A famosa roda de rima de São Gonçalo ocorre toda quarta-feira e é espaço de cultura e acolhimento para jovens de periferia.
Por Pedro Briggs
A Batalha do Tanque, criada em 2011 por Luã Gordo, Romário Régis e Felipe Gaspary, sendo o único atualmente tocando o projeto, é uma roda de rima que ocorre semanalmente na Praça dos Ex-Combatentes no bairro Patronato na cidade de São Gonçalo.
Reunindo centenas de espectadores, MC’s renomados e aspirantes, a Batalha do Tanque é vista por todos esses como a oportunidade de iniciarem suas carreiras na música, tanto pelo contato com outros rappers, quanto pela visibilidade que o evento pode trazer, por conta das redes sociais, como Instagram e YouTube, redes que juntas somam mais de 1 milhão e meio de seguidores. O Tanque é uma das mais importantes rodas de rima no Brasil e a mais importante no Rio de Janeiro, tendo 12 anos de história. Mantendo viva a cultura do Hip-Hop e sendo um ambiente de caráter acolhedor, os jovens das periferias fluminenses fazem da Praça dos Ex-Combatentes a sua segunda casa.
A Batalha do Tanque promove duelos dinâmicos entre os rimadores: um MC ataca com suas rimas por cerca de 30 segundos, e o outro precisa se defender, totalizando dois rounds. As votações ocorrem por meio do público, que usa da força de seus gritos para mostrarem quem acharam melhor; caso haja empate, ocorre um terceiro round. Além dos duelos, também há a presença de “Pocket Shows” em algumas de suas edições. O mais recente que ocorreu foi o do rapper Funkero, membro do Cartel MC’s e um rosto conhecido no Tanque, sendo muitas vezes chamado de “padrinho” pelos frequentadores, além de uma figura histórica do rap nacional.
Sobre a importância da Batalha do Tanque para o acesso à cultura dos jovens periféricos, em entrevista ao G1, Felipe Gaspary diz: “A Batalha do Tanque acontece desde 2011, e o motivo de ser em São Gonçalo é porque antes não tinha movimento cultural semanal. Então as pessoas tinham que sair daqui para ir para o Rio, para a Lapa…”Atualmente, dado o gigante crescimento, ocorre o inverso: jovens da cidade do Rio procuram ir até São Gonçalo para comparecerem ao evento. Pedro Diogo (20), morador de Jacarepaguá é um deles: “Na verdade, minha casa é bem distante do Tanque. (…) Eu pego de 4 a 5 transportes para chegar aqui.” Perguntado se vale a viagem, ele afirma: “Sim, vale. É uma experiência incrível, acho que todo mundo que gosta e está envolvido com a cultura periférica, a cultura negra, a cultura do rap precisa ir em uma batalha. Não precisa ser a do Tanque, pode ser qualquer uma, o importante é estar nesse espaço onde as coisas acontecem. Porque são desses espaços que vão sair a próxima geração do Rap/hip-hop nacional e ver essa galera crescendo como artista, desenvolvendo a habilidade da rima, é indescritível.”
A Batalha do Tanque hoje é um patrimônio cultural do estado, por ajudar a manter vivo o interesse dos jovens fora da capital no Hip-Hop e por trazer para a cena musical grandes artistas como Orochi e Azzy.
Além disso, o evento, em outubro de 2022, recebeu o Diploma Heloneida Studart, que homenageia artistas e produtores culturais do estado do Rio e é concedido pela Comissão de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, sendo a primeira roda de rima a receber tal honraria. Mais recentemente, a Batalha do Tanque foi homenageada na exposição “Quintessência”, que ocorreu na reabertura da Casa de Artes de São Gonçalo.
A “TankFamily”, que garante o encontro e conexão entre os amantes da cultura hip-hop e ocupa espaços que são de seus direitos, iniciou a sua temporada anual no dia 24/04 e espera ansiosamente pelo apoio e comparecimento do público, todas as quartas-feiras a partir das 19:30H.