A demanda por cursos de Mandarim na cidade de Niterói reflete a valorização do idioma, a busca por novas oportunidades de carreira globais e a força do soft Power chinês.
Por: Marcus Paiva
Último evento do ano letivo de 2024 do Confucius Classroom. Foto: Ana Qiao Jianzhen – Diretora do Confucius Classroom de Niteroí.
Por Marcus Vinicius de Paiva Brito – Jornalista MTE/FENAJ 0043437/RJ.
Niterói, RJ – A cidade de Niterói observa um aumento expressivo na demanda por cursos de Mandarim, o idioma oficial da China. Dados recentes indicam um crescimento significativo no número de alunos matriculados, refletindo uma tendência nacional de valorização do idioma chinês como segunda língua. Este fenômeno está estreitamente relacionado com a crescente influência econômica, política e cultural da China no cenário global. O que aumenta não só o interesse por novas oportunidades de carreira como também a busca pela compreensão mais aprofundada da cultura chinesa.
O Confucius Classroom, localizado dentro da Universidade Federal Fluminense (UFF), se destaca nesse cenário, oferecendo cursos de língua e cultura chinesa em parceria com a Universidade Normal de Hebei e a Fundação de Educação Internacional Chinesa, um órgão do Ministério de Educação da China. Segundo ‘Ana’ Qiao Jianzhen, diretora do Confucius Classroom de Niterói “com esse crescente interesse do Brasil em relação à China, com parceria econômica, cultural e política, especialmente no ano de 2024, depois da visita do presidente da China Xi Jinping, ao Brasil, quando ele assinou mais de 37 acordos, teve um aumento na procura sobre a identidade chinesa em Niterói”.
Segundo dados da Universidade Federal Fluminense (UFF) e do Confucius Classroom, a demanda por cursos de língua chinesa cresceu 40% nos últimos cinco anos. Em 2018, eram 60 alunos matriculados em várias turmas, número que dobrou em 2023, com 120 alunos participando das aulas de Mandarim. As aulas são ministradas no Centro de Línguas da UFF, na Colmeia do Campus do Gragoatá, e são abertas tanto para a comunidade acadêmica quanto para o público em geral. O Confucius Classroom é a instituição que aplica o HSK (Hanyu Shuiping Kaoshi) que é o exame oficial de proficiência em língua chinesa reconhecido pelo governo da República Popular da China. O HSK tem seis níveis, que vão do nível 1 ao nível 6, avaliando habilidades de leitura e escrita. O curso regular do Confucius Classroom é dividido em seis semestres, com cada semestre correspondendo a um nível específico do HSK.
Além do Confucius Classroom, Niterói conta com a primeira escola bilíngue chinesa do Estado do Rio de Janeiro, inaugurada em fevereiro de 2015, com mais de 700 candidatos disputando as 72 vagas disponíveis. O Colégio Estadual Matemático Joaquim Gomes de Sousa – Intercultural Brasil-China, localizado no bairro de Charitas, foi a primeira escola pública bilíngue de português e mandarim do Brasil. Um convênio entre a Secretaria estadual de Educação (Seeduc) e a Universidade Normal de Hebei, na China, garante, através do Confucius Classroom, que estudantes e professores da faculdade chinesa venham ao Brasil para dar aulas. Com a equipe do Confucius Classroom, o Colégio oferece um currículo bilíngue imersivo, onde os alunos aprendem português e mandarim simultaneamente. “Nós temos desenvolvido mais atividades com a cultura para cultivar o interesse dos alunos do colégio estadual. As atividades motivam muito o interesse dos alunos. Temos a competição de língua chinesa, que é um evento mundial para motivar os alunos porque os ganhadores vão à China. Além disso, oferecemos curso de mandarim para os professores do colégio”, comenta Ana Qiao Jianzhen.
Estudar mandarim também possibilita o intercâmbio na Universidade Normal de Hebei e até mesmo conseguir um emprego em empresas chinesas. Guilhermina Cabral, geógrafa, que estudou no Colégio Estadual Intercultural Brasil-China, é aluna do curso de Mandarim do confucius Classroom e que trabalha na vivo Global (fabricante de celulares chinesa concorrente da Xiaomi) comenta que “começou a se interessar em aprender o idioma por curiosidade e por incentivo do pai”. “Onde quer que você for trabalhar, precisarão de uma pessoa que possa falar chinês. Todos os meus amigos da época do colégio ou da UFF, hoje trabalham com algo que envolve a língua, seja em plataforma de petróleo ou em hotelaria, e vejo que em Niterói, há uma comunidade chinesa presente na cidade”, completa Guilhermina.
Essas iniciativas, tanto de um colégio estadual Intercultural Brasil-China, quanto do confucius classroom não só facilitam a aprendizagem do mandarim, mas também promovem uma maior compreensão da cultura chinesa, contribuindo para uma maior integração entre os dois países. Para a China, promover o seu idioma e cultura vai além da integração, é Soft Power. Nos últimos 13 anos, a China já implementou 516 Institutos Confúcio e 1076 confucius classroom em 142 países. Segundo o Sinólogo e professor da Universidade Federal Fluminense, Evandro Menezes de Carvalho, “esse aumento pela procura do idioma chinês e justamente a possibilidade de aprender o idioma no Brasil, se deve muito ao surgimento dos institutos Confúcio em parcerias com universidades chinesas e brasileiras. “É um esforço muito grande feito pelo governo chinês em criar esses institutos Confúcio que também são uma porta de entrada para a compreensão da cultura chinesa”, afirmou Evandro.
Ainda segundo o professor, “a promoção do idioma português na China também está sendo feito por iniciativa do próprio governo chinês, e aproximadamente 50 universidades na China ensinam o idioma português. Esse esforço de aproximação cultural pelo idioma tem sido assumido sobretudo pelo governo chinês, visto que o Brasil tem feito muito pouco, e precisa fazer um pouco mais”.
O aprendizado de um idioma estrangeiro abre portas para os indivíduos, ao oferecer acesso à literatura, trabalhos acadêmicos, mídia e novas amizades. Com a China emergindo como uma potência econômica global e sua influência crescente no Brasil, aprender chinês não é apenas uma vantagem competitiva, mas uma oportunidade de crescimento pessoal e profissional. A presença dos Instituto Confúcio no Brasil vai além do ensino do mandarim; é uma estratégia de Soft Power da China, que promove sua cultura e fortalece laços diplomáticos. Através de parcerias educacionais e culturais, o Instituto Confúcio não só facilita o intercâmbio acadêmico, mas também influencia positivamente a percepção dos brasileiros sobre a China. Em um mundo cada vez mais complexo e multipolar, essa aproximação cultural é uma oportunidade valiosa de cooperação e compreensão mútua, e Niterói é uma cidade que abraçou essa oportunidade de intercâmbio.