Alô, Gragoatá!

Os esportes de areia e o desafio da inclusão: muito além das quadras

Embora sejam associados ao lazer e à saúde, muitas comunidades enfrentam desafios para acessar quadras e equipamentos adequados, mesmo que essa categoria ganhe cada vez mais espaço e fama dentro dos esportes.

Por: Sophia Gajevic

Os esportes de areia, conhecidos como vôlei, futebol e beach tennis, conquistaram nos últimos anos espaço no cenário esportivo brasileiro. Associados ao lazer, à saúde e ao bem-estar, essas modalidades também têm despertado discussões importantes sobre acessibilidade e inclusão social. Afinal, as quadras de areia, tão comuns em praias e clubes, estão ao alcance de todos?

Enquanto as capitais litorâneas oferecem a paisagem ideal para a prática desses esportes, muitas comunidades ainda enfrentam barreiras estruturais e sociais. Em regiões afastadas da costa ou áreas urbanas mais carentes, a ausência de quadras públicas, de equipamentos adequados e até de orientação profissional dificulta o acesso. Mesmo em espaços públicos, a falta de manutenção ou a ocupação irregular de áreas esportivas limita a participação de crianças e jovens.


Especialistas apontam que a democratização dos esportes de areia esbarra em questões que vão além da infraestrutura. “A prática dessas modalidades requer espaços que, muitas vezes, são privatizados ou pouco acessíveis. Além disso, falta incentivo para projetos que tornem esses esportes inclusivos”, explica o professor de Educação Física Pedro Goloni, que trabalha com projetos comunitários em regiões periféricas.

Praia de Icaraí, zona sul da cidade de Niterói. O local é público e aberto, no entanto, não é toda população da cidade que tem fácil acesso a ele. Fonte: Camille Hoffmann.

Segundo Pedro, muitos jovens sequer têm contato com esportes de areia por não estarem próximos de quadras ou por não disporem de calçados e bolas adequados. Ele alerta ainda para a necessidade de olhar para outros públicos: “As pessoas com deficiência, por exemplo, não têm acesso a adaptações em quadras públicas. Isso mantém uma exclusão que contraria o próprio espírito do esporte”.

Além das opiniões de especialistas, atletas amadores sentem na prática os desafios enfrentados. É o caso de Cecília Oliveira, de 17 anos, moradora da Baixada Fluminense e apaixonada por futevôlei. Treinando em uma quadra improvisada em um terreno vazio próximo à sua casa, Cecília revela as dificuldades para se manter ativa no esporte.

“Comecei a jogar futevôlei com amigos da comunidade. No início, a gente usava o espaço da praça, mas depois de um tempo, a quadra ficou sem manutenção e acabamos tendo que nos virar”, conta. A atleta ressalta que, além da falta de estrutura, há preconceitos associados à prática feminina de esportes de areia. “Muita gente acha que mulher não tem espaço no futevôlei, e isso desanima. Já ouvi várias vezes que eu deveria parar de jogar porque ‘não é esporte para mim’”.

Grupo de homens jogando futevôlei em uma praia, mostrando a popularidade do esporte e a conexão entre lazer e competição nas areias. Fonte: Camille Hoffmann.

Apesar dos desafios, a jovem acredita que o esporte é uma ferramenta de transformação. “Quando estou jogando, me sinto livre. É como se todos os problemas ficassem de lado. Mas sei que, se houvesse mais incentivo, muitas outras meninas poderiam estar jogando também”.

Os esportes de areia têm um potencial único: não apenas promovem saúde e bem-estar, mas também fortalecem valores como trabalho em equipe, resiliência e disciplina. No entanto, para que esses benefícios sejam amplamente distribuídos, é necessário repensar as políticas públicas voltadas ao esporte.“O investimento em quadras acessíveis, a capacitação de professores e a inclusão de projetos esportivos nas comunidades são passos muito importantes para superar desigualdades”, reforça o educador Pedro Goloni.

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