Mesmo com iniciativas municipais, pessoas desabrigadas são uma realidade na região
Por Djeniffer Larcher
São 9 da manhã quando uma família chega à Avenida Amaral Peixoto, no centro de Niterói, com caixas com seus pertences. Eles procuram um lugar vazio e armam uma barraca. Após algumas horas, uma equipe com uniforme municipal aparece, juntamente com um caminhão da Clin. Alguém havia denunciado a “algazarra”, a família se recusa a ir para um abrigo e o clima fica cada vez mais intenso. A discussão acaba e a família permanece no local, porém sem sua barraca, papelões e grande parte de seus objetos pessoais. Essa cena se repete diariamente pelas ruas de Niterói. Não há nada mais comum que a presença de pessoas em situação de rua no centro da cidade.
Foto 1: Assistentes sociais e caminhão da Clin. Reprodução: Prefeitura de Niterói.
Ao questionar sobre a existência de ONGs ou projetos da prefeitura direcionados à população de rua todos os entrevistados responderam desconhecer qualquer iniciativa, apesar de acreditarem que a responsabilidade é do serviço municipal.
Questões sociais como essa são extremamente complexas e possuem diversas variáveis. A falta de informação é o maior dos obstáculos nas tentativas de auxílio da população em situação de rua. Grande parte dessas pessoas não aceitam ir para os abrigos ou frequentar o Centro pop (local de referência no auxílio a pessoas em situação de rua, administrado pela prefeitura) por medo ou desconhecimento.
A coordenadoria do Centro Pop, Centro de Referência Especializado para a População de rua, informou que cerca de 140 pessoas são atendidas pelo local todos os dias e elas recebem 3 refeições. Além de locais para a higiene pessoal, é possível solicitar consultas com assistentes sociais e/ou psicólogos, solicitar o ingresso em um dos quatro abrigos da cidade, participar de oficinas e pedir recâmbio para sua cidade ou país de origem. Além disso, é possível solicitar documentos que foram perdidos.
Foto2: Assistentes sociais atendendo pessoa em situação de rua. Reprodução: Prefeitura de Niterói.
Entretanto, outra questão a ser levantada é a dificuldade de acessar o serviço. Welingsson nos contou que está há mais de um ano esperando o recâmbio para sua cidade natal. Ele conta que no Centro pop são distribuídas apenas 70 unidades de cada refeição, e as vezes não atende a todos.
Sheila dos Santos, funcionária de uma banca de jornal da avenida Amaral Peixoto acredita que o motivo pelo qual as pessoas estão nas ruas é a falta de emprego e o abuso de substâncias. Embora os motivos sejam diversos nem sempre essas pessoas estão dispostas a falar sobre seus motivos.
Rose e Sebastião Fernandes afirmam que estão na rua pela liberdade. No entanto, contam que queriam ter uma moradia, mas que recusam o abrigo oferecido pela prefeitura. Sebastião está na rua há mais de 6 anos. Ele frisa a questão da segurança. “Não tem vantagem e segurança também não tem, mas não acho ruim não”.
São muitas as suposições e deduções feitas em relação as pessoas que não possuem moradia e muitas não se sentem seguras em falar sobre seus motivos ou sua vida pessoal por estarem vulneráveis e não saberem a intenção das pessoas que os abordam. Os moradores de rua sofrem diversas violências diariamente: são expulsos da frente dos comércios, ouvem insultos e xingamentos ou têm seus pertences confiscados sem quaisquer explicações dos órgãos deveriam ser responsáveis por protegê-los.