Alô, Gragoatá!

Moradores de Niterói sofrem com trânsito intenso na vida cotidiana

Um olhar aprofundado sobre as experiências da população ao se locomover pela Cidade Sorriso

Por Lívia Galvão

Rua com carros e prédios ao fundo

Descrição gerada automaticamente

Reprodução: Arquivo

O constante congestionamento de veículos em Niterói é uma realidade de muito debate entre os moradores e trabalhadores da cidade. Segundo a pesquisa realizada entre 16 e 20 de outubro de 2024 pelo Alô Gragoatá, 95,7% dos entrevistados frequentam congestionamentos em suas rotinas, especialmente em horários de pico, nos principais bairros do município. A busca por soluções mostra-se urgente, enquanto moradores se adaptam da melhor maneira possível para lidar com os atrasos e o estresse diário. Niterói é a terceira maior cidade do estado do Rio de Janeiro. Com mais de 500 mil habitantes, a cidade fluminense está classificada entre as melhores qualidades de vida do país. No entanto, devido à frota crescente de veículos, sofre com congestionamentos frequentes. 

A proximidade com o Rio de Janeiro, por meio da ponte Rio-Niterói, também contribui para o fluxo intenso de veículos, especialmente nas vias mais próximas ao centro da cidade, como as avenidas Marquês do Paraná e Roberto Silveira. Além disso, o município recebe diariamente muitos trabalhadores, estudantes e turistas de cidades vizinhas, o que intensifica a rotação de veículos nas ruas. 

A pesquisa realizada pelo Alô, Gragoatá! revela a maior concentração de trânsito nos bairros de Icaraí, Centro, Ingá e Santa Rosa, em ordem de mais urgência populacional. Como toda cidade, Niterói também possui horários de maior congestionamento nas vias. Entretanto, os moradores relatam estar enfrentando dificuldades mesmo fora desses horários. Na pesquisa realizada, os horários mais intensos são entre as 6 às 9 horas e entre as 18 às 22 horas. Estes horários certamente não expressam surpresa, visto que configuram períodos de intenso deslocamento para o trabalho e de retorno à casa. Ainda assim, o tempo de deslocamento é um entrave grave na cidade. 

De acordo com a pesquisa realizada, cerca de 78% dos entrevistados levam mais de 30 minutos para chegar ao local desejado diariamente. O trajeto de ida e volta pode acumular mais de 3 horas de transporte, o que configura uma situação de extrema urgência na mobilidade urbana do município fluminense. Ademais, o tempo gasto no trânsito caracteriza um dos maiores causadores de estresse. Cerca de 37% dos entrevistados relatam não se sentir seguros ao dirigir na cidade, visto o trânsito caótico, que pode afetar a saúde mental e levar a momentos de grande tensão e frustração. Como os longos períodos de congestionamento se tornaram um obstáculo quase inevitável na antiga capital fluminense, muitos precisam ajustar suas rotinas quase diariamente para lidar com a situação. Mais de 90% dos entrevistados revelam já ter alterado a rotina mais de uma vez devido a dificuldade de mobilidade na cidade. 

A percepção dos moradores sobre a mobilidade urbana do município de Niterói 

Certamente, para aqueles que convivem diretamente no trânsito urbano, a percepção da eficiência do trabalho realizado pela prefeitura é bastante impactante. Nossa pesquisa revela que 50% das pessoas acreditam que os congestionamentos na cidade pioraram bastante. As principais queixas reclamam principalmente da qualidade das vias, dos congestionamentos fora do horário de pico e da falta de ciclovias pela cidade. “O maior problema que enfrento não é a sinalização, que é muito bem-feita, tanto semafórica quanto com as placas, mas sim o fato de que muitas ruas da cidade são extremamente estreitas. Esse problema também se reflete nas cidades vizinhas. O número de veículos circulando vem crescendo a cada dia e nossa malha viária não está preparada para comportar esse fluxo”, comentou um motorista de Uber que costuma fazer o trajeto Niterói-São Gonçalo. 

A superlotação das vias agrava-se cada vez mais no município. No cenário atual, a situação do transporte público é urgente. A espera por ônibus e vans pode ultrapassar os 30 minutos e, como muitas pessoas optam por carros particulares e de aplicativos, o número de veículos nas ruas também aumenta. Em entrevista com a população, a falta de integração entre diferentes modais também foi mencionada. Em cidades vizinhas, como a capital do Rio de Janeiro, o uso de metrôs, trens e ônibus conectados permite maior fluidez no deslocamento. Em Niterói, por outro lado, a integração mostra-se escassa, o que limita os moradores exclusivamente a ônibus e a carros. 

Por que o trânsito de Niterói é tão intenso?

A experiência dos frequentadores de Niterói no trânsito é marcada por um cenário de congestionamentos diários, longas horas de espera e uma tentativa de adaptação. Entretanto, o problema não se limita apenas ao excesso de veículos, mas também à grande falta de educação no trânsito e à falta de medidas alternativas viáveis à população. Apesar da criação recente das NitBike, grande parte da cidade, principalmente fora do centro, não possui ciclovia. A pesquisa realizada indica que apenas 11% dos entrevistados usam bicicletas, sejam próprias ou da prefeitura, no dia a dia. 

