A mudança do Instituto de Arte e Comunicação Social para o Gragoatá proporciona benefícios não só à unidade, mas para todo o campus
Por Victor Louro
Visão do campus Gragoatá a partir do Novo IACS – Foto: Victor Louro
Coração de mãe sempre cabe mais um. No campus Gragoatá da Universidade Federal Fluminense, cabem mais dez. Os dez cursos do Instituto de Arte e Comunicação Social – IACS (Arquivologia, Arte, Biblioteconomia e documentação – presencial e EaD, Cinema e Audiovisual – bacharelado e licenciatura, Comunicação Social: Publicidade e Propaganda, Estudos de Mídia, Jornalismo e Produção Cultural), foram transferidos, no segundo semestre de 2023, para o Bloco J, no Gragoatá. O Novo IACS, como é comumente chamado o novo prédio, passa a abrigar também os programas de pós-graduação, que, junto ao número de estudantes de graduação, totalizam aproximadamente 5.000 alunos.
A presença dos novos vizinhos, situados na orla da Baía de Guanabara, causa um impacto imediato no paisagismo do campus, como mostra a professora Flávia Clemente, diretora do IACS: “Era um tapume horroroso, uma obra abandonada, e de repente vira o lugar mais lindo do Gragoatá”. A diretora ainda destaca que esse novo ambiente pode ser utilizado por todos os alunos do Gragoatá: “Assim que inaugurou, em janeiro, [as pessoas] já ficavam deitadas na grama. Ficam nos jardins, sentam ali embaixo da meia-lua, onde tem a galeria. E não são só nossos alunos, são alunos de todo o campus”. “[Os estudantes] estão gostando muito de circular e de se reunir. E isso é bom, porque a gente está num campus. A gente busca a integração com as outras unidades, com os outros prédios”.
A aproximação do Instituto a outros esferas da Universidade é um efeito direto da mudança do antigo prédio para o novo. Para Roberto Malfacini, estudante de Jornalismo e diretor-geral do Diretório Acadêmico de Comunicação (DACO-UFF), o IACS “fica mais próximo de tudo. A gente começa a existir mais aqui dentro (…). E tem essa conexão com os outros alunos, com as outras pessoas, com os outros institutos, departamentos (…). A gente fica menos isolado”. Para a estudante de Cinema Laura Lanziero, o aumento da integração é positivo para os cursos do Instituto: “Cinema tem muito isso, como qualquer curso de comunicação, precisa de contato com as outras pessoas. (…) No Gragoatá a gente tem uma abertura muito maior, a gente conhece muito mais pessoas. E meio que a gente não fica mais nessa dinâmica de ser o excluído do grupo, de estar lá do outro lado enquanto está todo mundo no Gragoatá”. A união aumenta até mesmo entre cursos do IACS: “O pessoal de Estudos de Mídia, eles nunca tinham aula no Casarão. Então, a gente nunca chegou a ter tanto contato com Mídia. Agora é uma coisa que a gente tem” – pontua Roberto.
Há, também, maior proximidade a serviços da UFF, como o Restaurante Universitário, que passa a ser mais acessível aos estudantes do IACS. “[O prédio] tá próximo de todo o resto da UFF. Tá próximo do Bandejão, o que é uma coisa incrível e que o torna muito mais acessível. A gente pode sair da aula, ir jantar e voltar. Era uma coisa que uma aula no Casarão não permitia” – aponta Roberto. A estudante de Cinema destaca o mesmo ponto: “Uma outra coisa que eu acho boa, de estar no Novo IACS, é estar perto da biblioteca. Era complicado vir até o Gragoatá, tanto pra almoçar quanto ir pra biblioteca. Mas agora a gente já tá lá, então já é meio caminho andado”.
A chegada do IACS no Gragoatá também possibilita que seus espaços sejam utilizados para eventos, sejam do próprio Instituto ou não. “As outras unidades também procuram a gente para fazer eventos. A gente teve dois congressos enormes nas férias de agosto, um da Biologia e o outro do ICHF [Instituto de Ciências Humanas e Filosofia]. E deu super certo. Ainda teve um congresso aqui de jornalismo ao mesmo tempo. Então, a gente teve três congressos ao mesmo tempo e foi tudo ótimo. (…) Foi um espaço que eu acho que o campus inteiro ganhou com ele.” – afirma a diretora Flávia.
Outra consequência da abertura do Novo IACS foi a liberação de salas de aula na Unidade Funcional de Administração e Salas de Aula (UFASA) do Bloco A, onde o Instituto, devido à falta de espaço na antiga sede, ocupava 17 salas. “A gente realmente monopolizava o Bloco A e a nossa justificativa era essa. (…) A gente devolveu dois andares inteiros da UFASA. (…) Agora realmente a gente só pretende usar do Bloco A as salas grandes, porque aqui não tem nenhuma sala com 80 lugares, que alguns cursos precisam.” – conta Flávia Clemente.
