Alô, Gragoatá!

A Leitura Acadêmica Ganha Voz na UFF: “Livros Falados”, o projeto que transforma bibliografia acadêmica em áudio

por Carolina Irigoyen

Criado em 2023 por duas alunas do curso de Jornalismo da Universidade Federal Fluminense (UFF), o projeto Livros Falados transforma textos acadêmicos em áudios gravados por estudantes. A iniciativa surgiu como alternativa para ampliar o acesso às bibliografias obrigatórias, especialmente para pessoas com deficiência visual, alunos que conciliam estudo e trabalho, e aqueles com dificuldade de concentração para leituras extensas.

A ideia nasceu da vivência cotidiana das criadoras, Sara Rosário e Júlia Azevedo, que percebiam as dificuldades de conciliar o tempo de deslocamento com os estudos. “A gente passava muito tempo no ônibus voltando e indo para as nossas casas, então via que o nosso tempo de dedicação aos estudos era diminuído por conta disso”, explica Sara. Ao observarem também que não havia formas acessíveis de leitura para estudantes com deficiência, decidiram criar uma alternativa sonora para os textos exigidos nas disciplinas do curso.

O objetivo, segundo Sara, foi desde o início tornar o ensino mais prático e democrático: “Criamos o Livros Falados com o objetivo de tornar o ensino acadêmico um pouco mais prático, mais acessível e, também, como uma forma de tentar democratizar o ensino.”

Foto: Spotify/Livros Falados

Com gravações feitas pelos próprios estudantes, o projeto busca não apenas tornar o conteúdo acessível a quem tem limitações visuais, mas também a quem não consegue se concentrar na leitura tradicional. “Permite que pessoas com deficiência visual, por exemplo, tenham acesso a uma outra ferramenta […] ou até mesmo para pessoas que não têm concentração suficiente para fazer a leitura de um texto acadêmico”, complementa Sara.

Ela também destaca o papel do projeto em romper barreiras dentro da universidade, alcançando pessoas de fora do espaço acadêmico: “O Livros Falados, por gravar textos da comunicação social, textos clássicos, textos contemporâneos também, permite que outras pessoas tenham acesso […], aquilo de quebrar os muros da universidade, que o projeto de extensão tem como objetivo.”

O impacto do projeto já foi reconhecido institucionalmente: o Livros Falados é vencedor do Prêmio Josué de Castro de Extensão, promovido pela UFF. A premiação destaca iniciativas que contribuem para a democratização do conhecimento e o fortalecimento do papel social da universidade pública. “A Júlia foi a primeira a ver. Então ela mandou uma mensagem pra mim falando: ‘Sara, a gente conseguiu, a gente ganhou.’ Ficamos super felizes”, relembra Sara.

Para Júlia Azevedo, cofundadora do projeto, um dos momentos mais marcantes foi a gravação do texto “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, de Walter Benjamin. “Foi o primeiro texto que ficou com mais de duas horas de bruto, e mais de uma hora de gravação limpa. A gente estava no começo ainda, e é um texto mais complexo de interpretar e também de falar, de ler em voz alta”, relata.

Para além das experiências pessoais de gravação, o acervo construído pelo projeto revela seu valor acadêmico mais amplo. Entre os episódios já publicados estão leituras de obras clássicas e contemporâneas fundamentais para diversas áreas do conhecimento, como “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, de Walter Benjamin; “Etnografia: Ser Afetado”, de Jeanne Favret-Saada; “Teoria do Jornalismo”, de Felipe Pena; “Racismo Recreativo”, de Adilson Moreira; e “Dos Meios às Mediações”, de Jesús Martín-Barbero. Há também artigos relevantes sobre subjetividade, linguagem fotográfica, análise de discurso, cultura da convergência e narrativas no telejornalismo, que dialogam com temas da filosofia, sociologia, cinema e comunicação. Ao transformar esses textos em conteúdo acessível, o Livros Falados contribui para democratizar o acesso ao pensamento crítico e reforça o papel da universidade como espaço de difusão do saber.

Atualmente, o Livros Falados é formado por uma equipe multidisciplinar. Além das cofundadoras Sara e Júlia, integram o projeto Helen Britto (professora de Jornalismo e coordenadora), Marcelo Santos (técnico de som do IACS), Davi Rocha (desenvolvedor do site) e os estudantes Maria Eduarda Goulart, Mariana Godinho, Ana Caroline dos Santos e Walter Guimarães, responsáveis pela leitura e narração dos textos.

Projetos como o Livros Falados mostram como iniciativas estudantis podem ter grande impacto social e acadêmico. Em muitas universidades públicas, surgem propostas semelhantes — seja em formato de podcasts, clubes de leitura, canais de divulgação científica ou blogs colaborativos — que merecem visibilidade e reconhecimento. Procurar, apoiar e divulgar essas ideias é uma forma de fortalecer o papel transformador da educação superior.

O Livros Falados já está em sua quinta temporada, consolidando-se como uma produção contínua e relevante dentro e fora da universidade. Quem quiser entender melhor o funcionamento da iniciativa pode começar pelo episódio zero do podcast, onde o projeto é apresentado em detalhes. Os episódios estão disponíveis no Spotify, na página Livros Falados, enquanto o site oficial livrosfaladosuff.com reúne informações institucionais e links para as plataformas de mídia social.

Foto: Instagram Livros Falados

Além de divulgar os episódios e os bastidores do processo de produção, o perfil do Livros Falados no Instagram (@projetolivrosfalados) também dedica espaço para reconhecer os autores e autoras das obras lidas. A cada nova publicação, são indicados os créditos dos textos e breves contextualizações sobre sua importância, reforçando o cuidado ético com os direitos autorais e a valorização das pessoas que redigem as obras por trás de cada texto acadêmico. Vale a pena acompanhar e apoiar essa iniciativa que transforma a universidade em voz viva do conhecimento.

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