Alô, Gragoatá!

Vendedores ambulantes: um reflexo do desemprego em Niterói

Por Mariana Carvalho

Imagem Autoral

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2023, revelam que cerca de 10% da população do estado do Rio de Janeiro encontra-se em situação de desemprego.

Pode-se pensar que o número não é expressivo em quantidade, entretanto, esse algarismo representa, aproximadamente, 1,6 milhões de pessoas que se espalham por todo território fluminense.

Carmem Aparecida Do Valle C. Feijó, é professora de economia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e comentou sobre a questão do desemprego no Brasil: “Do ponto de vista da Teoria Macroeconômica, o desemprego pode ser interpretado como uma insuficiência de oferta/oportunidade de trabalho.” Nesse caso, compreende-se, através da fala da economista, que o número de pessoas buscando por empregos excede o número de ofertas, o que irá caracterizar a problemática apresentada: muita procura, para pouco trabalho.

A professora continua: “a razão para recorrência do problema na economia é porque a expectativa do ofertante do trabalho não é otimista o suficiente para absorver o contingente populacional.” Sendo assim, é possível dizer que tudo é uma questão de expetativa. A dualidade entre a expectativa empresarial, que age de acordo com suas estratégias visando, obviamente, lucro, estabilidade e confiança de mercado, e a expectativa populacional que gira em torno da necessidade de ser inserida no cenário trabalhista.

Para “amenização” da questão, a Professora explica haver uma Teoria que iria aplicar ao Estado a responsabilidade de realocar e absorver esse número “excedente” de mão de obra, ou seja, aquelas que o mercado atual não supre, e com isso, ele garantiria certa estabilidade de mercado, um equilíbrio entre oferta e demanda. Contudo, e infelizmente, isso não é observado.

Na ideia de resistir ao desemprego e com a ativação do “modo sobrevivência”, alguns recorrem ao comercio ambulante, como o caso de Seu Eduardo e as estudantes Sara e Victoria, entrevistados para essa matéria e peças essenciais para compreensão da temática, já que ambos são uma representação de um problema não só econômico, mas, social do país. Portanto, é fato que a informalidade surge pela necessidade de se contornar a problemática da falta de ofício formal democrático, ou, em alguns casos específicos, pela desvalorização da mão de obra prestada.

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Eduardo Aureo Dias da Cruz, de 50 anos, começou a vender doces na pandemia do coronavírus, em 2020, quando ficou desempregado. Sempre sentado em um dos pilares de um dos muitos prédios do bairro de Icaraí – Niterói, ele expõe seus doces para venda. Seu Eduardo, faz isso a 4 anos.

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Victoria Rodrigues e Sara Vitória Azevedo, ambas com apenas 16 anos, também vendem doces, contudo, trabalham na Estação Praça Araribóia, no centro da cidade de Niterói, ambas começaram no serviço informal por falta de oportunidades e administram o tempo entre o comercio e os estudos, que ainda estão em continuidade.

Uma mesma pergunta foi feita aos três e dizia respeito a possibilidade de “deixar” tudo e ser contratado dentro do mercado formal, ou seja, com todos os direitos que a carteira de trabalho garante, e a resposta, em unanimidade, foi: sim. Seu Eduardo, Sara e Victoria são pessoas que, sem oportunidades de inserção ou reinserção no mercado, foram jogadas do comercio ambulante como única alternativa para sustento. Em casos como esses, a necessidade se sobrepõe à escolha.

Se os problemas não são superados, se não existirem interferências efetivas que coloquem em prática as tantas “Teorias” da economia, o mesmo perfil de individuo, na maioria das vezes, pobre e periférico, continuará sendo encaminhado ao percurso da instabilidade.

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