Por Júlia Vidal
Foto: Júlia Vidal
A mesa do Instituto de Artes e Comunicação, conhecida também como “mesão”, é ponto certo de parada entre os alunos frequentadores do campus Gragoatá, principalmente daqueles que têm aulas no prédio. Porém, nos últimos meses, vendedores do mesão têm reclamado que estão sendo vítimas de roubos cada vez mais frequentes. A mesa onde são vendidos os produtos não possui qualquer tipo de vigilância, apenas os produtos, os códigos PIX ou caixinhas para depósito de dinheiro, o que facilita os roubos.
Thiago, aluno de Produção cultural que vende produtos na mesa, conta: “Eu diria que me decepcionei um pouco, porque sempre achei que o ambiente da mesinha fosse confiável pra deixar os acessórios que eu faço.” Ele diz que já foi roubado duas vezes: “Uma vez levaram uma pulseira e na outra um colar, que me abalou mais por ser o que mais dá trabalho pra fazer.”. Thiago ainda complementa: “Me desencorajou por fazer um acessório que simplesmente foi em vão. Duas semanas atrás tirei minhas pulseiras da mesinha e espero que os roubos parem, mas, segundo os outros vendedores, ainda estão constantes”.
Mas afinal, o que é o“mesão do IACS”?
É uma iniciativa criada pelos alunos para vender produtos – comida ou acessórios – na universidade, principalmente como uma renda extra ou mesmo como sustento enquanto estuda. E a dinâmica é bem simples: os alunos que vendem deixam os produtos na mesa com QR code para pix ou caixinha para dinheiro e os produtos ficam ali, sem vigilância. É uma comunidade em que, na teoria, todos se respeitam mesmo que ninguém fique vigiando o dinheiro ou os produtos.
“Existiam outros “mesões” pela UFF antes do mesão do IACS”, conta Lucas, que estudava na universidade quando o mesão foi implementado no novo prédio. “Tinha o ‘Café na Moral’, que era no bloco N, era o mais conhecido e vendia café. Começou com o café, e aí você colocava o dinheiro que tinha ou podia e tomava o café.” Ele conta que a partir dessa experiência a mesa do IACS surgiu, de forma muito orgânica. “E aí começou pequeno, com alguns doces e café, e foi crescendo e o pessoal foi se organizando e criando grupos para administrar melhor e tentar impedir os roubos”. Infelizmente, os roubos não só não pararam, como aumentaram nos últimos meses.
Cartaz colado no mesão pedindo o fim dos roubos; Foto: Sara Rosário.
No principal grupo de whatsapp do prédio, vários vendedores manifestam a sua indignação com os roubos que vêm acontecendo e pedem para que consumidores não roubem os produtos. Entre as mensagens no grupo, encontram-se diversos relatos, como foi o caso de um aluno que diz ter possuído 6 de seus produtos roubados de uma só vez. Ou seja, algo que deveria servir como uma fonte de renda acaba se tornando um problema e um custo adicional à vida estudantil.
Em pesquisa realizada neste mesmo grupo de mensagens do IACS, que visou coletar o quão frequentemente os alunos consomem da mesa, o resultado não surpreendeu: 4 alunos disseram comprar todos os dias , 41 afirmaram comprar toda semana, e 95 afirmaram que consomem da mesa de vez em quando, enquanto apenas 15 disseram que nunca compram de lá.
Elai, que também é vendedor, adiciona: “Comecei minha lojinha de artesanato para juntar dinheiro pra realizar uma cirurgia (mastectomia masculinizadora) que é muito importante pra pessoas trans, e me senti bem desanimado e frustrado até [com os roubos]. As coisas vendidas lá são vulneráveis e esse comércio só é possível com confiança como base, então sofrer um roubo na mesa é muito decepcionante”.
A partir da pesquisa é possível comprovar em números a relevância do espaço da mesa para os seus consumidores, mas principalmente para os alunos que vendem ali. Dessa forma, é importante lembrar que o respeito aos vendedores é crucial para o funcionamento do sistema e que a confiança entre vendedor e consumidor é o principal pilar que faz a engrenagem funcionar e continuar girando.
É esperado que, por ser um espaço frequentado por muitas pessoas, que nem todas respeitem as regras. Entretanto, é importante que o corpo discente entenda que os roubos são extremamente danosos e impactam diretamente a vida dos vendedores.