Alô, Gragoatá!

Os impactos das fortes chuvas em Niterói e os planos para minimizá-los

Cidade sofre mais uma vez com os danos causados por eventos climáticos

Por Sara Rosário 

As fortes chuvas em Niterói, recorrentes nessa época do ano, impactam na vida e rotina de moradores, estudantes e trabalhadores da cidade. Com a chegada do verão, a prefeitura e a Defesa Civil trabalham em ações que visam minimizar esses impactos. 

Devido também à sua posição geográfica, com muitas praias e ao leste da Baía de Guanabara, o município sofre frequentemente com os danos causados pelas tempestades. Um dos mais marcantes casos aconteceu em abril de 2010, no Morro do Bumba, terreno que já era conhecido por ter sido erguido sobre um lixão desativado. Deixando diversas famílias desabrigadas e 48 mortos com corpos encontrados, o local desabou por cerca de 600 metros após dias de chuvas intensas na cidade que deixaram o solo ainda mais instável, levando casas e a infraestrutura da comunidade. 

Morro do Bumba – Reprodução: Internet

Recentemente, a cidade foi acometida novamente pelos danos gerados pelas precipitações. No início do mês de outubro, a tempestade acompanhou raios e ventos intensos que derrubaram árvores, alagaram ruas, danificaram casas e prédios e interromperam o fornecimento de energia.

Rotinas, trânsitos e estabelecimentos afetados

Anderson da Silva Oliveira Júnior, estudante de Publicidade e Propaganda na Universidade Federal Fluminense, presenciou uma das chuvas do mês de outubro. “[Estava] um caos, tudo um caos. […] A via que eu estou acostumado a voltar para casa estava alagada e com uma árvore também caída. A rua depois da Cantareira, indo para o Plaza, também tinha uma árvore caída e tava bem cheia. Tudo bem conturbado. A gente conseguiu passar por uma rua que a gente conhece como ‘rua do perdeu’ por ter bastante assalto, todo mundo com muito medo. A gente passou por cima de árvore, por cima de fios. Todas essas vias estavam sem energia, foi bem tenso.”

Nesse mesmo dia, a intensidade do vento e das chuvas danificaram diversos prédios da Universidade Federal Fluminense. O Instituto de Artes e Comunicação Social, prédio em que Anderson estava tendo aula, foi um dos mais afetados. “Quando a chuva passou e a gente conseguiu sair da sala, a gente viu que o prédio do novo IACS estava bem devastado. […] Ventou e ficou sem teto, a porta quebrou, foram acontecimentos assim. A fachada de alguns prédios que são mais para ponta, mais próximos da Baía de Guanabara, e as ferragens das janelas caíram.” 

Leonardo Porto Leal, morador do centro de Niterói, foi duplamente afetado com os danos das fortes chuvas. Nos dias das pancadas de chuvas, as ruas que percorre de bicicleta para voltar a sua casa estavam bloqueadas por árvores e bolsões d’água e o local onde trabalha, a lanchonete Canta Lanches, localizada em São Domingos, também teve seu funcionamento prejudicado pela falta de energia. “Fiquei várias horas sem luz e para mim é horrível porque minha avó mora comigo. Ela é acamada, então é uma complicação a mais.”

Saída da UFF logo após forte chuva no dia 05 de outubro – Reprodução: Jepherson Rodrigues

Almir Venancio Ferreira, Doutor em Meteorologia e professor do curso técnico no CEFET, ressaltou que nesse período do ano é esperado uma maior quantidade de chuvas pelas características da estação. Porém, com a aproximação do verão e as mudanças climáticas, os especialistas e as prefeituras devem ter mais atenção. “Esse tipo de ocorrência de chuvas, de precipitação, está dentro de um padrão. […] Hoje a gente tem observado que é um padrão, que essa intensidade dessas chuvas está muito maior que no passado. Se você pegar o ano passado, retrasado, 10 anos atrás, 20 anos atrás, a gente tem aí, gradativamente, o aumento dessas chuvas com mais intensidade.” 

O professor argumentou que a prefeitura dos municípios deve agir em conjunto com as equipes que atuam com a meteorologia, como a Defesa Civil, a fim de planejarem ações com o objetivo de se prepararem para esses eventos climáticos. “A meteorologia contribui no monitoramento das condições de tempo para que as cidades possam estar se planejando com as condições de tempo, de clima, que podem ser favoráveis para o turismo ou agricultura e outros, né? E podem também ser desfavoráveis, causando transtornos, perda de vidas, fechando o comércio, essas coisas.”

Como a prefeitura se prepara para enfrentar as fortes chuvas

O Plano Verão é uma das iniciativas da Prefeitura de Niterói e outras pastas relacionadas que tentam minimizar os impactos das chuvas no período do verão. Em 2022, a estratégia contou com a utilização de drones e a participação dos secretários, presidentes e representantes de Direitos Humanos, Defesa do Consumidor, Assistência Social, Conservação e Serviços Públicos, Niterói Transporte e Trânsito, Companhia de Limpeza de Niterói, Defesa Civil, entre outros. Também foi realizado um investimento de R$ 18,5 milhões na compra do Banda X, um radar meteorológico ultramoderno instalado no Parque da Cidade, em São Francisco. O equipamento permite a detecção de núcleos de chuva em um raio de 100 km, análise da quantidade de chuvas em até 18 km de altitude com alta resolução e sensibilidade. 

Radar Banda X – Reprodução: Internet

O planejamento em conjunto visa prevenir e preparar as equipes para dar suporte à população. De acordo com dados divulgados pela prefeitura do município em 2022, desde 2013, cerca de R$ 600 milhões já foram aplicados em obras de contenção de encostas, R$350 milhões em drenagem e macrodrenagem apenas na Região Oceânica e R$ 1,4 milhão foi destinado à manutenção e operacionalização de pluviômetros, estação meteorológica e sirenes. 

Segundo o site oficial da Prefeitura de Niterói, o Plano Verão de 2023 está para ser lançado na primeira quinzena de novembro. 

Ferramentas e ações já implementadas

Alguns bairros da cidade possuem sirenes que emitem alertas em caso de riscos, porém só ficam localizados em 27 pontos. Leonardo, que mora em Niterói já há alguns anos, acredita que essas informações deveriam ser mais acessíveis para a população. Anderson afirma que apesar de não morar em Niterói, por frequentar a cidade para estudar, se sentiria um pouco mais seguro se tivesse mais informações.

Ações de divulgação nos locais de maior movimento  dos números de emergência e os pontos de apoio em situações de risco, como a estação Araribóia e o terminal rodoviário, seriam úteis tanto para os moradores locais quanto para os que frequentam a cidade por motivos de estudo ou trabalho. “A prefeitura acaba sendo esse intermediário de comunicação entre a população e esses acontecimentos que não são tão palpáveis para a gente. Não são só pessoas de Niterói que convivem, que passam por Niterói, então acho que falta comunicação”, disse Anderson.

A Defesa Civil de Niterói utiliza os seus canais oficiais e os da prefeitura para informar sobre a previsão de tempestades. Acompanhe através das contas no Instagram @niteroipref e @seclima.niteroi. Em caso de emergência, a Defesa Civil pode ser acionada pelo número 199 ou 2620-0199. Além disso, a Secretaria Municipal de Assistência Social e Economia Solidária de Niterói, localizada na rua Cel. Gomes Machado, 28, Centro, é responsável por acolher pessoas e famílias que foram afetadas pelos danos dos eventos climáticos.  

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