Alô, Gragoatá!

Paralisação do bandejão da UFF evidencia crise orçamentária e ameaça a permanência estudantil

Estudantes enfrentam entraves para se alimentar e dificuldades na permanência, caso a greve se prolongue, enquanto os servidores exigem reajuste salarial e orçamentário.

Por Caroline Vitoria Nogueira Bento

A suspensão parcial do funcionamento do restaurante universitário (RU), da universidade federal fluminense (UFF), é provocada pela paralisação dos servidores técnicos – administrativos iniciados pelo SINTUFF e pela FASUBRA (defensores da conciliação de classes e de um sindicato doméstico), que tem afetado muitos estudantes que dependem do bandejão para almoçar e jantar, com alimentações acessíveis que garantem suas refeições diárias. Além de enfrentarem um futuro incerto de uma paralisação permanente que pode, por sua vez, prejudicar muitos alunos com dificuldade financeiras e trazer a insegurança quanto a continuidade na universidade. A mobilização dos servidores é essencial para a faculdade e o (RU) continuarem funcionando. Os funcionários reivindicam o reajuste salarial, reestruturação de carreira e recomposição do orçamento.

O restaurante universitário (RU) da UFF, conhecido popularmente como o “bandejão” foi criado em 1968, pela política de assistência estudantil da UFF, o primeiro restaurante foi residido no Gragoatá e se tornou o único e o maior bandejão central que temos na UFF. O projeto foi iniciado com o objetivo de oferecer refeições acessíveis e partir 0,70 para a comunidade acadêmica, visando principalmente a garantia de permanência de estudantes na universidade e promovendo igualdade de oportunidades.

A greve parcial foi motivada por uma série de fatores, entre eles estão: o corte de verbas sucessivos, o arcabouço fiscal e a reforma administrativa, que vem acontecendo desde os governos anteriores até os atuais. A paralisação é feita com objetivo de pressionar o governo federal a negociar e a cumprir os acordos que causaram a greve, as paralisações aconteceram nos dias 23 e 24 de abril e a última foi no dia 12 de maio, os mobilizadores tentaram fazer negociações com o governo, mas até agora não obtiveram respostas. Os servidores estão lutando pela defesa da universidade, para que a faculdade possa continuar sendo gratuita e pública para todos. A greve é o último recurso a ser usado para se ter resultados reais, e serem ouvidos pelas autoridades.

A interrupção parcial das atividades do restaurante universitário (RU) causada pela paralisação dos servidores, tem colocado muitos estudantes em situações prejudiciais tanto físicas quanto emocionais. Para muitos, o bandejão não é apenas um local de refeição, o restaurante é essencial para a sobrevivência e permanência de estudantes que dependem de uma refeição regular, saudável e acessível. Matheus Anderson, estudante de engenharia conta como o RU é importante para se manter na Universidade Federal: “[…] Tenho o dinheiro contado pra comer no bandejão. Quando ele fecha, gasto até R$ 40 com comida para almoçar e jantar, e isso simplesmente foge da minha realidade financeira […].”

A falta de refeições gera insegurança, ansiedade e incerteza sobre o futuro acadêmico, além de imprevisibilidade nas paralisações que impedem o planejamento diário. Alunos reclamam que muitas vezes não há aviso prévio ou alternativa oferecida pela universidade. Matheus Anderson, estudante de engenharia, reclama sobre a situação recorrente: “[…] por que se já tem um cronograma avisando, ‘poxa, não vai funcionar tal dia’, a gente até consegue se planejar. Mas, ás vezes, avisam na semana, faltando dois dias antes e nem sempre eu tô com dinheiro para poder comprar comida no dia. Então é triste ter que conviver com essa insegurança”. Essa realidade é agravada principalmente para estudantes que moram longe ou em repúblicas universitárias, que somam custos com moradia, transporte e alimentação, e mesmo com ajuda de auxílios da UFF muitos não conseguem se manter, como relata o aluno Levi Medeiros, estudante de Relações Internacionais: “O RU não é só uma comida acessível. É o que sustenta a presença de muita gente aqui. Quando ele para, os corredores esvaziam. Se essa situação se prolongar, muita gente vai ter que trancar o curso.” Os estudantes compreendem e apoiam a mobilização dos servidores, a maioria reconhece que a precarização do trabalho técnico-administrativo está diretamente ligada à qualidade dos serviços oferecidos a eles pelo bandejão.

 A greve parcial que afetou diretamente o funcionamento do restaurante universitário (RU) tem uma origem de longa data. Os servidores estão a mais de sete anos sem reajuste salarial, mesmo ocupando cargos com os menores vencimentos do executivo. Além disso, os funcionários reivindicam a reestruturação de carreira (plano de cargos e salários) e a recomposição dos orçamentos da universidade, que está cada vez mais sucateada.

A mobilização atual faz parte de uma série de paralisações nacionais coordenadas pelo Sintuff e pela Fasubra (defensores da conciliação de classes e de sindicatos domesticados). Os representantes relatam que essas ações são estratégias necessárias para pressionar o governo federal a cumprir os acordos firmados anteriormente, mas ainda não colocados em prática. Lucyene Almeida, uma das coordenadoras gerais do Sintuff fala sobre a situação: “[…] o último acordo firmado após 113 dias de greve ainda não foi cumprido na íntegra. Toda vez que o governo convoca uma mesa de negociações sem respostas concretas, somos orientados a continuar as paralisações para ter uma resposta efetiva.”

A paralisação do Restaurante Universitário (RU) da UFF é mais do que um episódio isolado, ela escancara os efeitos acumulados de uma política de desfinanciamento da educação pública e revela como estudantes e servidores estão na mesma situação. No centro da crise, uma instituição que tenta sobreviver com orçamentos reduzidos e promessas descumpridas.

O Sintuff, sindicato que integra a coordenação da paralisação do restaurante universitário (RU), comunicou que a categoria já está entrando em um estado de greve. E o que seria o estado de greve?  O estado de greve indica que a greve ainda não foi oficialmente iniciada, mas está em processo de construção. As paralisações funcionam como etapas de mobilização e preparação para uma possível greve oficialmente a seguir.

Vale lembrar que nos dias 1, 2 e 3 de julho ocorrem as eleições para a nova coordenação e conselho fiscal do sindicato.


Fontes que contribuíram para a construção da matéria:
Carlos Henrique Fonseca Joaquim – (estudante de cinema)

Levi Medeiros Evangelista – (estudante de Relações internacionais)

Matheus Anderson Bastos dos Santos – ( estudante de engenharia elétrica)

Valentina Bomfim da Silva – (estudante de estudos de mídia)

Leticia Miranda de Oliveira Silva de Lima – (estudante de segurança pública e social)

Carlos Abreu Mendes – ( ex funcionário do bandejão e aposentado, faz parte da coordenação do sintuff)

Lucyene almeida de Faria Brito – ( trabalha na biblioteca do Gragoatá, e é uma das coordenadoras gerais do Sintuff)

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