Descubra quais são os impactos emocionais do Enem e como lidar com os efeitos dessa prova na saúde mental
Por Sofia Ricardo Queiroz

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Cerca de 3,9 milhões de pessoas se inscreveram no Enem 2023 e alguns desses estudantes relatam os efeitos que a pressão durante esse período de estudos está causando na saúde mental. Além disso, alguns psicólogos ajudam a entender melhor os efeitos negativos que o Enem gera em quem vai fazer a prova.
A estudante Victoria Elizabeth Isael Florentino, que deseja passar para Medicina, relata o que chegou a pensar quando teve que começar a estudar para o Enem: “Quando eu tava começando eu realmente pensei que o Enem era uma coisa de outro mundo, que eu tinha que me esforçar além do limite, e não é que não tem que se esforçar, mas eu estava vendo por uma outra perspectiva, uma perspectiva do esforço extremo.”
No primeiro ano de estudos ela chegou a fazer métodos rigorosos que encontrava na internet para se manter acordada e conseguir estudar, como colocar os pés no gelo para não dormir, mas não deu continuidade nessa tática. Ela não tinha uma rotina de sono adequada, e ainda utilizava raiz de gengibre para conseguir ficar acordada:
“Eu dormia meia noite e acordava, tipo assim, 4 ou 3 horas da manhã às vezes pra conseguir estudar, e toda vez que eu sentia sono durante o dia ou durante a noite eu mordia uma raiz de gengibre para acordar”
A vestibulanda também aponta que deixou de lado alguns costumes que gostava de praticar: “Alguns hábitos que eu tinha, que me faziam assim, ficar calma, ficar toda feliz, do tipo assim, desenhar e ler, infelizmente eu não tenho mais tido tempo,porque na minha cabeça se você tem tempo para essas coisas, você tem tempo para estudar.”
Estudante fala um pouco mais sobre o período de estudos para o Enem
Outra pessoa que também vai realizar a prova é a Maria Clara Fernandes, que tem como objetivo passar para Ciências da Computação na UFF. Ela declara que a saúde mental ficou ainda mais abalada após começar a estudar para o Enem: “Minha saúde mental que já não era boa, tá pior. Vai ficando complicado toda vez que chega mais perto do Enem”
A jovem também disse que o estresse é um problema, já que atrapalha na concentração dos estudos e isso piora a situação: “Às vezes eu tenho dificuldade pra estudar por causa do estresse, e acaba virando uma bola de neve”
Maria Clara afirma que o Enem mexe com o equilíbrio emocional e com a saúde mental de quem vai realizá-lo, e revela que existe uma pressão para quem faz o exame : “Eu me estresso muito por causa do Enem, principalmente quando chega mais perto da prova. Uma coisa que ajuda nisso, é que querendo ou não tem uma certa pressão, junto com a sensação de não estar realmente preparado, e de ser ou não capaz”
Ela relata que para tentar manter e auxiliar a saúde mental faz psicoterapia e pratica atividade física, como basquete.
Psicólogos explicam os impactos do Enem na saúde mental
A psicóloga da UFF, Tatyana Azevedo, apresentou algumas informações sobre questões que envolvem o bem estar emocional. Primeiro, definiu o conceito de saúde mental, que evoluiu com o tempo, e de acordo com ela: “A concepção atual trazida pela OMS (Organização Mundial da Saúde) amplia as perspectivas com uma visão mais integrada ao considerar que é um estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade.”
Ela também ressalta os impactos que a prova pode causar: “O Enem é a primeira experiência de grande pressão por desempenho que acontece aliado a escolha profissional que é tida como uma decisão que impacta toda a vida a partir dessa escolha. A dinâmica familiar e as próprias características pessoais podem contribuir para a autocobrança. A comparação com outros membros da família e os colegas também são fontes que podem potencializar esse momento. Então, a vida pessoal, social, familiar se somam, o que pode contribuir para casos de estresse, depressão e ansiedade.”
De acordo com a OMS, o Brasil tem aproximadamente 9,3% de pessoas ansiosas. Em razão disso, Tatyana Azevedo informa como a ansiedade pode ser controlada: “O controle da ansiedade pode ser feito de diversas formas: manter uma rotina saudável é fundamental, sono adequado, fazer pausas ao longo do período de estudo, praticar atividades físicas com regularidade, praticar atenção plena, manter algumas atividades de lazer e algum tempo com amigos são ações que promovem melhorias para todas as pessoas, mas com ajuda profissional há uma personalização que vai focar diretamente naquilo que o jovem precisa.”
