Alô, Gragoatá!

Entre pistas e livros: um refúgio literário para o pensamento crítico na UFF

Clube do livro “Chá com a Rainha do Crime” une a literatura ao raciocínio crítico através de obras da epônima Agatha Christie.

Por: Luiz Miguel Monteiro

É quase impossível fugir da produção literária no âmbito acadêmico. Na universidade, o corpo docente estabelece a literatura como meio primeiro de disseminação de conhecimento e como base para estudos, e alunos são apresentados às mais diversas recomendações bibliográficas de professores mas que, muitas vezes, se baseiam exclusivamente em textos científicos. Nesse contexto, o consumo de literatura de ficção muitas vezes é resumido a momentos de lazer e deixado de lado no dia-a-dia universitário. Em um cenário como este, projetos como o “Chá com a rainha do crime” ganham destaque: através da leitura dos romances policiais de Agatha Christie (1890-1976), o clube do livro coordenado pela professora Michely Vogel serve como um meio de resistência a perda do hábito de leitura entre os brasileiros que afeta diretamente os estudantes da UFF. 

“É ‘Chá com a Rainha do Crime mesmo’, então a gente trás o chá, a gente trás os biscoitinhos, tem uma comilança ali…” (Foto: Clube do Livro “Chá com a Rainha do Crime)

Com uma espécie de suspense e sublimidade impressionantes, os mais de 80 livros publicados por Agatha Christie ao longo de suas seis décadas de carreira são capazes de conquistar qualquer um que entre em contato com as obras da autora, que não recebe o título de “Rainha do crime” em vão. Refletindo a partir do clube do livro de nome epônimo, diversos aspectos de suas histórias são relevantes para discussões no contexto universitário: “Há estudos que mostram que a literatura policial desenvolve esse pensamento da descoberta, de tentar olhar pistas, e a Agatha Christie é sem dúvida um expoente, é uma das principais autoras de obras policiais, de obras de detetive que a gente tem no mundo […] A gente acha que dentro do ambiente universitário unir essa coisa das pistas, de tentar achar o motivo, o culpado, pode contribuir para você aprender a melhorar a sua interpretação, melhorar o seu raciocínio, e assim construir um posicionamento mais crítico”, afirma Michely, coordenadora do projeto.

A cada encontro o clube recebe um convidado que de alguma forma se relaciona com as obras de Agatha Christie; Em 13 de dezembro, a convidada foi Cristiane Siqueira, autora do blog “Agatha Christie obra e autora” <agathachristieobraeautora.blogspot.com> (Foto: Alô Gragoatá)

O último encontro do clube em 2024, ocorrido no dia 13 de dezembro, assim como os anteriores, foi frequentado por um público majoritariamente feminino, fato que conversa com o evidenciado pela sexta edição do levantamento “Retratos da Leitura no Brasil,” pesquisa que busca explorar os hábitos de leitura dos brasileiros que, além de relatar uma queda no percentual geral de leitores no país, manteve a estimativa de que as mulheres leem mais do que os homens, fato que vêm sendo registrado desde a segunda edição do levantamento, em 2007, desta vez relatando 50,4 milhões de mulheres leitoras no país em relação à 42,9 milhões de homens leitores. O estudo, realizado pelo Instituto Pró-Livro, é considerado o mais completo ao estimar o comportamento dos leitores no Brasil.

“O que eu quero investir agora é nessa coisa do fomento à leitura,” diz Michely. O clube do livro marca o seu primeiro projeto de extensão, o qual ela diz ser uma experiência de grande aprendizado. Um encontro presencial é realizado mensalmente à sexta-feira, seguido por um encontro on-line ao sábado, que busca abranger um público ainda maior. “Por incrível que pareça, a gente tá dentro da universidade, cheio de bibliotecas, cheio de informação, mas às vezes não tem espaço para ‘literatura literária’ aqui dentro. Então a gente, com o projeto, tem visto que as pessoas ficam felizes de poder encontrar esse espaço aqui dentro da universidade para conversar sobre”.

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