Alô, Gragoatá!

A PARADA LGBTQIAP+ EM NITERÓI AINDA É UM SÍMBOLO DE RESISTÊNCIA?

Por: Valentine Muniz

Parada LGBTQIAP+ de Niterói, 2024. Foto: Valentine Muniz.

     A 18ª Parada LGBTQIAP+ de Niterói aconteceu no dia 1 de dezembro de 2024. A concentração inicial foi às 13:00, em frente à reitoria da UFF, na rua Miguel de Frias, e por volta das cinco da tarde, a rua da praia de Icaraí, Avenida Jornalista Alberto Torres, foi fechada para o desfile. O tema desta edição foi “Um novo tempo há de vencer: Unidas, PREparadas & Organizadas”, destacando a urgência de fortalecimento da união da comunidade contra a LGBTfobia. Já a sigla PrEP reforça a importância do acesso à prevenção contra HIV, conectada ao Dia Mundial da Luta contra a Aids, celebrado justamente no dia 1.

     Com anos de celebração da Parada em diversas cidades do país e com a comunidade conquistando direitos, como o de casamento entre pessoas do mesmo gênero, a criminalização da homofobia e da transfobia, a retificação do nome de pessoas transexuais e adoção para casais homossexuais, será que a Parada LGBTQIAP+ de Niterói ainda é um evento de símbolo de resistência?

Origem de Parada LGBTQIAP+ em Niterói

     No início dos anos 2000, a Cantareira, local conhecido e frequentado pelos alunos UFF, costumava ser um lugar perigoso, em que pessoas da comunidade eram comumente perseguidas e agredidas. A situação revoltou muitos jovens: um deles, Victor de Wolf, atual diretor do MAC, que decidiu enfrentar a violência contra si e seus colegas, e assim começou a nascer o Grupo Diversidade, com discussões sobre o movimento LGBT

     O evento, que ocorre anualmente em dezembro, perto do Dia Internacional dos Direitos Humanos (10), é organizado pelo grupo desde então e foi inspirado nas Paradas das grandes capitais, como a cidade do Rio e de São Paulo.

Afinal, qual a importância da Parada em Niterói?

As pessoas levam a Parada atualmente como se fosse um segundo Carnaval, diz Camila, uma mulher bissexual.

     Depois de 20 anos da criação do Grupo Diversidade de Niterói e 18 anos de Parada, o cenário social e político passou por diversas mudanças. Além de direitos civis conquistados, nos últimos anos houve também maior reconhecimento e inclusão de pessoas LGBT nas mídias. “Hoje a Parada continua sendo sinônimo de resistência, de ato político e de expressar que nossos corpos podem estar em qualquer lugar que a gente esteja, independente do lugar que a gente esteja”, afirma Gabriel, bissexual. Assim, existem diversas motivações para as pessoas irem à rua festejar e celebrar as vitórias conquistadas pela comunidade.

     Entretanto, houve muito retrocesso também. Em 2023, a Comissão da Câmara aprovou um projeto de lei que proíbe o casamento homoafetivo e, mesmo este projeto sendo inconstitucional, ele foi votado e aprovado por uma maioria no Congresso. Além disso, o Brasil ainda ocupa o topo da lista de países que mais matam pessoas trans e o país com maior quantidade de registros de crimes por homofobia no mundo, segundo o Grupo Gay da Bahia. 

     Além disso, pessoas alegam que o movimento pode ter perdido sua finalidade política ao longo dos anos. “[O evento] era mais educativo no sentido que só vinha para a rua quem queria mostrar para as pessoas ‘olha, eu sou isso aqui, eu não tenho vergonha de mim’. Hoje em dia vem qualquer pessoa porque virou festa, as pessoas só não se importam com toda essa causa política”, afirma Camila. Sobre isso, Victor Hugo, gay, também comenta: “Eu acredito que, em parte, [a Parada] deixou um pouco esse lado político e acredito mais que outras pessoas estão levando a parte política mais a sério, como a Érika Hilton, que está dando importância à várias pautas da comunidade”.

     Existe também um pessimismo das pessoas da comunidade em relação às novas gerações. Camila comenta: “Eu sinto que os jovens cada vez menos se interessam [pela Parada]. Eles não ligam […] Se você perguntar para uma pessoa mais nova [sobre a Parada], ninguém vai entender o significado de uma bandeira, o peso de terem pessoas mais velhas, etc”. E Júlia, lésbica, afirma: “Está tendo muito essa onda de jovens conservadores, então eu não sei se seria [um cenário] de esperança, mas eu gostaria que fosse”. De fato, estudos recentes conduzidos pela Kings College mostram que a expansão da extrema direita não está restrita apenas às gerações mais antigas, mas também é observada nos jovens da geração Z. As redes sociais possuíram e possuem muita influência na formação destes como mais conservadores. Essas narrativas digitais têm uma forte ênfase na ameaça que os movimentos feministas e LGBTQIA+ representam para a centralidade da família. 

     Mesmo com críticas, a Parada ainda movimenta milhares de pessoas, seja em Niterói ou em todo país. Esta tem a finalidade tanto de ser uma celebração das identidades LGBT quanto de uma manifestação; pessoas vão lá para se divertir e/ou para reivindicar direitos. “É um lugar onde você consegue socializar, curtir ao mesmo tempo, você conhece pessoas, envolve política também, eu acho que gira em torno de tudo”, afirma Maria Luiza, bissexual.

E, no fim, no cenário violento que o Brasil se encontra, ir à rua nesse dia para mostrar-se com orgulho já é um ato de resistência.

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