Por João Vitor Matheus
Uma crise financeira que atinge empresas do consórcio Transnit desde o período da pandemia de covid-19 ainda impacta em 2024 a rotina dos usuários que sofrem com o sucateamento da frota e longas esperas nos pontos. Passageiros de ônibus da cidade de Niterói sofrem com a precarização do serviço nos últimos anos. A área mais afetada foi a zona norte do município, servida pelas linhas operadas pelo consórcio Transnit.
Plataformas das linhas 21,24,26 e 26A sem nenhum coletivo às 16:55 de uma sexta-feira. Foto: Jerson de Mello.
Durante o período da pandemia de covid-19 algumas empresas filiadas ao consórcio entraram em crise financeira, o que fez com que houvesse uma diminuição na oferta de veículos servidos à população. Em setembro de 2022, uma matéria do jornal “O Globo” divulgou que a Auto ônibus Brasília, que opera linhas da região norte do município, teve 16 coletivos apreendidos por decisão judicial devido ao não pagamento do financiamento de suas compras em 2018. Tal fato motivou a empresa, na época, a encerrar a operação de três linhas na época.
O jornal “O Globo” evidenciou em uma matéria de 2023, que a empresa, que também é responsável pela operação da Viação Barreto, atrasou o pagamento do 13º salário de seus 320 funcionários que ameaçaram entrar em greve na época, situação esta que foi resolvida na época. As empresas Viação Peixoto e Auto Lotação Ingá passam por situações semelhantes, a última também precisou vender alguns de seus coletivos a partir do ano de 2020 além de também enfrentar dificuldades de pagamentos de salários no mesmo período. Os efeitos da crise são sentidos diretamente pelos usuários que sofrem com os longos intervalos das linhas, problemas de conservação dos veículos, desconforto nas viagens além de problemas que afetam a segurança do passageiro durante o trajeto.
Muitos usuários das linhas reclamam dos serviços. O morador do bairro do Barreto, o universitário Victor Canito, destaca a diferença do serviço prestado pelas linhas municipais do bairro em comparação com as linhas intermunicipais que também passam pelo bairro com relação ao intervalo das linhas. Ele contou que a linha 42SL (Barreto – Centro), “demora muito tempo muito tempo para passar”, ele conta ainda que o ponto em que costuma esperar os coletivos da linha não possui cobertura, o obrigando a ficar esperando sobre o sol quente em dias de muito calor.
No terminal rodoviário João Goulart as reclamações são recorrentes entre os passageiros. A auxiliar de enfermagem Mônica Gonçalves utiliza a linha 41JB (Venda da Cruz – Terminal) e relata que o serviço decaiu e que passa muito tempo esperando nos pontos. Ela ainda detalhou sobre um caso o qual ao embarcar em um coletivo da linha, o motorista não informou sobre a inoperância do ar-condicionado, o que causou um desconforto na viagem tal qual a janela não poderia ser aberta.
Na plataforma da linha 26 (Terminal – Morro do Céu) passageiros disseram que ficam mais de uma hora nos pontos à espera de um coletivo da linha e ainda mostraram insatisfação do serviço por parte da empresa, funcionários e da prefeitura que, segundo eles, não fazem nada para resolver a situação. Uma passageira que não quis ser identificada desabafou: “Os ônibus são um fracasso, de uma em uma hora, conservação ruim, péssima, sem ônibus”.
A reportagem passou por diversos pontos onde circulam linhas do consórcio Transnit e observou discrepâncias nos intervalos de algumas delas. No ponto do ônibus localizado em frente ao DPO da Ilha Conceição que recebe linhas oriundas do bairro do Barreto que seguem em direção ao centro de Niterói, sendo elas: 41BC (Venda da Cruz – Terminal), 42T (Barreto – Terminal), 42SL (Barreto – Amaral Peixoto), 61 (Venda da Cruz – Icaraí) e 67 (Morro do Castro – Terminal), em um período de 30 minutos apenas um coletivo apareceu no local. O veículo da linha 61 não realizou parada no ponto mesmo após a solicitação de quem aguardava no local. Tal fato evidencia outra reclamação ouvida de passageiros nos pontos de ônibus, a respeito da má conduta por parte dos motoristas.
No terminal João Goulart, na plataforma das linhas 21 (Bonfim – Terminal), 24 (Palmeiras – Terminal), 26 (Caramujo – Terminal), 26A (Morro do Céu – Centro), nenhum coletivo estava parado no local para realizar serviço de passageiros no horário das 17:00 de uma sexta-feira, o vazio das baias de estacionamento dos ônibus era contrastado com o cheio das filas de usuários que aguardavam os veículos de suas respectivas linhas para retornarem para casa.
Longa fila para embarque na linha 26A. Foto: Jerson de Mello
Os ônibus presentes no local apresentavam visíveis sinais de deterioração, como frequentes avarias e danos na pintura de suas latarias, além de inúmeras peças soltas. Dentro dos veículos a sujeira e sinais claros de falta de manutenção eram visíveis no ambiente, tais como o piso de um dos ônibus que estava se soltando do assoalho, oferecendo risco para os passageiros, especialmente usuários com dificuldades de locomoção. Essa situação é reforçada por atos de vandalismo de alguns usuários. Em alguns veículos ainda foi constatada a ausência do martelo de emergência utilizado para quebrar o vidro em caso de alguma adversidade do trajeto. A inexistência deste utensílio coloca a vida de muitos passageiros em risco, já que em caso de alguma emergência a saída rápida de dentro do coletivo fica limitada. Além disso, os únicos coletivos que ainda não contam com o aparelho de ar-condicionado circulam em linhas do consórcio Transnit, eles ainda podem ser observados na linha 26 (Caramujo – Terminal), 42T (Barreto – Terminal) e 66C (São Lourenço – Amaral Peixoto).
Veículo da linha 67 com avarias na lataria e o para-barro solto. Foto: Jerson de Mello
Veículo sem ar-condicionado ainda em operação na linha 26. Foto: Jerson de Mello
A reportagem tentou entrar em contato com a Setrerj, Sindicato de Empresas de Transporte Rodoviário do Estado do Rio de Janeiro, que congrega 28 empresas de ônibus incluindo as que operam no município de niterói e com a Subsecretaria de Transporte e Trânsito do município de Niterói para saber como as empresas e a prefeitura explicam tais situações. Até a data de publicação desta reportagem, não obtivemos retorno. Enquanto isso, os usuários continuam sofrendo com a precarização do serviço de transporte urbano na Zona Norte do município.