Alô, Gragoatá!

Quanto custa ser Microempreendedor na UFF?

Por Gabriel Dos Santos

O que há por trás dos doces, bolos, salgados e acessórios vendidos nos blocos da universidade? Com poucos recursos e muito esforço, há histórias de alunos que empreendem para continuar estudando. Esses estudantes transformaram suas necessidades em negócio.

Renata Monteiro, administradora, especialista em gestão, professora de empreendedorismo e empreendedora, explica:

“Empreender é criar seu próprio negócio. Quando alunos comercializam seus produtos, eles estão empreendendo.”

Empreender significa oferecer um produto ou serviço com um objetivo comercial, muitas vezes com um público-alvo e um planejamento por trás. Na UFF, essa realidade se faz presente: estudantes têm investido tempo e dinheiro para garantir sua permanência na universidade.

Entrada da UFF – Campus Gragoatá. Foto: Gabriel dos Santos

Lucas Daniel, estudante e sócio da Truffel, relata:

“O que me motivou foi a necessidade financeira que eu precisava quando ingressei, para custear a locomoção”

O empreendimento de muitos se dá por conta de sua permanência na faculdade. Eles lutam pelo direito de continuar estudando o curso que sonharam fazer e poder dar continuidade aquilo que iniciaram.

“Não conseguia empregos que me dessem a disponibilidade de trabalhar e estudar ao mesmo tempo. Precisava de dinheiro para contas básicas” afirma Luiza Lemoigne, estudante de Artes e vendedora do mesão.

“O lucro das minhas vendas é o que me sustenta hoje então posso dizer que é minha principal renda. Influencia na minha vida universitária tanto do lado positivo quanto negativo”, completa.

Kauã Castro, também vendedor do mesão, reforça: 

“A gente depende disso, todo mundo depende disso pra alguma coisa e, quando as pessoas não pagam, elas afetam diretamente o nosso trabalho – o material, o lucro…”

Foto: Gabriel dos Santos

Além das dificuldades financeiras, o comércio afeta diretamente a rotina acadêmica dos empreendedores. Maria Isabel, estudante de Ciências Biológicas e sócia da Truffel, explica:

“A pessoa tem que ter em mente que é muito complicado conciliar isso com os estudos. Pode passar noites sem dormir pra conseguir estudar e trabalhar — fazer os produtos pra vender — e muitas vezes vai ter que abrir mão de um dos dois: ou de ir para alguma aula, ou de trabalhar.”

O esforço feito por cada vendedor é frustrado não só pelo tempo gasto mas também pela desonestidade e falta de apoio da universidade perante a situação dos comerciantes.

“Algumas pessoas pegam as coisas do mesão como se fosse um grande café da manhã livre, não conseguem entender que mesmo não tendo alguém para vigiar ou te vender, aquela pessoa precisa estar colocando o produto ali”, desabafa Luiza e ela completa:

“No início eu me sentia muito frustrada, mas infelizmente fui aprendendo a lidar com a desonestidade e me conformando com frases tipo ‘eu não estou ali mesmo’ ‘não ‘perco’ meu tempo ali então é como se eu tivesse pagando um aluguel’.”

Por mais que a UFF ceda espaços físicos como a frente do bandejão e o mesão do IACS, esses locais não dão a segurança que os microempreendedores precisam.

Renata Monteiro argumenta: “A UFF costumava apoiar start ups, cedendo espaço (salas) para que empreendedores montassem suas empresas. Acho que além de espaço físico, instituições de ensino poderiam oferecer parcerias, consultoria e mais cursos onde a prática, e não apenas teoria, sejam ofertados aos estudantes.”

Com esse tipo de oportunidade, a segurança seria garantida e haveria uma quebra na vulnerabilidade dos produtos dos estudantes que vendem mesmo estando em aula.

“Se quem tá pensando em vender tem tempo para ficar no bandejão colocando uma mesa lá, ao invés de botar na mesa do IACS, eu indico mais. Antes de pôr na mesa, eu ia pro bandejão na hora do almoço com trufa. Ali é zero roubo. Mas, infelizmente, precisa de algo que eu não tenho mais: tempo.” — Luiza Lemoigne

Empreender na UFF custa muito mais do que o investimento no produto. Custa noites sem dormir, custam aulas, custa o tempo desses estudantes. E, mesmo já estando ciente disso, muitos ainda cometem furtos contra esses colegas, atrasando não só a sua renda, mas como também a sua vida acadêmica.

Compartilhe:

Share on facebook
Share on whatsapp
Share on twitter
Share on telegram
Share on linkedin

VEJA TAMBÉM

Uffianas

Mudança no calendário acadêmico: Novas datas, novas opiniões

Entenda as mudanças no calendário acadêmico e acadêmico-administrativo e como os discentes foram afetados por estas modificações. Por: Ana Luisa Rohem O calendário acadêmico inicialmente previsto pela Universidade Federal Fluminense (UFF) passou por mudanças após a greve

LEIA MAIS »
Uffianas

A luta vem de dentro: o movimento estudantil independente da UFF com DASAN e Novo MEPR

A precarização da Universidade Federal Fluminense (UFF) tem impulsionado a organização de estudantes que buscam novas formas de atuação política fora das estruturas tradicionais. É nesse contexto que ganham destaque o Diretório Acadêmico de Sociologia (DASAN) — uma entidade representativa ligada ao curso — e o Novo Movimento Estudantil Popular Revolucionário (Novo MEPR), que atua em âmbito mais amplo, com organização própria e ideologia definida.

LEIA MAIS »
Cultura

Reinauguração do Museu Antônio Parreiras

Com previsão de reabertura para final de novembro, o Museu Antônio Parreiras (MAP), que foi fechado em 2012 para restauração, abrirá as portas novamente para exibição de diversas exposições culturais, além do acervo do pintor Antônio Parreiras, no bairro Ingá de Niterói. 

LEIA MAIS »
Rolar para cima
Pular para o conteúdo