Alô, Gragoatá!

Inclusão de pessoas neurodivergentes na educação: como a UFF pode ampliar o ensino para atender essa demanda

Como a falta de inclusão da cultura audiovisual nos materiais didáticos pode ser uma barreira no processo de aprendizado de pessoas neurodivergentes na UFF

Por: Maria Antônia

Você já parou para pensar em como os produtos audiovisuais não estão presentes na experiência de aprendizado de alunos com necessidades especiais na Universidade Federal Fluminense? E em como isso tem impacto nas pessoas neurodivergentes? O Alô Gragoatá foi investigar o porquê de uma universidade tão renomada quanto a UFF ainda pecar nos quesitos inclusão e acessibilidade.

(Fonte: Pixabay)

Como uma aluna com TDAH e transtorno de ansiedade, já estudei diversos artigos e tive orientação de profissionais de saúde sobre o assunto. Para obter mais informações sobre trajetórias atípicas na UFF, outros dois estudantes neurodivergentes foram entrevistados sobre o tema para que diferentes pontos de vista sobre o ambiente acadêmico da Universidade Federal Fluminense pudessem ser apresentados.

Durante as entrevistas, alunos declararam que a falta de elementos da cultura audiovisual (filmes, documentários, séries, podcasts, etc) como material didático tem dificultado a jornada estudantil de alunos neurodivergentes. Porém, primeiramente, é necessário saber o que significa ser uma pessoa neurodivergente. “Neurodivergência” é um termo que abrange diversas variações naturais das funções neurológicas e cognitivas entre os indivíduos. As neurodivergências mais conhecidas são o TEA (Transtorno do espectro autista), transtorno de ansiedade e o TDAH (Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade), porém existem muitas outras como dislexia, discalculia, Síndrome de Asperger e Síndrome de Tourette. Neurodivergentes em muitas ocasiões também podem ser chamados de neuroatípicos ou atípicos, já que seu cérebro funciona de forma diferenciada da qual se é tipicamente vista.

O artigo “The Impact of Neurodiversity on Learning” ressalta como o ensino que abrange cultura audiovisual é uma boa opção para a inclusão de pessoas atípicas no processo de aprendizagem. O ensino multimodal discutido no artigo apresenta uma ideia de flexibilidade no ensino, ou seja, diferentes alunos aprendendo de maneira distintas de acordo com suas necessidades e no seu tempo. Este modelo inclui modos visuais (imagens e gráficos), auditivos (discussões e músicas), cinestésicos (atividades práticas) e até mesmo digitais (uso de tecnologia). O artigo afirma que usar múltiplos modos de apresentação pode ajudar a esclarecer conceitos complexos. O ensino multimodal é realizado por um dos nossos entrevistados do curso de licenciatura em História (portador de discalculia, tdah e transtorno de ansiedade social) , que afirmou “Eu necessito de diferentes materiais e estímulos para a aprender, então a cultura audiovisual faz falta nos meus estudos. Principalmente na minha graduação que possui textos engessados e formais que dificultam o meu aprendizado […]”.

(Fonte: Pexels)

Os entrevistados neurodivergentes apontam que a maioria dos professores com quem tem aulas não incorporam de forma regular esta poderosa ferramenta no ensino. E que gostariam que os professores aumentassem consideravelmente a cultura audiovisual nas aulas. O entrevistado citado no parágrafo anterior afirma: “Eu acredito que de 1 a 10, eu daria dez mesmo ao fato que a cultura audiovisual como material didático auxiliaria meus estudos e rendimento”. 

A evasão universitária também se encontra como uma das preocupações associadas a estes alunos e consiste na perda ou fuga de estudantes nas universidade. A evasão universitária por falta de inclusão é uma problemática recorrente. Os dados da reportagem “Estudantes com deficiência têm maior risco de evasão escolar, aponta estudo” da CNN Brasil demonstra que 48% dos estudantes com deficiência tiveram dificuldades para manter a rotina de estudos e 32% apresentaram dificuldades no relacionamento com professores e colegas. Indo além dos dados acima, a CNN Brasil também nos traz o seguinte trecho que aborda perfeitamente como a evasão universitária é ainda mais recorrente a alunos com necessidade especiais quando comparadas a de alunos típicos: “Em dezembro de 2021, o receio da desistência estava presente em 28% dos responsáveis por alunos com deficiência, contra 19% dos demais – entre os motivos, estão a dificuldade de acompanhar as atividades e a falta de acolhimento nas escolas.”. Demonstrando o quão problemático a falta de acessibilidade aos neurodivergentes pode ser tanto no aprendizado quanto na vida social e profissional desses alunos, pois essas dificuldades podem acarretar na desistência de seus sonhos e futuro acadêmico.

 (Fonte: Freepik)

Existem projetos dentro da Universidade Federal Fluminense que buscam auxiliar alunos com necessidades especiais em algumas dessas questões envolvendo a cultura audiovisual, como o projeto “Livros Falados”, orquestrado pelas alunas Sara Rosário e Júlia Azevedo, do curso de Jornalismo da UFF. Este projeto é dedicado à produção de audiobooks, facilitando a inclusão de alunos não-neurotípicos e deficientes. O “Livros Falados” auxilia o aprendizado de alunos que necessitam ouvir o que está escrito enquanto lê para ter um estudo mais produtivo, como uma entrevistada de Cinema e Audiovisual, que prefere não se identificar, apontou durante sua entrevista. Os alunos buscam criar projetos para sanar uma demanda na qual os professores deixam a desejar.

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