Por Juliana Guahyba
“É tipo futebol só que com a mão?” – é o que todo atleta de handebol já escutou pelo menos uma vez na vida, explicitando a presença de uma hegemonia do futebol no país que possui inúmeras modalidades deixadas em segundo plano devido à pouca visibilidade que recebem.
Todo mundo sabe que o Brasil é conhecido por ser o país do futebol. Quem, no mundo atual, não sabe quem foi Pelé? E que o Brasil é país com mais títulos de Copa do Mundo, sendo o único a ter sido pentacampeão? A cultura futebolística brasileira é intensa, está presente em todo o território e atravessa todas as classes, enquanto existem outros esportes desvalorizados, apesar de muito praticados ao redor do território.
“Não existe nenhum país que tenha o pouco que a gente tem”, confessou o atual técnico da seleção brasileira masculina de handebol de praia e educador físico Antônio Guerra Peixe. Guerra, pentacampeão mundial com o Brasil, ex-técnico da seleção do Irã e participou da criação do Circuito Nacional de Handebol de Praia, fala sobre os recursos da modalidade no país.
Em termos de paixão e dedicação dos atletas, gestores e comissões técnicas, o Brasil transborda. Porém, falando da estrutura oferecida aos praticantes, ainda é amador. Chega a ser difícil a tarefa de comparar as condições de um clube de futebol profissional com um as condições de um clube de handebol de praia, que, em sua maioria, os atletas precisam tirar dinheiro do próprio bolso para pagar passagens aéreas ou de ônibus, alimentação e estadia durante as competições, enquanto o salário de um jogador de futebol da série A pode chegar a 1 milhão de reais. Hoje, existe a Confederação Brasileira de Handebol, que consegue oferecer melhores recursos para as seleções e luta pelo crescimento, tanto do handebol de quadra quanto do de praia, em busca de patrocínios, investimento e de mais visibilidade para os dois esportes. Contudo, a confederação sofre as consequências financeiras até hoje de uma multa da IHF – International Handball Federation – ocasionada pelo cancelamento súbito da participação da seleção brasileira sub18 para o campeonato mundial de handebol de praia da juventude, em 2017.
No mundo contemporâneo, onde tudo é midiático, o esporte que não possui uma boa campanha de mídia, fica para trás. O futebol é transmitido por canais de televisão aberta, rádio, plataformas de streaming e todos os meios de comunicação que existem, ao mesmo tempo que outros esportes tem, como única opção, transmissões amadoras no YouTube e Instagram. “Transmissão é comunicação, e comunicação é tudo na vida, não se faz mais nada sem comunicação hoje em dia”, comentou Guerra sobre a importância da transmissão dos campeonatos. Além de facilitar o acesso da população aos esportes, é por meio delas que é possível fazer com que as modalidades menos valorizadas cresçam. Quanto melhor a qualidade e quanto mais acessos possuir, mais chances de um patrocinador escolhê-las para investir, ou seja, é um meio de extrema importância tanto para a proliferação dos esportes quanto para a possibilidade de incentivo financeiro.
Por fim, é importante se perguntar o que pode ser feito a favor da melhora das condições de modalidades como o handebol de praia no Brasil. Em uma análise feita pelo professor Guerra Peixe, em primeiro lugar, é preciso que todos os envolvidos no esporte entendam a modalidade como um produto legal e compreendam que o comportamento em quadra influencia no consumo dos telespectadores durante a transmissão ao vivo dos jogos. Outro aspecto que irá colaborar com o crescimento do esporte é a realização de projetos de iniciação nas cidades brasileiras e o terceiro item, que está diretamente relacionado à esses projetos, seria a inclusão desses esportes no planejamento dos jogos escolares e universitários.
Talentos escondidos e força de vontade não falta nos brasileiros. Então, a esperança é que o Brasil não seja conhecido por ser só o país do futebol, mas também o país do handebol de praia, o país do rugby, o país dos esportes e se torne uma grande potência esportiva, porque o que o esporte pode fazer por um indivíduo e pela sociedade, nenhuma revolução fará.