Alô, Gragoatá!

Comércio, moradores e pessoas em situação de rua: convivência e conflitos na Praça da Cantareira

Por Thaís Americano

Como é possível conciliar os interesses de comerciantes, moradores e pessoas em situação de rua em um mesmo espaço público? Na Praça da Cantareira, região movimentada, essa convivência traz desafios e questionamentos.

Na frente da Universidade Federal Fluminense (UFF), a Praça da Cantareira é um ponto estratégico de Niterói. Conhecida pelo seu intenso fluxo de pessoas, reúne estudantes, moradores da região, bares, restaurantes e outros comércios. Ao mesmo tempo, é um espaço marcado pela presença constante de pessoas em situação de rua. Entre convivência e conflitos, a matéria revela diferentes percepções sobre o mesmo espaço, mostrando que a Praça da Cantareira é muito mais do que um ponto de passagem: é um local onde vidas se encontram e histórias se cruzam.

“A lapa de Niterói”

A Cantareira é uma região dinâmica e popular de Niterói, localizada na Zona Sul da cidade, no histórico bairro de São Domingos. O local possui um vasto legado histórico, tendo sido cenário das primeiras assembleias da Câmara Municipal e até mesmo acolhido o rei D. João VI.

O termo “Cantareira” tem origem no emblemático prédio da Estação Cantareira, uma edificação antiga, revitalizada e adaptada para ser um centro cultural. Ao seu redor, a área é apelidada de “Lapa de Niterói”, em alusão ao célebre bairro boêmio do Rio de Janeiro, devido à grande concentração de bares, pubs e restaurantes que ocupam antigos sobrados. A região atrai estudantes da Universidade Federal Fluminense (UFF) e moradores locais, que encontram ali um espaço para convivência, lazer e cultura. Esse cenário plural mescla patrimônio, cultura, entretenimento e uma vibrante vida urbana.

A pauta é convivência

Entre mesas ocupadas por clientes e a constante movimentação de pedestres, um garçom de um dos bares da região, que preferiu não se identificar, relata sua vivência de anos em um dos bares locais:  “A situação é bem complicada, isso afasta os clientes.” Para ele, o receio da agressividade de algumas pessoas em situação de rua é uma das causas desse afastamento por parte dos clientes, bem como, a abordagem dos mesmos aos frequentantes do estabelecimento e o fato de necessidades fisiológicas serem feitas na região.

A visão de quem mora na região é representada por Anna Beatriz Vilete, moradora da região, e também estudante da UFF. Quando questionada se há uma sensação de insegurança ao circular pela praça, ela responde: “Depende muito dos horários em que estou circulando. Durante o dia é mais tranquilo e até tem mais pessoas passando junto comigo, mas muitas vezes já voltei da faculdade às 22:00 ou 22:30 e me senti um pouco aflita com a má iluminação do local.”  Para a moradora, há uma evidente inoperância governamental em buscar soluções que contemplem e humanizem essas pessoas em situação de vulnerabilidade social com políticas públicas. 

Hotel Social

Para aprofundar a compreensão dos desafios enfrentados por quem vive nas ruas, conversamos com uma psicóloga e coordenadora geral no Hotel Social para População em Situação de Rua da Secretaria de Assistência Social e Economia Solidária de Niterói. Ivana Fortunato  relata que osprincipais desafios enfrentados são os efeitos psicossociais gerados por situações de preconceito, violência e miséria. Em geral, são pessoas com trajetórias marcadas por violências familiares e territoriais. A maioria é formada por pessoas negras, pobres, vindas de territórios marginalizados e muito empobrecidos, que passaram por muitas privações ao longo da vida. No hotel os indivíduos são acompanhados por psicólogos, assistentes sociais e educadores sociais, que buscam viabilizar acesso a direitos como moradia, alimentação, saúde, justiça, empregabilidade, educação, entre outros. O acompanhamento busca minimizar as vulnerabilidades individuais e as sociais (através das poucas políticas públicas existentes), fortalecer a autonomia do indivíduo e fortalecer seus vínculos familiares e comunitários.

Pessoas em situação de rua podem buscar atendimento no Centro POP (Centro de Referência Especializado para a População em situação de rua). Lá, elas são atendidas e são avaliadas as duas demandas, é possível emitir 2° via de documentação, se inscrever no Cadastro Único, ser encaminhada para serviços de saúde, educação e outros. Quando é avaliado que aquele sujeito precisa de proteção integral para que possa reconstruir sua autonomia, vínculos familiares e comunitários, necessitando do suporte de moradia temporária, alimentação, segurança, atendimento técnico contínuo, entre outros, a pessoa é encaminhada para uma unidade de acolhimento, como o Hotel Social.

A convivência entre comerciantes, moradores e pessoas em situação de rua na Praça da Cantareira segue como um tema de constante debate e reflexão.

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