Segundo entrevistas recentes à prefeitura, há planos de extensão das ciclovias nos próximos anos, mas os moradores ainda não sentem esse impacto. Ademais, cerca de 16% dos entrevistados relataram que apenas usariam a bicicleta como meio de transporte diário caso houvesse uma rede mais extensa de ciclovias que conectasse bairros residenciais a áreas centrais. 

Além dos pontos já citados, uma das críticas mais comuns em debates sobre a mobilidade urbana em Niterói é o constante conflito com motociclistas e a falta de faixas exclusivas para motocicletas, a chamada faixa azul, na cidade. Cerca de 45% dos entrevistados comentaram sobre a dificuldade em transitar pelo município com tantas motocicletas entre os carros e o crescente desrespeito no trânsito pelos motociclistas. As soluções mais citadas entre os entrevistados para esse entrave seriam melhorias na infraestrutura viária, maior rigidez com as leis de trânsito e a implementação da faixa azul nas principais ruas da cidade. 

Quais são os principais impactos na população além de atrasos e estresse? 

O congestionamento diário durante a locomoção não afeta apenas o indivíduo, mas também suas relações pessoais. Algumas famílias entrevistadas relataram que o tempo perdido no trânsito desgasta a relação familiar e reduz o tempo de convivência em casa. “É uma situação muito triste, sinceramente. Saio de casa às 6 horas, antes dos meus filhos e esposa acordarem. Quando chego em casa, eles estão indo dormir ou já estão dormindo. Gostaria de poder passar mais tempo com a minha família”, relata um morador que preferiu não se identificar, do Jardim Icaraí, que trabalha na Tijuca, Rio de Janeiro. 

Outro ponto importante a ser levantado é como o trânsito impacta na produtividade dos trabalhadores. Além da rotina intensa de trabalho, as pessoas ainda têm de passar por longas horas de congestionamento ao voltar para casa. “Muitas vezes, chego em casa exausto apenas pensando em descansar. Gostaria de poder realizar alguma atividade física, ler um livro ou até estudar sobre temas que gosto, mas a rotina é muito pesada. A mente fica sobrecarregada e o corpo sem forças”, conta um morador de Santa Rosa, que trabalha no Centro, Rio de Janeiro, e que também preferiu não se identificar.

Quais seriam as soluções viáveis para resolver o trânsito em Niterói? 

Diante dos desafios crescentes enfrentados pelos moradores de Niterói, no que se refere à mobilidade urbana, especialistas, autoridades locais e a população em geral buscam soluções que possam aliviar o trânsito e melhorar a qualidade de vida na cidade. Uma das propostas mais discutidas entre a população para aliviar o trânsito na cidade é o fortalecimento do transporte público. A pesquisa revela que 45% das pessoas utilizam o transporte público para se locomover no dia a dia. A maioria dos entrevistados concorda que, para reduzir a dependência dos carros particulares, é necessário oferecer um sistema de transporte público de qualidade, que seja rápido, eficiente, seguro e confiável. 

Diante do entrave, a prefeitura de Niterói, em parceria com o Governo Federal, revelou em julho deste ano que planeja a modernização da frota de ônibus, com a inclusão de ônibus elétricos e menos poluentes nos próximos anos. Segundo a Secretaria Municipal de Transportes, esse projeto busca não apenas reduzir o impacto ambiental, mas também melhorar a experiência dos passageiros, com veículos mais confortáveis e tecnologicamente avançados.

Como citado anteriormente, a expansão das ciclovias é uma das maiores demandas da população local. A cidade possui um potencial significativo para aumentar o uso de bicicletas, pois é predominantemente plana, principalmente após a implantação da NitBike. Entretanto, a infraestrutura atual ainda é limitada. A necessidade de aumento na fiscalização nas vias também é uma demanda recorrente entre o povo. Além de um asfalto bem conservado e uma sinalização adequada, mostra-se necessário uma maior fiscalização das leis de trânsito na cidade, em prol de garantir uma maior segurança à população. “Uma possível solução para o problema do trânsito em Niterói seria a ampliação e reestruturação das vias em áreas mais críticas, com foco em adaptar as ruas para comportar o crescente fluxo de veículos. 

Além disso, incentivar o uso de transportes públicos eficientes e alternativos, como ciclovias seguras e transporte coletivo de qualidade, poderia ajudar a reduzir o número de carros em circulação. Outra medida seria implementar horários escalonados para escolas e empresas, para evitar a concentração de veículos nos horários de pico, o que aliviaria os congestionamentos ao longo do dia”, opina o motorista de ônibus da via Niterói – São Gonçalo. 

Reprodução: Freepik

A mobilidade urbana em Niterói é um desafio complexo que requer a colaboração de diversos atores: cidadãos, especialistas, autoridades públicas e organizações não governamentais. A transformação da mobilidade urbana não se dá apenas por meio de melhorias na infraestrutura, mas também pela construção de uma cultura de colaboração e responsabilidade compartilhada. A participação ativa da população nas decisões e ações relacionadas à mobilidade gera impactos positivos e duradouros. Apesar das promessas feitas, a dificuldade de transporte em Niterói ainda é presente, e a população busca uma resposta. 

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