Desvende a arquitetura do IACS e entenda os desafios enfrentados pelos estudantes, docentes e demais frequentadores da UFF para encontrar seu destino nos corredores intricados do instituto.
Por Hilana Mello

O Novo IACS é fruto de um sonho coletivo. O instituto, em formato horizontal, demorou bastante tempo para ser construído devido a uma série de burocracias que giraram em torno do projeto. A ideia era que o IACS fosse um ambiente de maior proximidade e interação entre os discentes, professores e departamentos que regem o instituto, tornando a direção e os demais campos que administram o “prédio” mais acessíveis aos alunos. No entanto, apesar da projeção horizontal ser mais fluida e facilitar os encontros por acaso, a comunicação e a socialização entre as pessoas, vários frequentadores do IACS ainda perdem diariamente o senso de direção aotentarem se deslocar pelos corredores emaranhados do ambiente visto que a arquitetura do “prédio”, emborapossua uma projeção espacial inovadora, é muito singular, o que causa estranhamento e dificulta exponencialmente a orientação pelas diferentes áreas do local.

Segundo Antonio Amaral Serra, ex-diretor do IACS, aestrutura verticalizada sob a qual foram construídos os demais blocos da UFF não propicia a interação entre as pessoas que frequentam o bloco e, ao contrário do que o IACS propunha durante seu desenvolvimento, a projeção vertical segmentaria as pessoas por dividir todos em andares distintos e por não possibilitar esses encontros com frequência.
“Eu acho essa estrutura, digamos verticalizada, de cinco pavimentos… acho que ela tem uma tendência de segmentar as pessoas em vez de promover uma interação entre elas. A estrutura horizontal é mais fluida nesse sentido de propiciar encontros de convergências, enquanto na estrutura de cinco andares, as pessoas tendem, até para uma comunidade natural humana, a permanecer no seu andar e ignorar os colegas.”, afirma Antonio Serra em seu discurso.
O “prédio”, embora não possa ser fielmente definido como tal pela sua estrutura diferenciada, conta com dois andares principais e cerca de 115 salas e 11 blocos divididos em ordem crescente desde a portaria principal até os fundos do instituto. O IACS também conta com anfiteatro, estúdios, auditório, pátios descobertos e áreas abertas de convivência para serem explorados e desvendados pelos frequentadores. No entanto, apesar de toda essa criatividade estrutural, o instituto ainda é alvo de críticas por não se adequar aos padrões mais simples de modelos de espaços urbanos, seja pela semelhança monótona entre os corredores, seja pela própria organização dos blocos que aparenta ser confusa para uma parcela significativa de estudantes e até professores da UFF.
“Um mesmo bloco pode fazer parte de dois corredores ou até três corredores. O primeiro corredor tem sala J3, J1, J4 e J2. Como explicar para alguém que a J4 tá do lado da J1? Acaba não fazendo muito sentido. Não é tipo… um corredor grande, você entra, segue reto e entra direto. Para sair, sei lá, da J3-A, você tem que ir até o corredor do meio, virar à direita, à esquerda, esquerda, direita, direita, esquerda. É meio confuso para mim e o mapa não ajuda muito. Toda primeira vez que eu tenho alguma aula numa sala diferente, eu me perco.”, disse João Vitor de Almeida, estudante de Jornalismo da UFF, expressando sua insatisfação.

Rayssa Cristina da Costa, estudante de Publicidade e Propaganda da universidade, também expressou seu ponto de vista referindo-se ao Novo IACS como um local confuso. “Para mim, é bem confuso. Eu achava que poderia ter uma estruturação um pouco melhor dos corredores e dos blocos, porque eu estudo aqui há quase um ano e, se você me falar em que sessão você está, eu não vou saber dizer. Eu ando em círculos, porque tudo parece dar no mesmo lugar. Então, eu vou pegando pontos de referência bem fáceis de achar para poder me guiar para as salas. ‘Ah! Esse aqui é perto da entrada! Esse aqui é perto da rampa!’, porque os corredores parecem iguais. Então, às vezes, eu preciso pedir ajuda dos funcionários ou dos meus amigos para me localizar.”
Por outro lado, para algumas pessoas que acompanharam o processo de projeção do IACS, tal como Antonio Serra, discordam veementemente dessas perspectivas e garantem que o projeto do instituto não foi idealizado para confundir, mas para fortalecer os laços sociais entre as pessoas e possibilitar também um estímulo de integração e aventura entre os frequentadores do “prédio”.
“Se você, sem experiência, entrar em uma biblioteca, você vai demorar também a descobrir qual é a lógica daquela biblioteca, até porque as bibliotecas não se organizam elementarmente por ordem alfabética e pronto. Então, eu poderia dizer de má vontade ‘Chega! Vou ver no Google’, mas não seria a mesma coisa que percorrer e descobrir.Então, é preciso ter essa disposição do aprendizado amplo e diversificado, pois qualquer espaço que você não conheça, é confuso para você.”, pontuou Antonio Serra.
“Você, quando vai a um shopping novo, por exemplo, você não sabe como ele está estruturado, mesmo que você tenha até informações, quadros, setas, essa primeira ou as primeiras vezes que você frequenta são também momentos de conhecimento, de desvelamento. E mais do que isso, na perspectiva do projeto, esse descobrimento vai ser feito por você. É a sua, digamos… sua ‘motivação exploratória’. Você está entrando em um lugar novo no qual você vai poder realizar ali atividades diversificadas, ter ali um momento novo da sua forma de convivência humana, da sua descoberta de outras pessoas, de afetos, de diferenças de pensamento e etc.”, reforçou Antonio.
Logo, compreende-se que o Novo IACS não é apenas um “prédio” construído em módulos horizontais sem sentido ou planejamento prévio, mas um projeto de muitos anos idealizado por pessoas que buscavam promover a interação social, a inovação, a originalidade, a dinamicidade e até oferecer um pouco de aventura para aqueles que ousarem explorar os corredores emaranhados desse labirinto peculiar e espirituoso.