Alô, Gragoatá!

As Pessoas De Estilo Alternativo Se Sentem Confortáveis Na UFF?

A maioria dos alunos acredita que existe preconceito contra pessoas alternativas na Universidade

Por: Valentine Muniz

Foto: Valentine Muniz

     O estilo alternativo é caracterizado como um modo de se vestir fora do padrão e que cria as próprias tendências em vez de seguir as que estão em alta. Dentro dessa categoria, existem diferentes tendências. Durante a pandemia de 2020, os estilos que estavam fazendo bastante sucesso na época eram o indie, com roupas vintage, de tons terrosos e pastéis, padrões florais e xadrez e ar descontraído e despreocupado; o e-girl, com elementos punk e gothic, roupas predominantemente pretas com detalhes coloridos e vibrantes, maquiagem pesada nos olhos, cabelo comumente colorido e ar sombrio e doce ao mesmo tempo; e o alt style, com roupas escuras e pretas, combinação de acessórios e um ar mais rebelde e dark. Porém, as pessoas que usam roupas alternativas, que chamam a atenção por justamente serem externas à norma social, sentem algum tipo de desconforto ou situação desagradavel por se vestirem como gostam?

     É importante ressaltar que a moda está sempre mudando, por isso é normal que roupas e estilos que estão no auge hoje se tornem “cafonas” no futuro, mas o descaso com o estilo alternativo não é novidade. Por isso, as pessoas que aderem a esse estilo são comumente apontadas como “diferentes”, ou até “esquisitas”. Desse modo, passa a existir uma pressão social e estética em se padronizar a fim de se enquadrar.

     Numa pesquisa feita pela Revista Esquinas, da Faculdade Cásper Líbero, em 2022, os alunos entrevistados disseram se sentir pressionados em se vestir de certa forma e em se enquadrar num estilo padronizado de acordo com a universidade ou curso específico. Além disso, houve uma demonstração de insegurança dos estudantes em usarem as roupas que desejam. Entretanto, é necessário pontuar que essa matéria foi feita numa faculdade particular de São Paulo, ambiente completamente diferente da Universidade Federal Fluminense, tanto em sua localização quanto nas realidades socioeconômicas ali existentes. Por isso, o Alô Gragoatá entrevistou alunos da UFF para entender se esse cenário se repete aqui também.

“Muita gente me encara”, Amanda Lima, estudante de Artes

     Ao entrevistar 15 alunos da UFF presencialmente e por meio de um formulário online, 10 pessoas acreditam que existe sim algum tipo de hostilidade em relação às pessoas alternativas na Universidade. E 5 alunos  já presenciaram ou sofreram alguma situação desconfortável em relação ao estilo próprio ou de outra pessoa na UFF. Alguns relatos contam com a experiência de comentários maldosos e olhares reprováveis, pessoas de estilo alternativo sendo fotografadas como meio de serem ridicularizadas entre grupos de amigos, gente “apontando o dedo”, olhares desconfortáveis, burburinhos e piadas. 

     A fim de compreender melhor por que o estilo alternativo continua sendo alvo de preconceito mesmo no ambiente universitário, o Alô Gragoatá entrevistou a jornalista de moda Mariana Silva, formada pela UFMG.

Nessa sociedade em que a gente vive, tudo que é diferente provoca olhares e causa algum tipo de estranhamento. A roupa, o estilo, é uma das primeiras coisas que a gente vê em uma pessoa, como ela está vestida, o corte de cabelo, um enfeite, enfim, se isso é muito diferente do que a gente considera normal, isso gera algum estranhamento. […] Então o que pode causar o preconceito é essa diferença, (que) pode trazer instabilidade para um grupo social e na universidade não é diferente, ainda mais sendo um lugar de formação social, que está mostrando para eles as regras e as condutas.

     Entretanto, é perceptível que o estilo alternativo, embora seja hostilizado de maneira geral, é recebido e entendido de maneira diferente dependendo do curso e da área de conhecimento. Os alunos de arte, por exemplo, disseram não presenciar nenhuma situação do tipo, especialmente no Instituto de Artes e Comunicação Social. “Aqui no IACS eu nunca vi ninguém sendo chamado de estranho ou sofrendo bullying por conta de estilo nenhum. Talvez alguém que você entreviste vai acabar falando de uma experiência ruim que teve, mas eu presenciar algo assim nunca rolou”, comenta Isabela Rodrigues, aluna de artes. Mas muitos alunos de direito afirmaram que veem o preconceito mais evidente, já que o curso teria uma “padrão” de vestimenta associado à seriedade e a formalidade e por isso existe uma pressão maior em não se diferenciar ou destoar. Sobre isso, Mariana explica:

Se você vai numa faculdade de artes, ali a criatividade é mais bem-vinda, inclusive esperada, então ali o estilo é mais livre, as pessoas podem ousar mais sem ter tanto julgamento, sem ter tantos olhares etc. Agora, se você vai, por exemplo, num curso de medicina, aí a história é outra, porque a faculdade de medicina tem muitas regras, as pessoas têm que seguir certas condutas, inclusive têm que seguir alguns manuais. (…) Eu estou dando o exemplo da medicina, mas você pode pensar nas engenharias também, ou nas economias. Então tudo que tenha uma liberdade criativa tem também uma liberdade criativa no vestir; e tudo que é mais sério, mais fechado, é também nas roupas.

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