Alô, Gragoatá!

A luta vem de dentro: o movimento estudantil independente da UFF com DASAN e Novo MEPR

Por Carolina Irigoyen

A precarização da Universidade Federal Fluminense (UFF) tem impulsionado a organização de estudantes que buscam novas formas de atuação política fora das estruturas tradicionais. É nesse contexto que ganham destaque o Diretório Acadêmico de Sociologia (DASAN) — uma entidade representativa ligada ao curso — e o Novo Movimento Estudantil Popular Revolucionário (Novo MEPR), que atua em âmbito mais amplo, com organização própria e ideologia definida. 

Esses coletivos atuam sem vínculos com partidos políticos e rechaçam o que chamam de aparelhamento de entidades, como o que ocorre, de acordo com a aluna, com a atual gestão do Diretório Central dos Estudantes (DCE). Segundo Clarissa Vidinhas, formanda de Sociologia da UFF e militante do Novo MEPR, “nós não temos nenhum rabo preso com ninguém, a não ser com os estudantes e com as suas deliberações, com a sua vontade”. A fala resume o princípio básico das organizações independentes, que se dá em mobilizar a partir da escuta direta e da ação coletiva.

A crítica ao DCE perpassa todo o discurso do Novo MEPR. Clarissa aponta que as últimas gestões do diretório central têm sido ocupadas por grupos partidários como Juntos e Travessia (PSOL), JC (PCdoB) e Correnteza/JR (P/PCR). Ela afirma: “Essas organizações, quando entram dentro de um espaço de representação, numa entidade representativa, ao invés delas se mobilizarem em torno dos interesses dos estudantes, elas aparelham essas entidades e usam a serviço do seu partido. […] Falam, falam, falam e não fazem nada.”

Apesar das dificuldades, o movimento independente conquistou uma cadeira no Conselho Universitário da UFF nas últimas eleições do DCE. A vitória, mesmo modesta, foi simbólica, pois rompeu com a hegemonia de blocos tradicionais e levou uma nova perspectiva à instância máxima da universidade. Ainda assim, a estratégia central segue sendo o corpo a corpo, a base de manifestações, ocupações quando necessário e a construção de planos e táticas de luta para conseguir os direitos estudantis.

Foto: Instagram do DASAN

Entre as principais pautas está a permanência estudantil. Clarissa afirma que, embora a universidade seja teoricamente gratuita, a falta de políticas efetivas torna a trajetória acadêmica insustentável para muitos. “É muito comum no curso que eu faço que entrem turmas de calouros com 60, 50 pessoas e a partir do período a turma já está reduzida para 20, 15.” Segundo ela, o processo para conseguir bolsas é extremamente burocrático e ineficaz, o que leva muitos alunos a abandonar a graduação ou migrar para instituições privadas com ensino a distância.

Pedro Rodrigues da Motta, diretor geral do DASAN e também integrante do Novo MEPR, reforça essa perspectiva ao destacar a luta por estrutura curricular. Uma das pautas mais urgentes do curso de Sociologia é a implementação de uma licenciatura. “A maioria das pessoas que fazem sociologia querem ser professores, então é uma pauta urgente do curso.”

Ele também menciona avanços recentes conquistados por meio da mobilização estudantil, como o aumento da oferta de disciplinas noturnas e a criação de uma sala de estudos com biblioteca própria para os alunos do curso. “Estamos prestes a conseguir uma sala só para estudos, com uma biblioteca nossa aqui”, afirma Pedro. Esses são exemplos que mostram como a organização pode resultar em melhorias concretas.

A atuação dos movimentos independentes também é marcada pela capacidade de acolher e engajar estudantes que não participam formalmente das chapas. É o caso de Victor Natan, aluno do 7º período de Sociologia, que acompanhou o DASAN de perto. “Eu me senti no DASAN, e a galera do DASAN sempre me acolheu”, relata. 

(fonte da foto: https://web.archive.org/all/20130511145635/http://www.mepr.org.br/)

Os movimentos independentes também estiveram à frente da greve estudantil de 2024. A mobilização foi precedida por uma série de ações em 2023, incluindo assembleias para a sua aprovação, passagem em salas, panfletagens e ocupações organizadas por centros acadêmicos, que formaram o Comitê Independente de Lutas. Apesar de não ter ocorrido por estrutura, a conclusão que se chegou foi que a UFF lida com problemas estruturais sérios, como falta de iluminação, elevadores que quebram toda hora e impedem mães e estudantes PCDs com baixa mobilidade motora de acessar os prédios e um caminho para se andar muito esburacado. Clarissa destaca: “Chama a atenção porque o Antônio Cláudio, na verdade, o reitor é PCD, e no mesmo local em que você tem um reitor PCD […] há ainda vários problemas relacionados à estrutura.”.

Apesar do esforço coletivo, o desfecho da greve gerou frustração. Clarissa relata que as negociações finais foram conduzidas por representantes do DCE sem a participação dos movimentos independentes, contrariando deliberações anteriores das assembleias. Ainda assim, o sentimento de continuidade permanece. “A resposta para tudo isso que a gente sofre não deve ser um recuo, deve ser organização mediante as necessidades mais urgentes para dar uma resposta de volta.”

O convite final de Clarissa sintetiza o espírito que move o Novo MEPR. Ela convoca estudantes indignados com a situação da universidade e do país a conhecerem o movimento, que carrega duas décadas de história. “Assim como a extrema direita tem o fascismo como ideologia, a juventude revolucionária também tem. No caso do novo MPR é o marxismo, leninismo e maoísmo.”

Para Clarissa, lutar é uma forma de compromisso ético. Não se trata apenas de reivindicar melhorias pontuais, mas de formar uma juventude consciente, crítica e disposta a se organizar coletivamente. “A ordem do dia para a juventude é que se organize, é que se organize.” E para esses estudantes, a luta não parte de cima, nem de fora. Ela vem de dentro.

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