Alô, Gragoatá!

O Poder da Mente: como a psicologia influencia no desempenho de atletas

Por Davi Esteves

Reprodução: Imagem ilustrativa

A psicologia é um ramo que vem crescendo bastante dentro do esporte. A análise sobre sua influência e importância é cada vez mais observada pelos clubes e debatida dentro do âmbito esportivo. Mas, infelizmente, apesar do crescimento do debate, ainda é um tabu dentro da sociedade.

Por que o tema ainda é tão negligenciado no esporte? Nos últimos anos, a psicologia vem sendo um assunto cada vez mais debatido no mundo esportivo. Diversos atletas estão, cada vez mais, relatando batalhas com suas próprias mentes e reforçando a importância de apoio psicológico em suas vidas pessoais e profissionais.

Embora muitas vezes subestimado, existe um fator que desempenha um papel extraordinário no sucesso de um atleta: o poder da mente. O desempenho de um atleta não é apenas uma questão de resistência física ou técnica, mas também, mental. A mente, muitas vezes negligenciada, é agora reconhecida como um dos maiores impulsionadores do sucesso nos esportes de alto nível.

A Negligência dos Clubes

De acordo com levantamentos realizados pelos sites esportivos Foothub e Trivela, 12 dos 20 clubes que compõe a elite do futebol brasileiro possuem um psicólogo que trabalha com o elenco principal (Atlético MG, Botafogo, Palmeiras, Fluminense, Bahia, Red Bull Bragantino, Santos, São Paulo, Fortaleza, Athletico Paranaense, Vasco e mais recentemente, o Internacional). 

O questionamento que fica é porque clubes gigantes, como Flamengo, Corinthians e Grêmio, não possuem equipe psicológica no profissional e de que forma isso pode influenciar clubes menores, visto que muitas vezes, os times grandes são espelhos e exemplos de gestão. Luciana Ângelo, psicóloga da seleção brasileira feminina de futebol, comentou um pouco sobre o assunto: “Tudo depende do espaço que a gestão e a diretoria dão para a psicologia, sobre como eles vêem a importância da saúde mental para os seus atletas e se acreditam na necessidade de treinamento mental, além do físico.”

“Eu não acho que precisa ter como foco os clubes grandes, acredito que os clubes pequenos e todos os outros devem analisar e, se acharem que vale a pena o investimento, acho que eles devem fazer independente dos maiores. Tem esportes que já estão usufruindo da psicologia do esporte há muito mais tempo que o futebol e já é possível ver resultados muito potentes, tanto no âmbito individual quanto coletivo.” – disse Luciana.

O processo de reconhecimento dos problemas psicológicos

São diversos os casos de atletas que já tiveram problemas psicológicos e não apenas no futebol: Gabriel Medina, Simone Biles, Sha’Carri Richardson, Drussyla e Gabi Cândido são alguns esportistas que já declararam publicamente que passam ou passaram por problemas de saúde mental, tendo que fazer uso de remédios e outras substâncias para conseguirem lidar com a pressão do dia a dia. 

“A gente tem há muito tempo a ideia de que o atleta de alto rendimento precisa superar todos os limites a qualquer preço, o que é uma mentalidade da década de 80, 90. Ainda tem-se muito a ideia de que jogadores têm a vida fácil, que reclamam de barriga cheia e ganham muito dinheiro, perdendo a realidade de que são trabalhadores também e tem as mesmas carências de pessoas normais, como ser aceito, fazer bem para ter resultados bons e de como eles têm a rotina dura também.” – disse Luciana Ângelo.

Já no campo do futebol diversos jogadores já assumiram suas lutas contra as questões psicológicas: Adriano Imperador, Ronaldo Fenômeno, Nilmar, Michael e Pedrinho são alguns exemplos. O caso mais recente foi o do Alisson, meia do São Paulo e atual campeão da Copa do Brasil, que durante o programa Bola da Vez, da ESPN, falou sobre seu tratamento contra a depressão e o afastamento do elenco no início do ano:

“Do nada virou alguma coisa na minha mente que eu ligo pro Rui (Costa, diretor executivo do São Paulo). Eu falo ‘Rui eu não quero mais jogar futebol’. A única palavra que eu lembro do Rui era ele falando ‘calma, não faça nada’. Minha esposa falou ‘como assim você vai largar o futebol? Você não me falou nada’. Eu falei ‘não aguento mais’. No dia seguinte meu filho vai brincar de futebol e eu tenho uma crise de ansiedade muito forte, meu coração começa a acelerar, começo a ter falta de ar. E falo que não consigo ver nada que envolva futebol. E nisso a Dra. Anahy me liga, psicóloga do clube” – disse o jogador.

Esse caso reforça a importância de se ter um psicólogo na equipe, como tem o São Paulo. O jogador conseguiu vencer o problema e, com o Dorival Júnior, se tornou peça fundamental na conquista do título contra o Flamengo.

Categorias de Base

A psicologia na categoria de base é tão importante quanto no profissional. Por conta da importância, existe o Projeto de Lei do Senado (PLS) 13/2013 que institui normas para que os clubes sejam obrigados a oferecerem auxílio psicológico para os atletas. Também existe uma imposição da CBF de que, para se ter o certificado de clube formador, os clubes precisam ter um profissional de psicologia prestando serviços às equipes.

O objetivo nessa área é muito mais direcionado para parte de formação pessoal do que focado no alto rendimento. O psicólogo tem como meta o desenvolvimento pessoal e profissional do atleta, bem como focar no amadurecimento das suas habilidades psicológicas, visto que alterações de humor e conflitos internos são comuns nessa faixa etária. O treinador Marcão, técnico de futsal do clube Canto do Rio de Niterói, comentou sobre a questão psicológica no clube:

“Alguns anos atrás tínhamos uma parceria com uma faculdade e tínhamos um suporte de psicologia para os atletas. Como não temos mais essa parceria, nós, treinadores, quando as pressões estão no nível muito alto, buscamos conversar para ajudá-los e mesmo assim quando o atleta demonstra seu lado emocional afetado pedimos para que se divirta em primeiro lugar e também conversamos com os pais, pois eles ainda não têm a maturidade de agir no momento de pressão tanto do jogo ou da arquibancada. No vestiário também buscamos inverter a frustração da derrota e eles começam a interagir uns com os outros e criam novas expectativas para virar o jogo no intervalo. Passam a se unir mais para saírem melhor no jogo.”

Logo, o poder da mente no esporte é inegável, já que atletas de elite não devem ser apenas físicos extraordinários, mas também mentes preparadas para enfrentar desafios. À medida que a psicologia esportiva continua a avançar, podemos esperar que os atletas de elite superem barreiras e alcancem níveis de desempenho ainda mais extraordinários, provando que um dos principais “campos do jogo” é a mente.

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