Por: Letícia Santos
No mês de novembro de 2024, Niterói enfrentou uma onda de calor recorde, com máxima acima de 40,1 graus e sensação térmica ainda mais alta, conforme medido pelo INMET (Instituto Nacional de Meteorologia). A população da cidade, afetada pela combinação de alta radiação solar, baixa umidade e ausência de ventos, enfrenta desafios em sua saúde e bem-estar, consequência do cotidiano, principalmente pelo aumento das doenças relacionadas ao calor e às dificuldades de adaptação. Pesquisas realizadas pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) alertam sobre os desdobramentos dessa intensificação do calor extremo, sugerindo que, se nada for feito, a cidade e outras regiões do país poderão enfrentar condições ainda mais insuportáveis no futuro.
Gráfico de Anomalia de precipitação em novembro de 2024 | Fonte: Portal INMET
Impacto na Saúde e no Cotidiano
As condições climáticas são um desafio que impacta o cotidiano e a saúde pública Niteroiense, ao afetar principalmente grupos vulneráveis: crianças, idosos, pessoas com comorbidade e trabalhadores expostos ao clima intenso. A estudante de enfermagem da Universidade Federal Fluminense (UFF), Ingrid Faraj, relata “a desidratação, insolação, em certos casos leva a sensação de fraqueza, náuseas e aumento da sudorese e caso essa desidratação persista isso pode causar até problemas renais ou doenças respiratórias… importante ter um cuidado especial com indivíduos com problemas respiratórios, além dos idosos e crianças como já foi dito.”
Além disso, a estudante de enfermagem sugere integração de estratégias, como monitoramento ativo de áreas de risco e a criação de unidades móveis de atendimento, o que pode ser crucial para reduzir o impacto na saúde devido ao calor extremo, principalmente nas comunidades mais carentes de Niterói.
Cidadã niteroiense, compartilha sua experiência com o calor e como ele afeta o seu dia a dia, além dos esforços constantes em lidar com os meses de clima sufocante. Moradora de Niterói, Vitória Zatti, relata “Em Niterói, o calor impacta muito a minha rotina, principalmente pela falta de infraestrutura adequada. O transporte público, por exemplo, é uma das maiores dificuldades.” Sua declaração reflete uma das dificuldades que os moradores Niteroiense enfrentam. “Pegar ônibus lotados, sem ar-condicionado ou ventilação adequada, faz com que muitas pessoas passem mal.”, conclui e observa a ausência de bebedouros públicos, uma possível dificuldade na hidratação, tornando o enfrentamento do calor ainda mais desafiador para quem precisa se deslocar pela cidade.
Medidas do Corpo de Bombeiros de Niterói diante do aumento do risco de incêndios.
Com o aumento do calor extremo, os incêndios em áreas urbanas e de vegetação se tornam um risco ainda mais preocupante em Niterói. Diante do cenário, informar a população sobre possíveis ações eficazes por parte do Corpo de Bombeiros é essencial. Não apenas no combate direto às chamas, mas também em medidas preventivas que minimizem os impactos desses eventos. Seja a partir de campanhas de conscientização, do mapeamento de áreas de risco ou na articulação com outros órgãos municipais, as iniciativas buscam enfrentar o agravamento de incêndios que as altas temperaturas podem causar.
Para entender melhor as estratégias adotadas, o Corpo de Bombeiros de Niterói foi acionado, mas, até o fechamento desta matéria, não obtivemos resposta.
Perspectivas Futuras e Soluções Propostas
A instabilidade de temperatura em Niterói pode ter como um dos fatores a relação direta com a ausência de uma política urbana, ligado à degradação da qualidade de vida populacional de forma equitativa, nas cidades. O estudante de Engenharia de Recursos Hídricos e do Meio Ambiente, da Universidade Federal Fluminense (UFF), Gabriel Martins, relata “a falta de uma política de planejamento urbano efetiva, que dê foco em arborização e sistemas que atendam a população como um todo, afeta a qualidade de vida e promove um aumento do desconforto climático“.
O estudante de engenharia deixou em evidência os planejamentos atuais de Niterói, ao comparar zonas do Ingá, Icaraí e Centro da cidade. Ressalta que o Ingá, por exemplo, é uma das áreas mais bem arborizadas e, por conta disso, sofre menos com as altas temperaturas. Já o Centro, com construções predominantes em concreto e asfaltos, se torna uma verdadeira ilha de calor, agravada pela falta de vegetação e infraestrutura adequada, em destaque os limites do Morro do Estado até o Centro.
Centro, Niterói | Imagem: Letícia Santos.
Icaraí, Niterói | Imagem: Letícia Santos.
Além disso, locais como o Morro do Estado são particularmente vulneráveis às intensas ondas de calor. O estudante de engenharia relata, “as comunidades, devido à autoconstrução e alta densidade populacional, enfrentam desafios como a falta de áreas verdes, infraestrutura precária e maior exposição a fenômenos climáticos extremos”. Alerta também sobre a desigualdade climática em áreas periféricas.
Dentre as perspectivas futuras e soluções propostas, o estudante de engenharia declarou a necessidade de investimentos em arborização urbana – principalmente na criação de praças públicas e parques – além de promover a vegetação em espaços residenciais e comerciais. A melhoria da infraestrutura no Centro a partir da substituição de materiais que absorvem calor por opções que refletem a radiação solar, como pavimentos permeáveis e o uso de telhados verdes, políticas públicas inclusivas e promoção de justiça climática também são práticas consideráveis.
Conexão com a Agenda 2030
A cidade de Niterói desempenha um papel fundamental no enfrentamento das mudanças climáticas e na construção de um futuro mais sustentável, alinhando-se aos objetivos da Agenda 2030. Em particular, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 3 (Saúde e Bem-estar) e 15 (Vida terrestre) são essenciais para o planejamento de ações que buscam promover a saúde e preservar o meio ambiente.
Como destacado pela estudante de enfermagem e de engenharia, as áreas verdes desempenham um papel crucial na melhoria da qualidade do ar, redução do estresse e combate às ondas de calor, especialmente em áreas mais vulneráveis. Essas áreas naturais não apenas contribuem para a saúde pública, ao reduzir o risco de doenças respiratórias, como também promovem o bem-estar físico e mental da população, conforme enfatizado no ODS 3.
Além disso, a preservação da biodiversidade e o combate às queimadas são ações-chave. Em Niterói, a implementação de políticas de conservação, especialmente em áreas naturais como florestas e zonas costeiras, é necessária. O manejo sustentável do solo, alinhado ao ODS 15, protege, restaura e promove o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, além de prevenir a degradação e favorecer a restauração ecológica.
Essas ações são fundamentais para enfrentar os desafios climáticos e garantir a sustentabilidade para as futuras gerações de habitantes da cidade.