas dos alunos dizem que cerca de apenas 15% dos ingressantes realmente concluam o curso. Diante disso, foram feitas diversas tentativas de conversa e solução, todas fracassadas. Segundo os estudantes, a pauta era oficialmente ignorada pelos docentes e pelas coordenações.

A questão preocupa alunos veteranos e também alunos recém-chegados na faculdade. É o caso do aluno do primeiro período da graduação em Sociologia, Marcos Souza, que falou sobre o que trata a reinvindicação do movimento: 

Com tamanha evasão, os cursos ficam em situação delicada, com possíveis cortes federais ou diminuição na oferta de disciplinas, vagas e horários disponíveis, o que é exatamente o contrário do que os estudantes almejam. O aluno de mestrado em Filosofia e apoiador da paralisação, Thiago Correa, falou sobre a importância da interdição para a permanência dos alunos nos cursos mencionados: 

“O curso corre perigo de acabar porque em algum momento alguém do MEC vai falar, olha isso aqui é desperdício de dinheiro público ou ser reduzido, e a gente quer a expansão do curso, porque até aquela filosofia que não parece importante é transformadora na sociedade”.

Thiago Correa, mestrando em Filosofia na UFF

A iniciativa está longe de ser uma unanimidade entre os estudantes. Há quem se coloque contrário à ocupação, como é o caso de estudantes que reclamam sobre a ocupação no Instagram do movimento: “Vocês usam de uma retórica violenta contra instâncias institucionais as quais não conhecem, atacam a coordenação do curso, apesar dela ser extremamente receptiva e democrática, e não tem qualquer proposta efetiva de implantação de um curso noturno.” disse Pedro Verran na rede social dos organizadores.

Tentamos contato com a coordenação dos cursos e não obtivemos resposta direta. A diretora do CAFIL, Centro Acadêmico de Filosofia, entidade à frente da ocupação, Olivia Maria confirma que ocorreu, após a ocupação, uma reunião presencial entre alunos, professores, e coordenação que foi responsável pela criação de um grupo de trabalho pela iniciação do curso noturno. Foram apresentadas propostas como oferecer três optativas à noite a partir do próximo semestre. Para começar a viabilizar o novo horário foram requeridas adesão de professores ao grupo de trabalho e a emissão de um boletim oficial atestando o compromisso firmado em colegiado para que o documento legitime ainda mais a luta dos estudantes. 

Outra reunião dos alunos ocorreu na última terça feira para escolha de representantes que participarão desse grupo de trabalho. 

São aguardadas novas reuniões gerais e o desenvolvimento da demanda. O Centro Acadêmico de Filosofia, junto com as iniciativas de Sociologia e Psicologia prometem ficar atentos aos anseios dos alunos de tornar o curso mais forte, na medida em que viabilizem a permanência de mais estudantes nos cursos pelo direito de estudar e exercer o filosofar, ainda que medidas extremas sejam tomadas. 

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