Veja o vídeo da Neuropsicóloga clínica e organizacional, no qual ela destaca a importância do acompanhamento psicológico:
Psicóloga da UFF enfatiza a relevância de se ter um acompanhamento psicológico
Ela dá conselhos de como lidar com os pensamentos negativos e ansiosos que o Enem alavanca nas pessoas durante o período de estudos e no dia da prova: “É preciso combater os pensamentos intrusivos e negativos, manter um diálogo mental que contradiga os pensamentos de fracasso, fraqueza ou incapacidade. Lembrar-se do empenho e dedicação, que sempre vão existir outras chances, pensar nas alternativas e recordar os êxitos anteriores e experiências de sucesso acadêmico.
Outra alternativa boa é visualizar o sucesso e como se sentiria ao verificar o resultado positivo. O nosso cérebro tem funcionamento similar quando a gente imagina e/ou vivencia uma situação, portanto podemos ativar o cérebro positivamente. Por fim, a prática da atenção plena ajuda bastante no centramento necessário para a realização das provas.”
Outra questão que afeta os estudantes é o sono desregulado, pois 65,5% da população brasileira tem problemas de sono, conforme indicam estudos de cientistas publicados na Sleep Epidemiology. Segundo a psicóloga, isso aumenta a predisposição para quadros de ansiedade, depressão, entre outros. Sendo a regulação do sono importante para consolidar a memória e renovação do desempenho cognitivo. Para ajudar quem vai fazer a prova do Enem, Tatyana Azevedo apontou dicas para ter uma rotina saudável de sono:
“Criar uma rotina é importante, acordar e dormir em torno do mesmo horário. Evitar o uso de telas pelo menos 1 hora antes de deitar por conta da luz azul que interfere na atuação do hormônio do sono (esse é um mega desafio para eles) e nada de bebidas estimulantes após as 16h são medidas que ajudam demais. Em casos de insônia recorrente ou desregulação do sono significativa é preciso consultar um médico” disse ela.
O Psicólogo Clínico e Diretor do Serviço de Psicologia Aplicada da UFF, disse que:
“Os candidatos, na maioria das vezes, expressam a ansiedade em fazer a prova e relatam a preocupação de estarem ou não preparados para o exame. Essa ansiedade pode se manifestar na falta de sono, perda ou aumento de apetite, queda de cabelo, irritabilidade, entre outros.”
Alan Teixeira Lima
Ele também dá mais informações de como controlar a ansiedade: “Durante o período de estudos, buscar atividades que favoreçam o enfoque na prova que está por vir e momentos de queima de energia, como atividade física, por exemplo. Conheça o local da prova antes e os meios de chegar até lá, lembrando que no dia da prova terá um fluxo maior de deslocamento até esse local e será preciso chegar com folga de tempo para não correr o risco de perder a prova.
No dia da prova, tomar café da manhã leve e deixar tudo organizado para ir fazer a prova: roupas, calçados, canetas, documento de identificação, dinheiro ou outras formas de pagamento, lanche para comer durante a prova, garrafa de água e ter plano A, B e C para chegar ao local com tempo para conseguir passar do portão de entrada.”
Perspectiva Universitária
Maria Eduarda Militão Barcellos, estudante de Engenharia Ambiental, entrou na UFF no primeiro semestre de 2023, e contou que se sentiu muito estressada e ansiosa durante a preparação para o Enem. Apesar de tentar lidar com a situação, permanecia sofrendo os impactos dos estudos para a prova na saúde mental.
A graduanda da UFF disse que agora que o período do Enem já terminou, é um alívio não ter mais que se preocupar com a pressão do exame: ”Agora que já passou e eu não preciso me preocupar mais com vestibular, eu tô muito melhor emocionalmente. É claro que eu ainda estou estressada e ansiosa com relação aos estudos porque eu ainda tô estudando, mas a ansiedade de ter que passar no vestibular não tenho mais, esse é um alívio muito grande.”
Segundo dia de prova: horários

Foto: Governo Federal
O segundo dia de prova contém questões de Matemática e suas Tecnologias, e Ciências da Natureza e suas tecnologias. Será realizado no domingo(12/11), com os portões fechando 13h. A prova começa às 13:30h e dessa vez terminará às 18:30.