Para Roberto Malfacini, é necessário que igualmente se observe a questão do Novo IACS de uma forma crítica: “Parece que alguns problemas continuam, já tem sala com goteira”. Ele comenta sobre a dificuldade de chegar até o Instituto, o mais distante da entrada do campus: “Da entrada do Gragoatá até o novo IACS, é um chão! A gente tem que andar muito e não é nada acessível. (…) O caminho até aqui é que dificulta as coisas. A gente tem uma estradinha de pedras, esburacada… e também é longe das lanchonetes”. A dificuldade é compartilhada pela estudante Laura: “o caminho até o Novo IACS é meio tortura psicológica, porque não tem caminho – começa por aí – e tem um monte de mato no meio. E é longe de tudo, apesar de a gente estar inserido no Gragoatá, a gente tá meio que longe de todos os outros prédios”.
O diretor do DACO também pondera sobre os impactos que uma forte chuva causou ao prédio em outubro: “Recentemente, teve uma chuva e aí caíram pedaços do teto, uma porta saiu voando… a gente vê que [o prédio] não tava tão preparado, né? Porque a gente sabe que a crise climática agora é uma realidade. Você pega um campus que é o mais próximo da Baía de Guanabara e você não prepara pra isso? Você não prepara pro tempo ruim?”.
Galeria de Arte do IACS, ao fundo o prédio do Instituto/Foto: Victor Louro
A construção do novo IACS
O plano de expansão do Instituto de Arte e Comunicação Social surgiu em 1985, uma vez que o campus Gragoatá estava sendo criado com o objetivo de reunir todos os cursos da área de Ciências Humanas e Ciências Humanas Aplicadas. A obra teve início somente em 2008, após o projeto ser incluído no Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI). Entre idas e vindas, a construção foi concluída em 2023, com recursos da Prefeitura de Niterói.
A diretora do IACS, Flávia Clemente, afirma que um sentimento comum aos estudantes do Instituto era o sonho em relação à criação do novo prédio, e conta sua experiência pessoal enquanto egressa do curso de Jornalismo: “Quando eu estudei aqui em 1990, eu já ouvia falar do projeto do Novo IACS aqui no campus. (…) A gente ficava pensando: ‘poxa, vai ser ali? Onde é aquele terreno ali?’. Então, durante muito tempo, ele foi um sonho, uma expectativa.”
A construção do novo IACS foi uma necessidade crescente a cada ano, já que o Instituto esteve em um processo de ampliação:
“Quando a gente começou, com 500 alunos, a gente tinha 10% da quantidade de alunos que a gente tem hoje. (…) A gente cresceu antes de ter a estrutura para crescer. E por isso, durante tantos anos, a gente ficou nessa situação muito precária. (…) Porque o Casarão não comporta mais do que 400, 500 alunos. Então, desde que a gente começou a expansão, em 2008, com o REUNI, a gente teve que tomar atitudes de já vir para cá, para o Bloco A. A gente fez estratégias, a gente pedia sala nas outras unidades. (…) Quando a gente começou, funcionava, né? ”
Flávia Clemente, Diretora do IACS
O novo prédio atende a antigas demandas dos estudantes, como conta a diretora do Instituto: “A gente ganhou muitas salas de especificidades que a gente não tinha. O curso de artes sempre se ressentia de não ter uma sala que eles pudessem usar como um ateliê. Agora eles têm a sala de experimentação. Eles não tinham sala de corpo e aqui a sala de corpo é perfeita. Ela foi toda projetada para ser totalmente isolada, com acústica. (…) A própria galeria de arte é um espaço de especificidade também dos cursos que a gente não tinha. (…) A gente tentava improvisar, mas a gente não tinha o que a gente pode ter aqui”.
Para Laura, as mudanças já são perceptíveis: “A Zeca Porto, que é a nossa sala de edição e de montagem, é bem maior. É bem mais organizada. As ilhas [de edição] são divididas. Todo mundo tinha que editar junto, e é horrível porque o som fica misturado. (…) Quando eu entrei lá no estúdio, eu gostei bastante, porque ele é bem grande e bem mais organizado. O nosso estúdio no Casarão era dividido com as coisas de direção de arte. Ficavam guardadas as coisas de direção de arte junto com o estúdio.”
O Casarão, antiga sede do IACS – Foto: Victor Louro
O futuro do IACS
Ainda que todos os cursos de graduação e pós-graduação tenham sidos transferidos para o Gragoatá, o velho Casarão da rua Lara Vilela ainda reserva novidades para o futuro, como revela a professora Flávia Clemente: “O planejamento para 2024 é o Casarão. (…) A gente pretende transformar num espaço cultural, num centro cultural. Além da Interartes que vai ficar lá, que é o nosso auditório, a gente está pensando numa exposição de equipamentos, porque a gente tem muitos equipamentos antigos, filmadora, máquina de fotografia, máquina de datilografia, revelador, ampliador. A gente pretende colocar lá numa exposição permanente. (…) Retomar a midiateca também, colocar alguns computadores lá como terminais de consulta, digitalizar o acervo, porque a gente tem muita coisa, são 55 anos de história. A gente quer que seja um espaço aberto, que não só os alunos frequentem, mas que a gente possa abrir para a comunidade.”
A diretora ainda anuncia os planos da unidade: “Tem professor falando de criar curso. Já ouvi de três departamentos, professores querendo fazer curso de graduação. Um professor já veio conversar comigo também sobre pós-graduação, mestrado profissional, que é um outro formato de pós-graduação. Os nossos professores são animados.”