Alô, Gragoatá!

Como a G.R.E.S Viradouro, de Niterói, movimenta a economia e gera empregos na região

Por Matheus Abreu

“Eu vendi nos ensaios de rua o esperado para três meses” com essas palavras António Sacramento, vendedor de churrasquinho, relata o expressivo aumento de vendas durante os ensaios de rua da então campeã do carnaval carioca, G.R.E.S Viradouro.

O carnaval carioca – tido como uma das maiores celebrações culturais do mundo – nasceu em 1840, mas só em 1917 que o famoso e brasileiríssimo samba foi introduzido e levou a essa manifestação cultural o batuque dos becos e vielas brasileiros, Já as fantasias e adereços que vemos e vestimos hoje, foram introduzidas por influência africana, inspiradas nas máscaras e fantasias feitas de penas, ossos, grama e outros elementos pelos escravos, partindo da ideia que esses itens ajudam a invocar os deuses e afastar maus espíritos.

Último desfile na Av. Ernani do Amaral Peixoto, em Niterói, antes do carnaval no ano de 1985. Foto: Raimundo Neto / Agência O Globo

Em 1932, surge as primeiras escolas de samba, vindas da junção de músicos, compositores e passistas que se reuniam em praças para exibir seus talentos. Esses artistas se organizaram em grupos e começaram a competir uns com os outros e no quintal da casa de Nelson dos Santos, conhecido pelo apelido de Jangada, em 1946, nasce o Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos do Viradouro. A escola niteroiense, já arrematou três títulos do campeonato carioca das escolas de samba do grupo especial. O mais recente dos títulos, foi neste ano de 2024, com o enredo “Arroboboi, Dangbé” que fala sobre uma serpente mística cultuada no Noroeste da África. Arroboboi é uma das formas de saudá-la.

O enredo escolhido pela escola, foi mundialmente reconhecido. Sendo exposto até mesmo no Louvre – museu localizado em Paris, França, pelo fotógrafo Wigder Frota. Porém, não foi só reconhecimentos internacionais que saudaram a escola niteroiense, no Brasil, o desfile foi amplamente aplaudido, principalmente pelos comerciantes beneficiados com os desfiles de rua e as centenas de pessoas que trabalham diariamente nos barracões, quadra e lojas oficiais para fazerem esse espetáculo acontecer.

O carnaval carioca é muito mais do que uma festa, é um evento que movimenta todos diversos setores, de forma direta ou indireta. Segundo os dados publicados pela prefeitura do Rio de Janeiro no documento “Carnaval Dados” a estimativa para o carnaval de 2024 era que fosse movimentado R$ 5 Bilhões. O mesmo documento espera 50 mil trabalhadores atuando de forma direta na manifestação cultural mais famosa e ritmada do mundo.

Com sede no bairro do Barreto, a Viradouro não é apenas um símbolo cultural, mas também um motor econômico para a região. Seu impacto se estende por diversos setores, impactando principalmente os comerciantes locais e sua comunidade.

Pretinha Gomes, passista da escola há mais de 8 anos e assistente administrativa na escola, ao ser questionada sobre a quantidade de membros atuais, relata: “São muitas pessoas que fazem isso acontecer! Muitas mesmo! Entram tantas pessoas o tempo inteiro.”

Já Simone Fernandes, assessora de imprensa da G.R.E.S Viradouro, disse que ao todo são cerca de 100 pessoas trabalhando diretamente na escola por temporada. A movimentação da comunidade é o que faz o carnaval fabuloso que conhecemos acontecer.

Pretinha Gomes, passista da Viradouro, sendo aclamada pelo público no ensaio de rua Foto: Viradouro / Redes Sociais

Os relatos ultrapassam os portões da escola, a Av. Ernani do Amaral Peixoto, no centro de Niterói, é o palco dos ensaios de rua da campeã do carnaval carioca, os comerciantes locais festejam o aumento de vendas durante os domingos, data em que são realizados os ensaios.

“Vendi tudo, voltei para casa com o isopor vazio. Precisei ir atrás de mercadoria no meio do ensaio, precisava aproveitar!” diz Maria do Rosário.

Os ensaios de rua são iniciados no mês de novembro e seguem até a data do carnaval. Para 2024, por exemplo, a preparação em uma das vias mais importantes de Niterói se iniciou em 5 de novembro de 2023, paralisando uma semana antes do na Sapucaí, que aconteceu em 12 de fevereiro.

“Estou ansiosa para o ano que vem, vou me planejar para investir em mais produtos, estou pensando em colocar cachorro quente também, a viradouro é o momento.” aponta Maria do Rosário.

Para 2025, a Viradouro deu início ao concurso cultural de cartaz do enredo que será sobre “Malunguinho: O Mensageiro de Três Mundos” para o Carnaval 2025. Malunguinho é uma falange espiritual afro-ameríndia presente nos terreiros de Catimbó, Toré e Umbanda.

A Viradouro segue trazendo cultura e religiosidade decolonial, com resgate à ancestralidade e garantia ao direito à memória. O carnaval niteroiense continua fazendo história e movimentando a economia local.

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