Como a reforma de um dos cinemas de rua mais frequentados nos anos 90 pode agregar para a cultura de Niterói, enquanto discute-se as diversas incertezas e possibilidades do projeto.
Por: Janderson Campos
A Prefeitura da cidade de Niterói, está promovendo uma proposta de revitalização do antigo Cine Icaraí, fechado desde 2006. As obras, iniciadas durante o período eleitoral, terão continuidade durante a gestão do recém-eleito prefeito Rodrigo Neves.
Foto: Janderson Campos Fernandes Junior
O projeto tem como principal enfoque voltar a utilizar o espaço em que o cinema reside, para finalidades culturais. A reinauguração está agendada para daqui a 14 meses, e irá ocorrer após uma renovação completa das salas de cinema, saguões e preservação da fachada. O cinema também passará por uma mudança de nome, sendo batizado de Cine Concerto Sérgio Mendes, em homenagem ao falecido pianista, natural da cidade.
É interessante pontuar que o Cine Concerto, quando reaberto, será mais um dos cinemas locais que compõem a cidade de Niterói, acompanhado pelo Cine Arte UFF e o Cinema Reserva Cultural. Contudo, é possível notar diversas limitações e incertezas em relação ao retorno de um dos cinemas brasileiros mais frequentados nos anos 90. Em uma conversa com o professor da UFF de Preservação Audiovisual Rafael de Luna, o pedagogo afirma:
“Se fala muito sobre a reforma, a volta do funcionamento, mas não houve uma discussão (por parte da UFF ou da Prefeitura) com a sociedade sobre como vai ser gerido o prédio, o que vai ter nele, e qual será sua função, tudo têm sido decidido dentro dos gabinetes, não houve nenhuma audiência publica ou consulta popular. […]Há uma contradição, pois embora o movimento para salvar o Cine Icaraí tenha sido de baixo pra cima (pressão popular), depois que ele foi salvo, o processo tem sido muito autoritário, de cima pra baixo, sem nenhuma participação social.”
Também é válido salientar que essa renovação representa um grande acréscimo para a cultura e turismo de Niterói, e traz à tona a importância que os cinemas locais têm para a cidade. Ainda que a Prefeitura ainda não tenha revelado quais serão os valores dos ingressos, em um período onde o cinema se tornou uma instituição elitizada, com preços exacerbados, as salas de cinema locais representam um método de resistência, uma demonstração de outro método de lucrar por meio da apresentação da cultura.
Projeto Cine Icaraí; Foto: Janderson Campos Fernandes Junior
Ao dialogar com o professor Rafael de Luna, também foi possível compreender as diversas possibilidades que a reinauguração do cinema abrange.
“Temos uma história de cinema riquíssima, porém, em grande parte, não disponível […]. O Cinema Icaraí pelo tamanho e arquitetura inevitavelmente traz uma experiência diferente de outras salas de cinema.”
Analisando as potencialidades que a reforma pode oferecer à região de Icaraí, Luna prosseguiu:
“Eu acho que o cinema pode ter um papel muito importante em revitalizar também a região, atrair novas plateias, formar novos públicos, dar acesso a um repertório contemporâneo ou histórico que seja de difícil acessibilidade.”
Se a exclusão da opinião pública permanecer durante o processo de reforma, as chances apontam para um retorno de um Cinema Icaraí mais elitizado, em detrimento de seu propósito original, promover o acesso à cultura, direito que deve ser garantido a todo cidadão, sem se restringir apenas à parcela mais rica da população.